Pouco depois da confirmação de mais uma morte em Caxias do Sul, neste domingo (12), em função de um deslizamento de terra, desta vez, no loteamento Vila Maestra, na Zona Norte, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, concedeu entrevista à rádio Gáucha para falar da atual situação do município. Luciano Henrique Santos Lacava, 49 anos, morreu e outro ficou ferido após um deslizamento de terra, por volta das 7h, que destruiu um pavilhão da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) e da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos. Lacava era servidor da Codeca havia 20 anos, segundo a prefeitura.
— Caxias vive o pior momento da sua história em termos de desastres da natureza e desastres climáticos. A situação aqui é extremamente grave por conta dos deslizamentos. Em termos de alagamentos, a situação vem bem controlada, porque já há anos Caxias desenvolveu um programa de construção de piscinões e, agora, conseguimos aprovar um financiamento de mais quatro grandes piscinões e esses equipamentos ajudam muito nessas horas — explicou Adiló, à rádio Gaúcha.
Os piscinões são reservatórios acumulam água da chuva coletada por bueiros e controlam a liberação para o restante da rede. Sem receber grandes volumes de forma simultânea, os canais da cidade conseguem escoar a chuva com menor possibilidade de transbordamento. Na última terça-feira (7), o Ministério das Cidades autorizou por meio de uma portaria a construção de quatro tanques de contenção, conhecidos como piscinões, em Caxias do Sul. Desde janeiro, a prefeitura aguardava o aval do governo federal para que pudesse encaminhar a contratação dessas obras. Agora, o município vai solicitar financiamento, e então poderá encaminhar o processo licitatório.
Deslizamentos são a maior preocupação
Para ter uma ideia, na região de Caxias do Sul, em 10 dias a previsão de precipitação é de 900 milímetros e a média anual é 1.820.
ADILÓ DIDOMENICO
prefeito de Caxias do Sul, em entrevista a rádio Gaúcha
De acordo com Adiló, o que mais tem preocupado o poder público municipal são os deslizamentos de terra, como os que ocorreram no bairro Galópolis e, neste domingo (7), no Vila Maestra — em ambos resultou em mortes. O prefeito frisa ainda que a região de Galópolis segue com interdição em diversas áreas.
Outro ponto de atenção, por conta da chuva incessante, disse o prefeito durante a entrevista, é a situação das estradas, em especial no Sul do município, na divisa com o município de Vale Real. Por lá ocorreram os maiores deslizamentos de terra e destruição em estradas, aponta Adiló.
— Eu visitei uma rodovia ontem, municipal, onde num trecho aí de 10 quilômetros tem 28 barreiras, áreas que nunca foram impactadas e mexidas pelo homem, com mata nativa. O que está acontecendo é um volume de chuva absurdo. A nossa região é de muita rocha e a cobertura de terra não é tão grande. Aí a água se infiltra por baixo e quando ela movimenta, ela vem descendo. O que tem que fazer é: na parte de baixo dessas encostas não ocupar mais.
Sobre o incidente na Zona Norte, que resultou na morte do servidor da Codeca, na manhã deste domingo, o prefeito explica que nem mesmo a contenção construída ali foi suficiente para impedir o deslizamento de terra.
— A água acabou invadindo o mato e desceu um morro de um volume impressionante, porque ali nesse complexo, nós tínhamos feito toda uma contenção dentro do indicativo que a engenharia recomendava, então não era uma área que tivesse com descuido ou falta de prevenção. O terreno está muito encharcado. Para se ter uma ideia, na região de Caxias do Sul, em 10 dias a previsão de precipitação é de 900 milímetros e, a média anual, é 1.820. A natureza está nos apresentando uma conta muito forte, o ser humano vai ter que mudar muito o seu comportamento em relação à natureza, porque nós não vamos ter estrutura.
Protagonismo do aeroporto de Caxias
Com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (pelo menos até o final do mês de maio), Adiló disse, durante a entrevista à Gaúcha, que Caxias do Sul virou referência no transporte aéreo de cargas de donativos e passageiros. Desde a última segunda-feira (6), aviões e helicópteros aterrissam no Aeroporto Regional Hugo Cantergiani com doações para vítimas da chuva que atinge o Rio Grande do Sul.
— Caxias acabou se tornando um corredor humanitário. Pedimos ajuda na segunda-feira (dia 6) e fomos atendidos na questão do espaço aéreo, porque o nosso aeroporto trabalha com equipamentos, mas dentro da proporção para os voos que ele tinha autorização. A Força Aérea Brasileira assumiu e está nos dando um apoio muito grande — detalhou Adiló.
Desde então, o Aeroporto Hugo Cantergiani já recebeu dois controladores de voo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e dez operadores de solo, disse o prefeito à rádio Gaúcha.
— Acredito que o aeroporto, dentro daquilo que está sendo demandado hoje, graças ao apoio do Exército, aqui local, da Força Aérea Brasileira, da ANAC, da Secretaria de Aviação, do Governo do Estado, o aeroporto de Caxias do Sul está conseguindo dar uma resposta bem satisfatória.