Na mesma medida em que o mundo virtual facilitou, e muito, as relações humanas, a internet também virou terreno fértil para aqueles que querem praticar atos criminosos. Quem visita as redes sociais diariamente já deve ter se deparado com relatos de amigos ou conhecidos que foram vítima de algum tipo de golpe praticado no ambiente digital. Mas não é apenas uma percepção. Os estelionatos estão, de fato, aumentando. Em 2021, 85.417 casos de golpes foram relatados à polícia no Estado. Destes, 5.236 foram registrados em Caxias do Sul, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.
O delegado Edinei Albarello, titular do 3° Distrito Policial de Caxias, confirma o crescimento dos estelionatos e relata um dos tipos mais recentes praticados via rede social.
— Desde o início da pandemia, em março, abril, de 2020, os crimes virtuais aumentaram de forma expressiva. O golpe do Instagram tem sido o mais recente. Eles (estelionatários) conseguem clonar o Instagram e começam a oferecer produtos. Eles inventam uma história dizendo que uma amiga da pessoa está saindo da cidade e deixou alguns produtos (móveis e eletrodomésticos, por exemplo) para venda. Os amigos desta pessoa, então, começam a comprar, via Pix, geralmente. Mas, só depois do pagamento, verificam que não é real, que o aplicativo foi clonado — descreve o delegado.
Quem quase entrou para as estatísticas foi o engenheiro civil Gustavo Zanatta, 39 anos. Há cerca de três meses, ele e a mulher foram alvo de um dos golpes mais comuns nos últimos tempos, praticado por meio do aplicativo de conversas WhatsApp.
— Entraram em contato com a minha esposa com um número no WhatsApp. Falava que era eu, com a minha foto, e informava que eu tinha trocado de número. Como ela sabia que eu não havia trocado de número, já fez um print, bloqueou o contato e me informou. Colocamos nas redes sociais e denunciamos para o aplicativo — relata o engenheiro.
Zanatta explica que não houve tempo de o estelionatário pedir dinheiro ou fazer algum outro tipo de solicitação. Mas, dias depois, ele soube por um amigo que o mesmo número continuava tentando se passar por outras pessoas para obter vantagem.
— A minha foto saiu do perfil em duas semanas, ficamos monitorando. Depois, um amigo me ligou informando que a mãe de um conhecido tinha sofrido o mesmo golpe. Era o mesmo número que usou a minha foto. Eles tentavam reaplicar o golpe — conta.
Aposentada perdeu cerca de R$ 25 mil em golpe via WhatsApp
Foi tentando ajudar um dos filhos que uma aposentada de 75 anos, de Caxias do Sul, perdeu cerca de R$ 25 mil em julho do ano passado. O que ela não imaginou, porém, é que por trás da foto e da conversa pelo WhatsApp estavam criminosos que queriam se beneficiar da bondade dela.
O enredo adotado pelos bandidos é similar a tantos outros casos. Tudo começou com uma mensagem no WhatsApp. Os bandidos usavam a mesma foto do filho mais novo da vítima, porém, em um contato diferente.
— Ele (bandido) falou "mãe, estou fazendo um pagamento aqui no banco e deu problema no cartão, tem como fazer um depósito pra mim?". Aí ela disse que sim, que faria só precisava abrir o banco. Era em torno de 10h. Quando foi 11h, ela foi no banco e fez o primeiro depósito, em torno de R$ 4 mil e pouco. Só que aí veio outra mensagem: "bah, mãe, não deu certo, vou precisar que tu refaça". Ela não conferiu, nem questionou e depositou novamente. Pra resumir a história, foram, ao todo cinco depósitos — conta a filha da vítima, uma jornalista também moradora de Caxias.
Um funcionário do banco até tentou alertar a aposentada, que não desconfiou da situação por acreditar que estava, de fato, ajudando o filho mais novo.
— Essa pessoa ludibriou muito ela (vítima), minha mãe diz que eles são letrados nisso. Foi bem traumatizante para nós. Uma das coisas que temos que ajudar os idosos e termos atenção é que minha mãe não sabia salvar os contatos com os nomes. Então, ela só via a foto da pessoa, era normal não ter o nome salvo — alerta a jornalista.
Foi somente cerca de duas horas depois de ter feito os depósitos que a aposentada entrou em contato com o filho e soube que havia sido vítima de estelionatários. A família registrou ocorrência na Polícia Civil, mas não foi possível recuperar nenhuma quantia repassada aos criminosos.
— Depois disso, salvamos todos os contatos no celular dela. Coloquei a dupla verificação no Whats. E, hoje, ela até usa. Mas se receber algum link, alguma coisa, não abre. Ficou ressabiada. É triste, porque a mãe é muito de ajudar. Ela ainda me disse "como que eu não vou ajudar um filho?" — ressalta a moradora de Caxias.
CONFIRA ALGUMAS DICAS E PROTEJA-SE!
1) Não forneça dados pessoais (nome completo, CPF, RG, endereço, número da conta bancária e senha) para estranhos, em ligações telefônicas, mensagens SMS ou WhatsApp.
2) Desconfie sempre de ofertas de produtos com preços abaixo dos praticados no mercado.
3) Não converse com estranhos na rua, tampouco aceite propostas que pareçam ser muito boas e que lhe trariam alguma espécie de "vantagem".
4) Saiba que a aparência engana! Estelionatários falam bem, estão normalmente bem vestidos e facilmente persuadem as vítimas. Tome estes cuidados para não se tornar uma.
5) Não troque fotos nem vídeos íntimos pela internet/rede social. Lembre-se: pedofilia é crime.
6) Em caso de dúvida, procure sempre alguém de sua confiança e peça ajuda.
7) Se você sabe de alguém que pode estar praticando algum destes golpes, denuncie pelo 197, WhatsApp da Polícia Civil (51) 98444-0606 ou procure a delegacia mais próxima.
8) Caso você tenha sido vítima de algum destes golpes, procure a Polícia Civil. A ocorrência pode ser feita pela Delegacia Online: www.delegaciaonline.rs.gov.br.
9) É muito importante não clicar em quaisquer links enviados, manter atualizado softwares de antivírus, utilizar navegadores confiáveis e avaliar os certificados digitais. Desconfie de ofertas incompatíveis com a realidade e sempre verifique a reputação das empresas em sites de busca. Na dúvida, não compartilhe os seus dados.
10) Sempre ative a função de segurança "duplo fator de autenticação" em suas contas na internet que oferecem essa opção: e-mail, redes sociais, aplicativos, sistemas operacionais, etc.
11)Não compartilhe suas senhas com amigos e parentes ou encaminhe-as por aplicativos de mensagens, e-mails ou SMS. Nunca utilize dados pessoais como senha, nem números repetidos ou sequenciais, nem anote-as em papel, no celular ou no computador.
Fonte: Febraban, Polícia Civil do RS e Ministério da Justiça