Sete candidatos à Presidência da República participaram de debate na TV Aparecida, na noite desta quinta-feira (20). O encontro teve início por volta das 21h30min e foi mediado pela jornalista Joyce Ribeiro. Estiveram presentes no estúdio Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB). Jair Bolsonaro (PSL), que está hospitalizado após ser esfaqueado, e Cabo Daciolo (Patriota) não compareceram.
Esse foi o primeiro debate na TV em que Haddad apareceu como candidato do PT ao comando do Planalto. O nome dele como número um da chapa no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa — foi confirmado na semana passada.
Os presidenciáveis prometeram combater a corrupção no país no primeiro bloco, em resposta formulada pelo arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, que desafiou os candidatos a apresentarem propostas para o combate a desvios da função pública no Brasil.
Haddad cumprimentou o ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril, e defendeu fortalecer as instituições "doa a quem doer". Para isso, ele disse ser necessário "individualizar aqueles que cometeram ilícitos e punir exemplarmente".
Ciro disse que ele próprio é um exemplo de honestidade ao completar 39 anos de vida pública "sem responder por nenhum mal feito nem sequer para ser absolvido".
Alckmin defendeu uma reforma política que diminua o número de partidos políticos no Brasil. — Quem enriquece na política é ladrão — disse o tucano, soletrando a palavra "ladrão".
Marina disse que a corrupção é "inaceitável" e citou Jesus Cristo ao afirmar que ele ficou "indignado" ao entrar em um templo e se deparar com a deturpação de símbolos religiosos.
Alvaro Dias classificou o combate à corrupção como a prioridade no país. O candidato disse que o "Brasil não pode ser comandando por organizações criminosas". Ele reforçou que é preciso fortalecer Polícia Federal, Ministério Público e o Judiciário eliminando o foro privilegiado.
Boulos, também citando o Papa Francisco, aproveitou o momento para se apresentar como defensor dos "excluídos". Ele disse que o Brasil vive uma crise de destino. Ele defendeu uma reforma política no Brasil para enfrentar o "sequestro do poder público pelos interesses privados".
Segundo bloco
Haddad virou o principal alvo de Alckmin e Meirelles no segundo bloco do debate. O candidato do PT vinculou Alckmin a Temer ao criticar a reforma trabalhista e o teto de gastos. O tucano, por sua vez, se posicionou favorável às mudanças trabalhistas e disse que quem escolheu Temer como vice foi o PT.
O petista usou uma entrevista dada pelo ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati dizendo que o ex-dirigente tucano reconheceu que o partido "sabotou" o governo Dilma. Alckmin declarou que Haddad estava "desvirtuando" as declarações.
Henrique Meirelles citou Lula ao lembrar que foi escolhido por ele para presidir o Banco Central e disse que o governo Dilma Rousseff havia feito a confiança dos brasileiros cair. Haddad rebateu afirmando que Meirelles talvez "tenha recuperado a confiança dos banqueiros da Faria Lima. Porque do povo esse governo não recuperou a confiança". Meirelles afirmou que o petista "não entendia" que confiança é necessária para investimentos.
Ciro e Marina
Como em debates anteriores, fizeram uma dobradinha para defender um novo modelo de atendimento na rede pública de Saúde e financiamento para distribuição de medicamentos de alto custo. Ciro Gomes chamou Marina de "estimável amiga" e elogiou o candidato a vice da presidenciável, Eduardo Jorge (PV).
Boulos e Alvaro Dias
Os candidatos usaram o bloco para prometer acabar com o chamado "toma lá, dá cá" em Brasília e pôr fim ao sistema "corrupto" do país.
Terceiro bloco
O terceiro bloco foi focado nas temáticas envolvendo imigração, emprego e reforma política. Novamente, o PT virou alvo do candidato do MDB, Henrique Meirelles. Para ele, o quadro de desemprego no país foi resultado de uma série de "equívocos" do governo Dilma Rousseff e do PT. Ele repetiu sua promessa de criar 10 milhões de novos empregos em quatro anos e retomar obras paralisadas.
Respondendo a uma pergunta sobre migração, Fernando Haddad prometeu ampliar para todo o território nacional leis que regulamentem o acolhimento de imigrantes. — Os países que optarem por violência colheram violência — disse, defendendo que o Brasil precisava escolher a "paz".
Ciro Gomes teceu elogios para Guilherme Boulos. Ao falar sobre urbanização, o pedetista disse que o adversário é "especialista" no assunto e está correto ao avaliar que há mais imóveis vazios nas cidades do que pessoas que precisam de uma moradia.
Geraldo Alckmin defendeu uma reforma política com voto distrital misto e facultativo. O tucano prometeu promover as reformas política, tributária, previdenciária e de Estado logo no começo de um eventual governo.
Sendo questionado sobre segurança pública, Alvaro Dias defendeu investimento no monitoramento de fronteiras e atacou o governo Michel Temer por dizer que "não tem dinheiro para nada" na segurança pública.
No mesmo bloco, Marina Silva prometeu punir o feminicídio e fiscalização do Ministério do Trabalho contra salários desiguais entre mulheres e homens. A presidenciável também assumiu o compromisso de abrir 2 milhões de novas vagas em creches para que mães possam trabalhar.
Boulos, por sua vez, disse que é preciso cassar o registro de empresas que usam trabalho infantil e revogar, através de consulta popular, a reforma trabalhista feita pelo governo Michel Temer.
Quarto bloco
O quarto bloco foi marcado por temas tributários. Henrique Meirelles e Marina Silva criticaram a proposta do assessor econômico de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, de criar um imposto semelhante à extinta CPMF.
O que parecia o início de outra dobradinha sobre reforma tributária, entre Ciro Gomes e Fernando Haddad,tornou-se espaço para uma "pinicadinha" de Ciro no petista, conforme o candidato do PDT se referiu. Haddad defendeu estabelecer um Imposto de Valor Agregado (IVA) para permitir que consumidores paguem menos impostos e cobrar alíquotas de lucros, dividendos e heranças.
Ciro questionou por que o povo deveria acreditar na proposta, visto que o PT esteve no poder durante 14 anos. Haddad disse que o pedetista estava "esquecendo" do controle da despesa do governo ao falar de ajuste tributário.
Quando perguntou para Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin prometeu tributar dividendos e reduzir impostos e disse ainda que o governo do presidente Michel Temer, do qual Meirelles foi ministro, "fracassou absolutamente" no investimento em educação e que quem assumir a Presidência no próximo ano terá dificuldades. — O que o candidato evitou é a questão das reformas — pontuou o emedebista.
Depois de ser elogiado por Ciro no bloco anterior, Guilherme Boulos afirmou que, além de algumas convergências, tinha diferenças com o pedetista porque defende a chamada "democratização" dos meios de comunicação enquanto Ciro afirma que o controle pode ser feito pelo "controle remoto".
O presidenciável do PDT justificou sua defesa ao falar que a questão é "pragmática" e que não há capital político para aprovar uma regulamentação da mídia no Congresso Nacional.
Último bloco
Em suas considerações finais, Geraldo Alckmin chamou o eleitor para fazer uma "conciliação" nacional contra as candidaturas de Bolsonaro e Haddad. — De um lado, o PT querendo voltar depois de ter levado o país à maior recessão econômica das últimas décadas, de outro lado os que têm medo da volta do PT estão indo para uma aventura de autoritarismo e intolerância — disse o tucano.
Apostando na mesma tese, Ciro Gomes disse que a radicalização está "infernizando" o país. — Esse extremismo, essa radicalização que nós vimos acontecer em alguns momentos mais ásperos desse debate, estão infernizando o Brasil desde 2014 — disse o pedetista, afirmando que deseja ser aquele que reunirá os brasileiros de todas as crenças.
A candidata Marina Silva afirmou que o país está "entre a cruz e a espada" ao ter de escolher entre uma candidatura com saudade da ditadura militar e aqueles "incapazes de fazer uma autocrítica", fazendo uma referência indireta ao PSL e ao PT. — Agora é hora de ficarem quatro anos no banco de reserva — emendou, citando PT, MDB e PSDB.
Alvaro Dias criticou a extrema direita e a extrema esquerda. O candidato afirmou que o confronto entre os dois campos levou o Brasil à intolerância e à ausência de solução para problemas graves. — Não é alimentando os extremos que superaremos as dificuldades — falou.
Henrique Meirelles também disse que a eleição está passando por um momento de polarização entre extremos. — Um extremo, governando o Brasil, vai trazer de volta a recessão, aumentar o desemprego e criar mais crise — afirmou, acrescentando que é preciso eleger um candidato do centro democrático.
O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, pediu que o eleitor vote no primeiro turno da disputa em quem acredita. — Algumas pessoas estão pensando em votar com ódio ou com medo, primeiro turno é momento de se votar no projeto que acredita — declarou, dizendo que seu projeto é "contra o sistema" e em defesa do direito das mulheres e do trabalhador.
Ao encerrar sua primeira participação em um debate de TV nesta eleição, Fernando Haddad usou o tempo das considerações finais para citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lembrar que ficou por seis anos nos governos do petista. — Deus deu o talento para todos, cabe ao Estado garantir oportunidade para que esse talento se revele — declarou Haddad, dizendo ainda que o povo voltara a "comer" se ele for eleito.