Segue forte o nome do ex-prefeito e ex-governador José Ivo Sartori (MDB) para disputar mais uma vez as eleições municipais de Caxias do Sul. Ele é o nome preferido entre os emedebistas de todo o Estado para concorrer a prefeito. Os presidentes gaúcho (prefeito de Rio Grande, Fábio Branco) e caxiense (deputado estadual Carlos Búrigo) garantem que Sartori será o candidato do partido. Com tanto apoio e movimentações a respeito desta eventual candidatura, o MDB esbarra em um único empecilho: a vontade de Sartori.
O ex-governador é reconhecido nos bastidores como um político cauteloso. Chegou a ser chamado por uma fonte ouvida pela reportagem de "o rei da cautela". Desde que deixou o comando do governo do Estado, em 1º de janeiro de 2019, Sartori não falou com a imprensa e raramente se manifesta em redes sociais — as publicações são mais dedicadas à família do que à política, apesar de estarem presentes fotos de eventos do MDB que participa.
A expectativa é de que o anúncio da candidatura de Sartori, se ele aceitar, seja entre março e abril. Caso não concorra, o ex-prefeito deve comunicar sua decisão até o final de fevereiro, para que o partido possa atuar com o plano B durante a janela partidária (período entre 6 de março e 6 de abril, quando os políticos em cargos eletivos podem trocar de partido). Para o ex-presidente do MDB caxiense, Ari Dallegrave, Sartori tem a preferência do partido em função da sua trajetória política, além da sua "relevância e capacidade". Ele também mantém a confiança na candidatura do ex-prefeito.
— Quando o presidente do partido diz que ele vai ser o candidato, quando o presidente estadual diz que ele vai ser o candidato, e eu vejo ele recebendo os outros partidos no nosso diretório, ele estando na linha de frente com outros partidos, eu tenho que acreditar que as chances de ele concorrer são reais e fortes. Ele está conduzindo o processo e está muito empenhado em trabalhar para o candidato do MDB — ressalta Dallegrave.
Para o MDB, Sartori é estratégico por dois motivos: um nome com tanto peso concorrendo fortalece candidaturas em outros municípios do Estado, criando expectativa no MDB de que o partido mantenha e até amplie as 136 cidades comandadas por emedebistas no Estado — a sigla estima ter cabeças de chapa em pelo menos 270 cidades gaúchas nas eleições de outubro. Além disso, em Caxias, Sartori é unanimidade não só no próprio partido, mas em legendas como o PSB, parceiro histórico dos emedebistas. José Ivo também teria apoio amplo no PDT, com quem o MDB comandou a cidade por 12 anos consecutivos – primeiro com a dobradinha Sartori e Alceu Barbosa Velho (PDT), entre 2004 e 2012, e depois com Alceu e Toninho Feldmann (MDB), até 2016.
"Sartori une a cidade"
Um dos pontos cruciais para que a decisão de uma candidatura seja tomada é o apoio de PDT e PSB. Alceu foi vice de Sartori por seis anos, dobradinha que alçou Alceu a seguir o trabalho na prefeitura entre 2013 e 2016, e Sartori ao governo do Estado em 2014. E o pedetista já afirmou que aceitaria, novamente, ser vice do amigo "Zé Ivo" — eles tiveram encontro na última quinta-feira (11), quando Alceu manifestou a vontade em reunião na sede do MDB.
Já o PSB é o partido que tem mais proximidade com o MDB. A relação íntima entre os dois em Caxias do Sul é histórica, sendo que a parceria mais recente ocorreu nas eleições de 2020, com a chapa Carlos Búrigo-Elói Frizzo. Além disso, Sartori tem uma relação muito próxima com o ex-deputado federal e presidente estadual do PSB, Beto Albuquerque. Lideranças das duas siglas, incluindo Sartori, também se reuniram na última semana, na quarta-feira (10), e o presidente dos socialistas, vereador Zé Dambrós, deu um recado claro a Sartori:
As conversas continuam dentro do que se pensa igual para Caxias do Sul. Isso é o que deve unir os partidos.
ARI DALLEGRAVE
Ex-presidente do MDB de Caxias
— Disse que ele (Sartori) consegue unir o partido dele, conseguir unir outros partidos, o próprio PSB, e consegue unir a cidade. Nós vamos ter mais um encontro nos próximos dias e vamos continuar aguardando ele se decidir. Temos uma história de gratidão com o Sartori.
O ex-presidente do MDB, Ari Dallegrave, também ressalta a importância de uma parceria com as duas siglas, a partir da trajetória histórica que os três partidos mantém em Caxias.
— Nós temos uma relação muito fraterna e muito leal com os partidos que já foram da coligação, como PDT, PSB. Está se construindo. Um cenário é com Sartori e outro sem, mas nada que possa ser eliminado se for um ou outro. As conversas continuam dentro do que se pensa igual para Caxias do Sul. Isso é o que deve unir os partidos. A base vai ser o plano de governo e o que se quer para Caxias. Estamos trabalhando com a alternativa que é o Sartori, dentro daquilo que pode atrair outros partidos, que é o plano de governo. O nome, realmente, é o segundo plano.
Alternativas na mesa
A segunda opção, sem Sartori, será alçar o nome do vereador Felipe Gremelmaier a candidato, com o ex-governador atuando na campanha. Mesmo que, no cenário atual, Gremelmaier não tenha a mesma força eleitoral que Sartori, o MDB deve manter o discurso de "protagonismo", repetido por Branco e Búrigo, e ter seu próprio nome ao Executivo.
Nos bastidores, ventilou-se uma eventual candidatura de Gremelmaier a vice-prefeito, em uma chapa de reeleição do atual prefeito Adiló Didomenico (PSDB). Mas esta opção não está sendo cogitada pelo MDB neste momento, que afirma ter sido levantada e sugerida pelos próprios tucanos.
Outra possibilidade foi levantada por Alceu, em conversa com a coluna Mirante, de uma possível coligação entre MDB, PDT e PT. Entretanto, essa alternativa foi descartada pelo presidente emedebista Carlos Búrigo, que quer estar ao lado de partidos da centro-direita. Nesta terça-feira (16), Búrigo reforçou, em seu perfil no X, antigo Twitter, que "não faremos aliança com o PT" e que o partido "nunca sequer cogitou internamente tal hipótese".