Enquanto o Estado teve redução de feminicídios no primeiro trimestre, a serra gaúcha está diante de um aumento desse tipo de violência, com sete mulheres assassinadas de janeiro a março contra um caso registrado no mesmo período do ano passado. A reportagem também incluiu uma oitava vítima de feminicídio, que não entra na conta do trimestre da Secretaria de Segurança Pública (SSP) porque aconteceu em abril.
Por trás desses números, histórias de violência que se repetem ano após ano. Confira abaixo quem eram as mulheres que morreram pelas mãos de homens que não aceitavam o fim de relacionamentos ou que perderam a vida em razão de familiares violentos.
Naiara foi estuprada e assassinada
Naiara Ketlin Pereira Maricá, 18 anos, foi a primeira vítima do ano na Serra, estuprada e morta com golpes de faca na perna e pescoço no primeiro dia de 2023, em Caxias do Sul. O autor confesso do crime, Ricardo Silveira Sebastiany, 26, era desconhecido da vítima e já está preso.
Taylor Ambrosio, 25, ajudou a criar a irmã caçula, Naiara, em Campina do Sul, município gaúcho onde ela nasceu. Mãe ainda na adolescência, a jovem era alegre e comunicativa. Desejava voltar a estudar para dar um futuro melhor para a filha. Para ele, a morte da irmã é revoltante e abalou a estruturas da família. A mãe da jovem viu o corpo da filha e não consegue superar a cena. Devido a este trauma, a mulher se mudou da casa onde o crime aconteceu. Outra dor são as constantes perguntas da filha de Naiara.
— Uma personalidade muito afetiva e carismática, ela gostava de tratar as pessoas muito bem, mesmo ela tendo pouco, sendo de uma família humilde, sempre teve um coração muito grande. Ela gostava de ficar em casa, com os amigos, familiares, às vezes gostava de jogos futebol também — conta o irmão.
Juliana morreu com golpes de machado
Cinco dias após a morte de Naiara, houve um novo caso de feminicídio que chocou Caxias do Sul. Juliana Denise Ferreira, 39, foi morta a golpes de machado pelo companheiro João Batista Silva de Souza, 58. Depois do crime, o homem tirou a própria vida. A reportagem tentou entrar em contato com a família da vítima, mas não houve retorno.
Ellen deixou quatro filhos
Ellen Varela da Silva, 26, mãe de quatro crianças pequenas, foi a terceira vítima de feminicídio em Caxias. Ela foi morta pelo ex-companheiro Rodinei Oliveira, 34 anos, em 20 de janeiro.
A jovem trabalhava na área da saúde pública. Familiares a descrevem como exemplar no trabalho e no cuidado com os filhos. A ex-sogra, Neiva Consolado Padilha Oliveira é avó de três das quatro crianças da vítima. Ellen foi casada com o filho de Neiva até 2015, quando o homem morreu. Após a perda do então marido, Ellen manteve contato com a família paterna dos filhos e sempre teve um relacionamento afetivo forte com Neiva, inclusive, era chamada pela ex-sogra de "pequena grande mulher". O sonho de Ellen era ver os filhos, na vida adulta, formados em áreas profissionais de suas escolhas. As crianças atualmente estão sendo cuidadas pelos avós.
— Ela era uma mulher batalhadora, exemplar com os filhos, meus netos estavam sempre limpos e bem arrumados. Ela sempre foi vaidosa, era uma mulher bonita. Nunca deixou faltar nada para meus netos — descreveu a ex-sogra.
Monica tombou com dois tiros na cabeça
Monica Carina da Silva, 43, morta a tiros na Rua Assis Brasil, no bairro Jardelino Ramos, em Caxias do Sul, na madrugada de 19 de março. O autor dos disparos, Daniel Correa Rodrigues, 39, foi preso em flagrante na frente da casa. Ele confessou o crime e a arma, um revólver .38, foi apreendida. Mônica era natural de Bento Gonçalves.
Renata tinha medida protetiva contra o ex-companheiro
A vítima mais recente de feminicídio em Caxias do Sul foi Renata Menezes Marques, 34. No dia 5 de abril, ela foi morta a facadas numa parada de ônibus na Rua Tauríbio Alexandre Vieira, no bairro Serrano. O autor do crime, segundo a polícia, é o ex-companheiro dela, que não teve a identidade divulgada. Renata trabalhava numa empresa de implementos rodoviários.
O padrasto de Renata, Valdecir Camargo da Silva, 50, conta que ela estava separada havia cerca de cinco meses do ex-companheiro. Ela morava atualmente nos fundos da casa da mãe e do padrasto, que fica próximo do local do crime:
— Ela era muito gente boa. Gostava de ficar em casa tomando chimarrão e trabalhava para cuidar da filha. Infelizmente aconteceu isso aí.
O 4º Batalhão de Choque, que efetuou prisão do autor do assassinato, confirmou que Renata tinha medida protetiva em vigor contra ele e já havia feito inúmeras denúncias.
Claudete morreu em casa
A jovem Claudete Mausolf, 24, foi morta dentro de casa na madrugada de 22 de janeiro no bairro São José, em Garibaldi. O autor do crime, conforme a polícia, é o ex-companheiro da vítima, Ederson da Costa, 31. Ele foi preso na manhã seguinte, em Barão.
Maria Margarete de Brito conta que a filha e o genro se relacionavam havia sete anos. Claudete vinha de um outro relacionamento, onde teve uma filha. No segundo relacionamento, teve mais uma menina. O casal sempre teve brigas, mas a mãe conta que não ocorriam agressões. Na quinta-feira anterior ao crime, houve a primeira discussão em que Claudete foi agredida.
Mãe e filha moravam a poucos metros de distância e trabalhavam juntas em uma reciclagem. A filha confidenciou que desejava se separar, mas o companheiro não estaria aceitando o fim do relacionamento. Margarete desejava tirar a filha de casa, mas a jovem foi assassinada antes que uma medida pudesse ter sido tomada pela família.
— Minha filha nasceu em Garibaldi e cresceu aqui, sempre foi de família e trabalhadora para sustentar as filhas — desabafa a mãe.
O laudo médico apresentou traumatismo craniano, hemorragia intratorácica e asfixia mecânica como as causas da morte da jovem — um martelo, uma faca e uma corda teriam sido utilizados no crime.
Costa pegou a filha de cinco anos que dormia no quarto ao lado, no momento do crime, e a levou para a cidade de Barão. Lá entregou a criança para uma familiar e se entregou à polícia.
Samara foi esfaqueada pelo ex-companheiro
No dia 28 de março de 2023, Samara da Silva Amaral, 22, foi morta a facadas, de acordo com a polícia, por Rafael Silva, 32, ex-companheiro dela, no bairro Barcelos, em Vacaria. Ela tinha medida protetiva contra ele. A jovem deixou dois filhos pequenos, frutos da relação com Silva.
O homem foi preso no dia seguinte ao crime, porém, permaneceu em silêncio durante o depoimento, não justificando o crime. A Polícia Civil concluiu o inquérito policial, em que indiciou Silva, e encaminhou o processo ao Poder Judiciário na última quinta-feira (13).
Gema morreu com tiro disparado pelo filho
Gema Spezia, 76, foi morta com um tiro de espingarda calibre.12 na noite de 2 de fevereiro, na Linha Almirante Tamandaré, em Capela São Marcos, no interior de Cotiporã. A delegada plantonista Maria Izabel Zermann Machado explicou que o autor do crime teria efetuado o disparo de arma de fogo contra a parede da moradia. O tiro atingiu a mãe, que estava no interior da casa:
— Ele estava alcoolizado e já teria informações de violência doméstica, com ameaças contra a mãe. O irmão dele relatou que o autor era alcoólatra e que tinha conflitos com a mãe — relatou a delegada, na ocasião.
O autor, que não teve o nome divulgado pela polícia, foi preso em flagrante e levado ao presídio de Bento Gonçalves. A arma de fogo foi apreendida.