Um material que circula no WhatsApp e nas redes sociais com críticas aos professores da rede pública atribuídas ao candidato à Presidência João Amoêdo (Novo) é enganoso. Na realidade, o autor do artigo é André Capella, filiado ao mesmo partido. Essa informação foi omitida no viral.
No texto "Como ter um ensino básico de qualidade no Brasil?", Capella diz que "a educação pública básica brasileira encontra-se em situação de falência em decorrência de um sistema de ensino que oferece muitos direitos aos professores em detrimento do direito de aprender do aluno". O autor também critica a estabilidade de emprego dos professores da rede pública.
Capella vale-se dessa argumentação para propor a transferência gradativa dos alunos para a rede privada. "Neste caso, as secretarias de Educação ofereceriam aos pais desses alunos um voucher (vale) educacional que lhes daria a opção de escolher uma escola particular para matricular seu filho", diz.
Procuradas pelo Comprova, as assessorias de imprensa de Amoêdo e do Novo enviaram afirmaram que as críticas aos professores não representam a opinião do candidato e do partido. "Este foi um texto escrito por um voluntário do Novo e publicado no blog do partido, tal como diversos outros textos de opiniões pessoais, com um aviso que deixava claro que esta era a opinião pessoal e não representava as ideias do Novo. Para evitar novos desentendimentos já foi retirado do ar". Por meio de programas que buscam, conteúdos removidos da internet, o Comprova localizou o post original do artigo.
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do candidato, Amoêdo repudia os comentários de Capella. A assessoria do Novo também confirmou que o artigo foi escrito por Capella e publicado em 2017. Filiado ao partido, o autor mas não tem cargo na legenda nem participa do programa de governo do presidenciável.
No programa de governo de Amoêdo, está a proposta de dar bolsas em escolas particulares para alunos do ensino público. Porém, o Novo afirma que as críticas de Capella aos professores não serviram para que o partido a adotasse. "É uma teoria amplamente discutida entre especialistas e já aplicada em países como Chile e alguns Estados americanos", informou a assessoria.
O material enganoso foi encaminhado ao WhatsApp do projeto Comprova — (11) 97795.0022. A publicação também foi localizada no Facebook, como na página "Verdade sem manipulação".
Na página, capturas de tela de trechos do texto estão acompanhadas de uma foto de Amoêdo. Seguida do texto "Todos os professores do Brasil precisam saber o que o plano de governo do Amoedo diz sobre eles!", a postagem soma mais de 15 mil compartilhamentos e não menciona o verdadeiro autor do texto.
A página "Jovens reacionários defensores da liberdade combatendo o mal" também divulgou capturas de telas do texto, acompanhadas de um link para um tuíte de Amoêdo defendendo a proposta de vouchers e de uma página com a íntegra do texto e a assinatura de Capella. A publicação tem mais de 10 mil compartilhamentos.
Enganoso
O texto é de André Capella, filiado ao Novo. Amoêdo afirma que as críticas não representam a sua opinião sobre os professores.
Projeto Comprova
Este texto foi originalmente publicado no site do Projeto Comprova. A evidência foi checada pelos veículos parceiros Folha de S.Paulo, O Povo e UOL.
O Comprova é um projeto que reúne jornalistas de 24 diferentes veículos de comunicação brasileiros, incluindo GaúchaZH, para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas durante a campanha presidencial de 2018.