Frequentemente submersa pelas cheias do Rio das Antas, a ponte de Cotiporã não resistiu a mais uma série de dias ininterruptos de chuva e teve grande parte da pista levada pelas águas na última quarta-feira(15). Sua construção data dos anos 1970 e a característica de “desaparecer” quando o rio subia, de acordo com o ex-prefeito Dalmo Scussel, estava prevista desde a idealização, quando o município ainda era distrito de Veranópolis.
O que os 3,8 mil moradores de Cotiporã não esperavam era ver a ponte destruída como tantas outras da região que sucumbiram antes dela. Coberta pela água desde o início das chuvas, no dia 30 de abril, a ponte reapareceu na quinta-feira (9), intacta como sempre. No entanto, a chuva do último fim de semana arrastou árvores que ficaram represadas na estrutura e causaram o dano. A prefeitura calculou que 70% da pista foi levada.
Quando as cabeceiras fossem limpas e trechos da RS-431 desbloqueados no distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves, a estrutura seria a principal alternativa para moradores de Cotiporã e Veranópolis acessarem a BR-470, que tem trânsito bloqueado e sem perspectiva de ser aberto na altura da Ponte Ernesto Dornelles. Sem poder contar com a ligação, moradores de Cotiporã agora precisam fazer mais de 150 quilômetros até Bento Gonçalves, cidade referência para saúde e acesso ao Vale do Taquari e Região Metropolitana de Porto Alegre.
O agricultor Maicon Luiz Lazarini, 34 anos, mora na localidade de Morro do Céu, distante 2,5 quilômetros da ponte que foi levada. A produção de uva era toda escoada por ela pela facilidade para acessar o Vale dos Vinhedos, em Bento.
— Acontecia de voltar e encontrar a ponte trancada. Ai estava perto nem três quilômetros de casa e tinha que fazer quase 70 a mais pela BR-470. Mas agora nem aquela não tem mais. Tudo que essa passou até hoje, tinha resistido a enchente forte que derrubou as barreiras e agora quando tudo parecia se acalmar, reaparece destruída. É triste — diz.
Lazarini ainda lida com a perda de quatro hectares de parreirais levados por um deslizamento de terra. Seus vizinhos, o casal Celso e Nair Stor, tiveram prejuízo ainda maior. Eles são proprietários de um camping às margens do Rio das Antas e que foi destruído na cheia de setembro do ano passado. Com resiliência, as reformas começaram cedo e a área já estava pronta para voltar a receber visitantes.
Em setembro, a produção de 82 mil mudas de videiras foi arrastada pelo rio. Os plásticos que protegiam as plantas no solo pararam em cima das árvores, onde permanecem e dão ar sombrio ao local antes visitado por até três mil pessoas aos domingos.
Dessa vez, as 65 mesas e churrasqueiras foram destruídas. Na tempestade, na noite de 30 de abril, o casal monitorava o rio do segundo andar de casa, atrás do camping. Quando começou a subir resolveram subir para o centro de Cotiporã, mas um deslizamento de terra impediu a fuga:
— Fomos pelo meio do mato, a pé. Quando voltamos no domingo, para resgatar nossa cachorra vimos a destruição pela segunda vez do espaço que tanto amamos. Cuido daqui há 39 anos, não sei mais o que fazer — afirma Celso.
Da ponte, restaram as cabeceiras de pedra. As praias naturais que se criavam perto dela estão tomadas de lama, e o Arroio Pedrinho que deságua no Rio das Antas assoreado por uma quantidade impressionante de árvores que desceram pelas encostas.
As distâncias aumentadas prejudicam também pacientes que recorrem a Bento Gonçalves para tratamentos oncológicos. O sogro de Rosane Gabriel, 40, está há 15 dias no município vizinho por precisar realizar radioterapias diárias.
— Sempre consideramos a possibilidade da ponte estar submersa, mas ela sempre estava lá. E tínhamos uma outra rota, pela Ponte do Arcos, agora no meio desse caos a água levou a nossa e bloqueou as estradas. É um sentimento de impotência, vamos demorar horas para chegar, quando em 40 minutos fazíamos a viagem — relata.
Rota alternativa tem obras e estrada de chão
A RS-437 passou a ser a única alternativa para moradores de Veranópolis e Cotiporã acessaram municípios como Caxias do Sul, em uma viagem de 115 quilômetros. É a rota de desvio da BR-470 que passa por Vila Flores, Antônio Prado e Flores da Cunha. Na parte crítica, mais de dez quilômetros são feitos em estrada de chão por trecho de serra. Próximo à Capela de Santana, no interior de Antônio Prado, obras de asfaltamento estão sendo realizadas e máquinas trabalham na pista.
A estrada chegou a ter o trânsito bloqueado no início da manhã desta quinta-feira (16) por conta do fluxo de caminhões acima do peso permitido. Duas carretas ficaram atoladas. Por isso a prefeitura de Vila Flores e a Polícia Rodoviária Estadual restringem o trânsito apenas para veículos leves.