Na quarta-feira (29), uma série de postagens circulou nas redes sociais relacionando o livro Aparelho Sexual e Cia ao chamado "kit gay" — conteúdo de combate à homofobia para ser divulgado nas escolas públicas brasileiras. O livro, porém, nunca fez parte de nenhum "kit gay", nem foi comprado pelo Ministério da Educação (MEC) para ser distribuído em escolas públicas.
A relação foi impulsionada pela entrevista do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) ao Jornal Nacional na noite de terça-feira (28).
A publicação apresentada pelo candidato se trata da tradução do livro francês Aparelho Sexual e Cia, lançado no Brasil em 2007 pelo selo juvenil da Companhia das Letras. A obra utiliza o protagonista da série em quadrinhos suíça Titeuf e seu conteúdo destina-se à orientação sexual para crianças e adolescentes.
A assessoria de imprensa da editora confirmou que o livro se trata do exemplar mostrado por Bolsonaro no dia da entrevista em uma publicação no Facebook. No vídeo, o candidato afirmou que a publicação é ensinada nas escolas.
De acordo com a assessoria de imprensa da Companhia das Letras, o livro "nunca foi comprado pelo MEC, tampouco fez parte de nenhum suposto 'kit gay'". Segundo a editora, "o Ministério da Cultura comprou 28 exemplares em 2011, destinados a bibliotecas públicas".
A Companhia das Letras também afirmou que o livro "conta com uma seção chamada 'Fique esperto', que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia, incesto e fornece o contato do disque-denúncia nacional de combate ao abuso e à exploração sexual contra crianças e adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos". A indicação do livro era para os anos 6º, 7º, 8º e 9º do ensino fundamental — ou seja, para alunos entre 11 e 15 anos.
Publicada em 10 línguas, a obra e vendeu mais de 1,5 milhões de exemplares e se transformou em uma exposição apresentada duas vezes na Cité des Sciences et de l’Industrie, em Paris.
A informação de que o livro seria distribuído em escolas públicas começou a ser difundida por Bolsonaro em 10 de janeiro de 2016 em um vídeo no Facebook. Dois dias depois, o MEC emitiu um comunicado afirmando que "não produziu nem adquiriu ou distribuiu o livro Aparelho Sexual e Cia". A instituição também declarou que "não há qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco consta nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta".
No Twitter, o Movimento Brasil Livre (MBL) publicou a informação falsa de que Bolsonaro mostrou o "kit gay" na entrevista à Rede Globo. Outros usuários também disseminaram que crianças recebem a obra nas escolas.
O Comprova não verificou se o livro foi distribuído em escolas particulares ou por secretarias estaduais de Educação.
Falso
O MEC e a editora brasileira afirmam que o livro nunca foi comprado pelo ministério. A Companhia das Letras diz que tampouco fez parte de um suposto kit gay.
Projeto Comprova
Este texto foi originalmente publicado no site do Projeto Comprova. A evidência foi checada por GaúchaZH e pelos veículos parceiros AFP e Nova Escola.
O Comprova é um projeto que reúne jornalistas de 24 diferentes veículos de comunicação brasileiros, incluindo GaúchaZH, para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas durante a campanha presidencial de 2018.