O primeiro semestre deste ano teve 49 crimes contra a vida em Caxias do Sul, quatro a menos na comparação com o mesmo período de 2022, ou seja, queda de 8%. Por outro lado, os feminicídios tiveram pequena alta, com cinco crimes em 2023 contra quatro casos no mesmo período do ano passado.
A reportagem elencou cinco casos que chamaram atenção no primeiro semestre. Confira:
Primeira morte de 2023
O ano começou com a morte violenta de Naiara Ketlin Pereira Maricá, 18 anos, por estupro seguido de morte. No dia 1º de janeiro, o corpo dela foi encontrado com marca de perfurações em uma residência na Rua Júlio Calegari, no bairro Esplanada, em frente às garagens da Visate. Segundo a polícia, a jovem tinha saído com amigos para festejar o Ano-Novo, mas não se sentiu bem e voltou para casa. Neste deslocamento, segundo informações da Polícia Civil, um homem passou pelo grupo, conversou com a jovem e seguiu com ela até a residência, onde cometeu o crime.
Uma faca e uma tesoura foram apreendidas na casa de Naiara, onde ela morava com a mãe e uma filha pequena. A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) investigou as circunstâncias e autoria da morte. O suspeito, um homem de 26 anos, foi preso dois dias após o crime e segue recolhido na Penitenciária Estadual de Bento Gonçalves.
Idoso morto por adolescentes
Onze dias após a morte de Naiara, Olímpio Itacir Santini, 77, foi morto por um casal de adolescentes, de 15 e 12 anos. O corpo foi encontrado com perfurações de faca dentro da casa, na Rua Victório Demori, no bairro Cruzeiro.
As investigações da Delegacia de Homicídios chegaram a uma mulher de 42 anos, apontada 2, como mandante do crime. Segundo a conclusão do inquérito, que ocorreu um mês após o assassinato, a mãe induziu o filho de 15 anos e a namorada dele para cometer o crime. Motivo: a mulher furtou dinheiro da Santini, que descobriu e prometeu denunciá-la a polícia. Segundo as investigações, os envolvidos no crime tinham grau de parentesco com a vítima.
A mulher está presa e há um processo tramitando na 1ª Vara Criminal de Caxias do Sul. Os adolescentes estão recolhidos em casas socioeducativas de Caxias e Porto Alegre.
Crime com 35 disparos
Leandro Santos Brandão, 43, foi morto a tiros no dia 21 de fevereiro, em Caxias do Sul. O crime ocorreu em uma casa na Rua Joana Toscana Mezzomo, no bairro Desvio Rizzo. A perícia constatou que 35 disparos foram efetuados dentro da casa, sendo três deles de calibre .12 e os outros com arma de calibre .9mm. Na mesma data do crime, a Delegacia de Homicídios prendeu um suspeito na Avenida São Leopoldo, em Caxias. Segundo o titular, Caio Marcio Fernandes, esse homem, de 26 anos, foi indiciado. Fernandes salienta que vítima e suspeito já tinham antecedentes policiais.
Mulher baleada após pedir socorro
Mãe de dois filhos adolescentes, Josiane Levandoski dos Santos, 34, foi morta a tiros no dia 7 de maio. Segundo a investigação, o crime ocorreu em Santa Lúcia do Piaí, no interior de Caxias do Sul, após ela buscar ajuda para socorrer o marido e o genro que haviam sido baleados meia hora antes, após uma briga em um bar no distrito. Josiane, o marido, de 34 anos, a filha dela, de 18, e o genro, de 25, estavam em um bar quando os dois homens brigaram com um terceiro frequentador do bar. O dono do estabelecimento, que é irmão de Josiane, foi chamado e atirou para o alto para acabar com a confusão. Depois, ele saiu do bar, foi para casa, mas o marido e genro de Josiane foram atrás dele.
De acordo com o relato de vizinhos, o marido e o genro de Josiane tentaram invadir o pátio da casa de outro irmão dela e foram baleados. O autor dos tiros fugiu do local. Josiane foi buscar ajuda para os feridos e, na rua, abordou um carro. Nisso, foi alvejada por alguém que estava no veículo e morreu no local. Dois dias depois, Jeferson Castro de Freitas dos Santos, marido de Josiane, morreu no hospital.
O delegado Caio Fernandes esclarece que a Polícia Civil já tem indiciamento contra três pessoas. O trio é responsável pela morte dela e pelos crimes contra o marido e o genro dela. Os indiciados aguardam o andamento do processo em liberdade. O delegado não esclareceu a motivação para o assassinato de Josiane.
MC morre durante curso de corte de cabelo
Também em maio, João Pedro Pozza de Oliveira, 22, o MC Pozza, foi morto a tiros enquanto participava de um curso de corte de cabelo. O crime ocorreu no dia 24 de maio dentro de uma barbearia na Rua Urbano Marieti, no bairro Jardim Eldorado, em Caxias do Sul.
Pozza nasceu e foi criado em Caxias do Sul em uma família de quatro irmãos, sendo que ele era o segundo mais novo. Gabriel Pozza de Oliveira, 28, irmão de João Pedro, conta que ele adorava cantar desde criança. Durante a pandemia, MC Pozza foi morar em São Paulo para gravar o primeiro clipe. Em 2020, ele gravou a música "Mente Blindada" e, após alguns shows pelo país, tornou-se conhecido no meio musical. O sonho dele era ser reconhecido pela música.
O delegado Caio ressalta que um suspeito já está preso. Fernandes esclarece que há duas linhas de investigação, sendo que um dos possíveis autores foi recentemente preso em razão de outra investigação. O delegado não deu maiores detalhes sobre as possíveis motivações.
Investigações
Um dado que também chama atenção é a alta resolutividade dos crimes neste primeiro semestre. A Delegacia de Homicídios garante que 90% dos 49 assassinatos deste ano já estão esclarecidos. O delegado Caio Márcio Fernandes cita, por exemplo, o mês de junho, que teve seis crimes, sendo que as investigações de cinco deles já foram remetidas à Justiça com suspeitos identificados. Ele acrescenta que a principal motivação para esse alto percentual de resoluções é o trabalho conjunto, com troca as informações entre as delegacias da Polícia Civil, o 4º Batalhão de Choque da BM, o 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), a Polícia Penal, a Justiça e o Ministério Público.
Ainda, no primeiro semestre de 2023, foram efetuadas 55 prisões, entre temporárias, preventivas, flagrantes e cumprimento de sentenças. Contudo, nem todas são relativas a casos de 2023, algumas são remanescentes de investigações do ano passado.
O tráfico de drogas ainda é o principal pano de fundo para os crimes.
— Temos casos de usuários mortos por traficante como cobrança de dívidas, não é necessariamente uma disputa entre organizações, mas não deixa de estar de uma forma ligada com o tráfico. Ainda temos pessoas com uma condição social vulnerável, que são usuárias e há discussão entre eles. Não é vinculada ao tráfico, mas está correlacionado com a droga — exemplifica o titular da Delegacia Homicídios.
Por outro lado, o comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas, aponta para o mês de junho deste ano, que teve uma diminuição de 50% nos assassinatos em relação ao mesmo mês de 2022, passando de 12 para seis casos.
— A taxa de homicídios nos últimos seis meses em Caxias foi de 10,3 vítimas para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto nos últimos três meses a taxa de homicídios caiu para 3,8 vítimas para cada grupo de 100 mil habitantes. Em números, isso significa que durante o primeiro semestre de 2023, se conseguiu evitar a morte de 31 pessoas em nossa cidade — observa Vargas.
O comandante também salienta que no acumulado dos últimos três meses do primeiro semestre (abril maio e junho), os homicídios diminuíram 47%. Houve também queda nos casos de roubo de veículo (-21%) e roubo ao comércio (-69%).
— Essas quedas proporcionaram com que Caxias do Sul pela primeira vez ocupe o 9° lugar entre os 497 municípios do RS com os melhores resultados na redução de homicídios — detalha ele.
O delegado Caio acredita que o ano finalizará com acentuada queda de crimes no município, assim como em 2022, que fechou o ano com 77 assassinatos, o menor número em duas décadas.