Em meio a semana que ocorre o 35º Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria, a cidade recebeu lideranças políticas nesta segunda-feira (5) para falar de uma demanda histórica: a implantação de um terminal rodoferroviário no município. A reunião para discutir o projeto logístico ocorreu na sede da Câmara de Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços (CIC) de Vacaria. No momento, o maior empecilho para tirar o projeto do papel é o trecho ferroviário estar concedido à Rumo Logística. A empresa detém a concessão até 2027 e não há previsão contratual para implantação de um terminal.
Por isso, o diretor de Outorgas de Ferrovias do Ministério dos Transportes, Álvaro Neto, aguarda até abril para receber um plano de desenvolvimento da malha ferroviária de todo o tronco sul (entre São Paulo e Rio Grande do Sul) da Rumo, para que o governo federal possa analisar e entender a melhor alternativa para destravar o terminal. Atualmente, a concessionária detém a concessão de 3,15 mil km de ferrovias, sendo que cerca de 1,6 mil km estão desativados. De acordo com o vice-prefeito de Vacaria, Marcelo Dondé (PP), a empresa também irá entregar um detalhamento de toda a malha ferroviária gaúcha para o governo do Estado.
— O que está nos dificultando é a questão da concessionária. Eles ficaram de apresentar agora, em fevereiro, um caderno com detalhamento de toda malha ferroviária do RS, apontando trechos que eles querem dar continuidade e os que não querem mais. Com base nisso, o governo estadual vai fazer uma avaliação e se posicionar. A renovação com a empresa é possível, é necessária, desde que a Rumo se comprometa com investimento na malha ferroviária, não é possível usar sem contrapartida de investimentos, de ampliação — detalhou Dondé.
Após os documentos serem entregues aos governos federal e estadual, uma comitiva da região irá a Brasília até o final de abril para uma nova reunião com o Ministério dos Transportes, na qual a pasta irá se posicionar a respeito dos caminhos que podem ser seguidos e quais serão os próximos passos.
Por conta dessa inviabilidade, a reunião serviu para mobilizar as lideranças em torno do tema, demonstrando ao governo federal a importância desta implantação para o desenvolvimento da região. Os políticos que participaram também encabeçam movimentos por outros projetos que devem impactar a economia da região Nordeste do Estado, como o Porto de Arroio do Sal e o Aeroporto da Serra Gaúcha, no distrito de Vila Oliva, em Caxias.
Segundo a deputada federal Denise Pessôa (PT), que participou da agenda, o Ministério dos Transportes entende que a implantação do terminal rodoferroviário é importante para a região.
— A agenda foi de mobilização, para construir essa unidade enquanto região. O problema é que as ferrovias estão na concessão da Rumo até 2027, antes disso, não tem como intervir. O Ministério vai ter os estudos até abril, tem partes das ferrovias que daria para renovar. O terminal rodoferroviário é um importante equipamento para auxiliar na simplificação da logística da região e melhorar nossa competitividade —destacou a parlamentar.
Pela manhã, uma reunião preparatória antecipou o encontro "oficial" que ocorreu à tarde. Após visitar o rodeio, o vice-governador Gabriel Souza (MDB) participou da reunião sobre o tema. Ele esteve acompanhado de secretários estaduais, entre eles Ernani Polo (Desenvolvimento Econômico) e Juvir Costella (Logística e Transportes).
Representantes do Ministério dos Transportes estiveram presentes, além de políticos como o senador Luiz Carlos Heinze (PP) e o deputado federal Covatti Filho (PP). Participaram ainda o vice-prefeito, Marcelo Dondé (PP), e os deputados estaduais Guilherme Pasin (PP) e Carlos Búrigo (MDB). No final da tarde, o grupo realizou visitas técnicas no local indicado para ser feita a construção do terminal, às margens da BR-116.
Demanda é antiga
Melhorias na malha ferroviária gaúcha é uma pauta que já vem sendo tratada pelo governo do Estado, como em reunião realizada na última terça-feira (30) entre o vice-governador e o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro. O Piratini mantém expectativa de avançar no tema com foco no desenvolvimento logístico do Rio Grande do Sul, permitindo a atração de novos negócios e maior competitividade para as empresas gaúchas.
A implantação do terminal é uma demanda antiga de Vacaria, que vem sendo debatida desde 2015, e voltou a ganhar força no ano passado. Ao longo de 2023, diversas reuniões de comitivas locais foram realizadas com os governos estadual e federal, uma delas com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), em março. Em novembro, lideranças da região juntamente com o senador Heinze apresentaram a proposta de implantação para o secretário Nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro — o órgão é ligado ao Ministério dos Transportes.
Desenvolvimento regional
Quem está à frente do projeto defende que a construção do terminal impactará na economia não só da Serra, como de todo o Rio Grande do Sul. As matérias-primas utilizadas pelas empresas gaúchas poderão vir de trem até Vacaria, reduzindo consideravelmente o valor do frete. O terminal poderá receber cargas de aço, de calcário, de grãos, de adubo, de defensivos ou de plásticos, por exemplo. A intenção é de que o local também possa enviar produtos prontos a outras regiões do país.
De acordo com o projeto, será feita uma integração de Vacaria com as linhas férreas que interligam Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Além disso, uma das vantagens das ferrovias é a diminuição do custo-logístico — o valor do transporte de cargas por trens é 72% mais barato que por caminhão, segundo o projeto.
Além da mobilização política, a implantação do terminal tem apoio forte da comunidade local. A proposta foi cadastrada no programa Brasil Participativo, do governo federal, e recebeu 758 votos — o projeto foi o 11º mais votado do Ministério dos Transportes em todo o Brasil, e foi a quinta proposta priorizada pela pasta para o Plano Plurianual (PPA) da União.