Com dezenas de bloqueios em rodovias de todo o Estado, a situação mais crítica é a da BR-470, entre Bento Gonçalves e Veranópolis. Uma série de deslizamentos causou danos graves em diversos pontos da estrada, impossibilitando a trafegabilidade e exigindo obras de alto nível de complexidade para que o trânsito possa ser retomado. A rodovia federal é a principal rota de acesso e saída da região. Na quarta-feira (15), o ministro dos Transportes, Renan Filho, vistoriou a BR-470 para entender o tamanho dos estragos e determinar um cronograma de trabalho para recuperar o trajeto.
Segundo a prefeitura de Bento Gonçalves, são mais de 200 pontos com deslizamentos de terra na cidade e municípios próximos. Além disso, os bombeiros monitoram diversas fissuras no solo. A reportagem do Pioneiro, que percorreu parte acessível da rodovia, observou árvores com mais de dois metros de altura caídas na rodovia e restos de terra, rochas e pedras que atingiram e bloquearam praticamente toda a rodovia naquele trecho. Mas as perdas não foram somente estruturais: sete pessoas morreram após deslizamentos de terra que atingiram casas na região e estabelecimentos comerciais próximos à Ponte Ernesto Dornelles.
Até o momento, a boa notícia é que o ministro garantiu recursos para a reconstrução da BR-470. A informação é do deputado estadual Guilherme Pasin, que acompanhou a visita de Renan Filho, junto com o prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira. Mesmo assim, segundo Pasin, a previsão para entregar as obras na rodovia, com toda a sua capacidade, é superior a um ano.
— Ele (ministro) confirmou a reconstrução principalmente nos pontos onde não tem mais rodovia. Mas ele entende um modelo construtivo diferente naqueles pontos e pediu estudos, pediu estudos para tudo, para aumento de capacidade, modernização e qualificação da rodovia. A gente sabe que o tempo de entrega da obra não é curto, a gente está falando mais de ano. Mas se espera, e ele fala muito de buscar no menor tempo possível, devolver o trânsito de veículos menores, enquanto a conclusão não fica pronta nesses trechos mais críticos. Estamos negociando um paralelo via Cotiporã, enquanto a obra não conclui — enfatizou o deputado.
União de esforços
Em vídeos publicados nas redes sociais, o chefe da pasta dos Transportes garantiu que "não vamos ter falta de acesso à cidade em rodovia federal", e reforçou o comprometimento do governo federal em criar condições para isso. Em uma área com terra e destroços de um deslizamento, Renan Filho afirmou que será necessário "retirar esse material, compactar, derrubar pedra, depois alinhar" para fazer a reconstrução da BR-470.
— Essa reconstrução vai precisar do apoio de todos. Estamos trabalhando duro aqui na reconstrução da BR-470, pra liberar o acesso aqui da subida da serra de Bento Gonçalves. É uma região muito visitada por todos, e uma das regiões mais fortes no turismo no Brasil inteiro. Então, isso intensifica ainda mais essa catástrofe. Intensifica a importância das estradas. E queria dizer ao governador do Estado, Eduardo Leite, que estou integralmente à disposição pra gente trabalhar juntos — enfatizou o ministro dos Transportes.
Há uma estimativa do Dnit de que a obra possa custar cerca de R$ 500 milhões. Segundo Renan Filho, o Estado já tinha R$ 1,7 bilhão disponível em recursos federais para obras em estradas. Outro R$ 1,18 bilhão foi liberado para o Ministério dos Transportes usar em recuperação e restauração de rodovias. O valor foi liberado a partir de medida provisória, publicada no último sábado (11) — o texto, assinado pelo presidente Lula, libera um total de R$ 12,2 bilhões para ações emergenciais no Rio Grande do Sul.
Solução será viadutos
Entre dois e três quilômetros de estradas foram levados pelo deslizamento, segundo a projeção do prefeito de Veranópolis, Waldemar De Carli. Ele ainda prevê, segundo informações que obteve com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que serão necessários pelos menos 16 viadutos para restabelecer o fluxo na sua integralidade.
— O Dnit está trabalhando e vai reconstruir a estrada. Eles estão fazendo uma projeção do que vão fazer, mas não têm projeção de tempo. Certamente, aqueles trechos em que o deslizamento levou o asfalto, nos cotovelos da rodovia, vão ser restabelecidos através de viadutos. Eles calculam em torno de 16, 17 viadutos. Afora, obviamente, as contenções que vão ser necessárias nesses locais onde aconteceram os deslizamentos. Então, o que nós temos de objetivo é que o dinheiro existe, e agora entra na fase de projetos e depois na fase de construção. A boa notícia, dentro desse quadro muito triste, é que eles vão reconstituir a 470 — afirmou o prefeito em entrevista à RBS TV.
De Carli não conseguiu encontrar-se com o ministro Renan Filho na quarta-feira devido à falta de acessos, já que Veranópolis, neste momento, está praticamente ilhada, somente com acessos secundários e precários. Além dos bloqueios na BR-470, a ponte que liga Cotiporã a Bento Gonçalves pela RS-431 teve 70% da estrutura levada pela força do Rio das Antas, segundo projeção da prefeitura cotiporanense. Entretanto, nesta quinta-feira (16), o prefeito teve reunião com empresários e o superintendente regional do Dnit de Passo Fundo, Adalberto Jurach, para entender a situação da rodovia federal.
— É uma obra complexa. Os projetos vão ser feitos pelo Dnit. Eles já têm duas empresas. Uma delas está fazendo a parte de topografia de toda a Serra, através de drones. E já existe um esboço dos projetos que estão sendo realizados por uma empresa especializada nesse tipo de construção — detalha o prefeito de Veranópolis, que tem dificuldade em mensurar os impactos que a falta de acessos causa ao município:
— Os impactos são enormes. Nós fizemos um levantamento nas grandes empresas do município, todas elas estão trabalhando normalmente, porque a entrega, a derivação dos produtos deles geralmente é Paraná, São Paulo. Mas certamente as empresas menores, o comércio, vão ser muito afetados, sem dúvida nenhuma. Essa é a nossa grande preocupação. Mas, no momento, sem condições de mensurar tudo isso.