Morar fora do país, aprender uma nova língua e conhecer novas culturas são fatores importantes para quem busca um programa de intercâmbio. Atualmente, as opções para quem quer viver essa experiência vão desde oportunidades em família, a partir dos cinco anos de idade, até programas chamados 50+, pensados especialmente para quem já passou dos 50 anos e quer estudar e viver em outro país.
Uma pesquisa da consultoria especializada em educação internacional Student Travel Bureau (STB), divulgada no final de 2023, revelou que a procura pelo intercâmbio cresceu 30% no ano passado em relação a 2019. Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália são os principais destinos escolhidos pelos brasileiros, entre 14 e 18 anos, que desejam fazer parte ou todo Ensino Médio no exterior.
Se engana, no entanto, quem pensa que o intercâmbio é apenas para quem está no colégio ou na faculdade. Hoje em dia, é possível cursar programas de curta duração de línguas, cursos profissionalizantes ou até mesmo participar de trabalhos voluntários. E de acordo com a diretora da CI Intercâmbio em Caxias do Sul, Scheila Salvati, não existe idade máxima para viver essa experiência.
— A partir dos 16 anos é possível entrar nos cursos regulares. Intercâmbio não tem idade. Existe esse mito, as pessoas acham que tem uma idade única. Recebo muita gente aqui na porta pedindo se "tem intercâmbio para velho também" — brinca Scheila.
O destino mais procurado ainda são os Estados Unidos, mas alguns países têm ganhado mais destaque para quem busca estudar fora. Malta, Canadá, Austrália e Irlanda também são opções buscadas pelos caxienses que querem aliar trabalho ao estudo da língua inglesa. Mas, de acordo com o sócio da IE Intercâmbio em Caxias, Fábio Dani, as opções vão muito além do inglês.
— Dentro da Europa, tem opções para o francês, espanhol, alemão, italiano... No Canadá, na região de Quebec e Montreal, o governo incentiva o estudo do francês. De idioma mais diferente, um que cresceu por uma questão cultural foi o coreano, com o crescimento do K-pop. A Coreia do Sul se tornou um destino que, hoje, tem programa de intercâmbio para adolescentes e adultos — explica Dani.
Os cursos, que variam de duração dependendo dos objetivos do intercambista, podem ter duas semanas, no mínimo. Para os adolescentes, também existe a opção de ir em grupos com guias brasileiros. Para os adultos, graduados na faculdade e que desejam ter uma experiência internacional, é possível também aliar o estudo da língua a cursos profissionalizantes em diversas áreas do conhecimento, como negócios e marketing, ou então, cursos de desenvolvimento pessoal.
Para todas as idades e perfis
O pensamento de que um intercâmbio é apenas para adolescentes e jovens mudou, segundo Scheila e Dani, que trabalham há 17 e três anos no mercado, respectivamente.
Nas duas agências, a procura por viagens que unem estudo e passeios aumentou nos últimos tempos, principalmente após o período da pandemia. Segundo Dani, a retomada após o período de fronteiras fechadas era incerto, mas, até agora, tem sido positiva:
— O mercado voltou muito aquecido, parece que as pessoas voltaram com mais vontade de viajar e hoje elas estão abrindo mão de viagens de turismo para buscar as que vinculem a educação e questões profissionais, sempre visando a evolução profissional. Seja para quando retornar ao Brasil ter um diferencial ou para buscar isso fora do país também. O intercâmbio também é uma porta de entrada para a imigração — diz Dani.
"É possível realizar sonhos independentemente da idade"
Uma das pessoas que colocou em prática esse desejo de fazer um intercâmbio foi a bancária Moriele Marin, que retornou em abril da última experiência internacional, em Malta. A vontade já existia há muito tempo, mas Moriele conta que acabou deixando as oportunidades passarem. Em 2022, aos 37 anos, fez seu primeiro intercâmbio para Londres e se apaixonou pela experiência. Desde então, já foram três viagens de estudos.
— Eu tinha essa vontade de fazer intercâmbio há muito tempo, só que foram surgindo outras coisas na minha vida e fui deixando. Nesses últimos anos, pensei 'por que não?'. Às vezes, a gente fica muito ansioso com a idade, que já não é mais o momento certo. E eu resolvi que era o momento certo, que é possível realizar sonhos independentemente da idade — orgulha-se Moriele.
Mesmo trabalhando em um banco, ela conseguiu organizar os períodos de férias e conciliar o estudo da língua inglesa com os passeios turísticos nas cidades onde ficou. Além de Londres e Malta, em 2022 e 2024, Moriele também estudou em Vancouver, no Canadá, em 2023.
— Em 2022 foi o meu primeiro intercâmbio, foi uma experiência sensacional. Eu lembro que eu fiquei bastante ansiosa, porque eu não sabia como ia ser. Eu já tenho uma maturidade, já tenho independência financeira... Acho que a idade favorece nesse sentido, porque tu tem a consciência do que quer fazer e experimentar. Eu tinha a possibilidade de conhecer novos lugares, vivenciar novas culturas e, ao mesmo tempo, praticar conhecimento, fazer networking e conversar com colegas de todas as nacionalidades possíveis — conta a bancária.
Próximo destino: Estados Unidos
Agora, ela já planeja novas experiências. O próximo destino deve ser os Estados Unidos, país em que ela ainda não estudou.
— Eu tenho vontade muito grande de continuar fazendo intercâmbio para língua inglesa. Eu tenho dificuldade de aprender uma nova língua, então, se eu tiver uma fluência no inglês, eu já estou realizada. No intercâmbio, tem essa possibilidade de fazer novos amigos de uma forma tão intensa, que uma viagem sozinha, tu não terias essa possibilidade. É uma experiência enriquecedora em qualquer idade que tu faças — resume.
Veja a lista de países mais buscados pelos caxienses
Apesar de os Estados Unidos ainda serem o país mais procurado para intercâmbio, muitas pessoas têm buscado outras línguas além do inglês para cursos fora do país. Além do espanhol, que também tem boa procura, o francês, italiano e alemão são alguns dos idiomas de maior interesse dos caxienses que querem estudar fora, de acordo com Scheila Salvati, que trabalha há 17 anos no mercado de programas de intercâmbio.
Para estudar inglês
- Estados Unidos
- Inglaterra
- Canadá
- Malta
- África do Sul
— Estados Unidos e Inglaterra sempre foram os mais procurados, principalmente pelo apelo midiático desses países. Nos Estados Unidos, o visto acaba dificultando, às vezes, mas favorece outros países. Em questão de custo-benefício, Canadá, Malta e África do Sul são os mais procurados pra inglês — explica Scheila.
Para estudar espanhol
- Argentina
- Espanha
- Chile
— A América do Sul é muito em conta pra estudar o espanhol. As passagens são baratas e tem escolas ótimas. Na Espanha, tem vários destinos diferentes, então a pessoa não precisa ir só para Madri ou Barcelona, pode ir para Valência, Granada, Málaga... — esclarece.
Outros idiomas
- Coreia do Sul (coreano)
- França (francês)
- Canadá (francês)
- Alemanha (alemão)
- Japão (japonês)
- Marrocos (árabe)
- Rússia (em pausa durante o conflito com a Ucrânia).
Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, deve reabrir em outubro
Apesar de o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, ainda estar fechado, a demanda por intercâmbios não foi afetada. De acordo com Fábio Dani, o maior impacto tem sido na reorganização das datas das viagens. Nesta semana, a Fraport, concessionária que administra o Salgado Filho, revelou que no dia 21 de outubro ocorre a reabertura parcial, e os voos internacionais do terminal devem decolar a partir de 16 de dezembro.
— Muitos intercambistas estão se deslocando e pegando voos em Florianópolis (Aeroporto Internacional Hercílio Luz). O aumento de voos ajudou, mas ainda são poucos. Programas de intercâmbio para os Estados Unidos foram muito afetados, devido ao fechamento da agenda do consulado em Porto Alegre, para o processo de visto. A agenda de maio, junho e julho foi parcialmente fechada, atrasando o processo. Alguns clientes tiveram que ir para São Paulo fazer o visto para não perder a data dos seus embarques e alguns adiaram a viagem para 2025 — resume.
Para os voos internacionais que estavam previstos para o aeroporto de Porto Alegre, a orientação é entrar em contato com a agência que emitiu os bilhetes ou com a companhia aérea, no caso de quem comprou por conta própria.