A trágica cheia ocorrida no início de setembro no Vale do Taquari — e que também atingiu cidades da Serra — trouxe à tona discussões a respeito de medidas para evitar alagamentos ou mesmo reduzir os danos de enxurradas. As ações debatidas incluem sistemas de alertas eficientes, mas também formas de reter ou retardar o avanço das águas.
Cortada apenas por pequenos arroios e com a área urbana afastada de grandes rios, Caxias do Sul possui características geográficas diferentes do Vale do Taquari. No entanto, os altos e baixos do relevo já produziram alagamentos impactantes no passado, como a cheia histórica nos bairros São José e Santa Catarina, em fevereiro de 2012. Na época, ruas importantes e até mesmo o ginásio do Enxutão, às margens do Arroio Tega, ficaram alagados.
O fenômeno foi o gatilho para a construção de quatro tanques de retenção de águas pluviais, também conhecidos como piscinões. Instalados em áreas sensíveis da cidade, os reservatórios acumulam água da chuva coletada por bueiros e controlam a liberação para o restante da rede. Sem receber grandes volumes de forma simultânea, os canais da cidade conseguem escoar a chuva com menor possibilidade de transbordamento. As estruturas ficam no bairros Pôr do Sol, Pio X, São José e Fátima (confira no infográfico abaixo).
— Eles são de extrema importância. Onde o município conseguiu executar os piscinões não tivemos mais problemas de alagamento — observa o secretário de Obras, Norberto Soletti.
De fato, o sistema atual resistiu ao mês de setembro, um teste para qualquer rede de escoamento devido aos volumes de chuva históricos registrados no Estado. Somente em Caxias do Sul, por exemplo, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) marcou 417,6 milímetros de chuva ao longo do mês passado. O índice representa mais do que o dobro da média histórica de 193 milímetros para setembro na cidade.
Por conta disso, o município segue apostando em soluções do tipo e contratou financiamento para implementação de outros quatro reservatórios. Eles vão ficar nos bairros Cruzeiro, De Lazzer e Nossa Senhora das Graças. O contrato para obtenção de R$ 23,7 milhões foi assinado no fim de agosto com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).
— Esse é um processo que vai ser contínuo dentro da prefeitura para poder realizar essas obras e contemplar as regiões que ainda sofrem com algum tipo de alagamento — destaca Soletti.
Contratação até o fim do ano
De acordo com a Secretaria de Obras, embora já haja os R$ 11,9 milhões previstos para a construção dos novos piscinões, ainda são necessários trâmites para torná-los realidade. Atualmente, existem apenas projetos básicos, e a pasta trabalha na elaboração dos projetos executivos, que guiarão a construção e permitirão o cálculo de um orçamento mais preciso para as obras. A expectativa da secretaria é lançar as primeiras licitações ainda neste ano.
As intervenções do pacote, contudo, devem ter início por redes de drenagem de 866 metros em ruas do bairro Charqueadas e não pelos piscinões. As vias que vão receber a tubulação são a Rua Dos Lírios, a Cristiano Ramos de Oliveira, a Jacy Antônio Meirelles, a Rua dos Crisântemos e a Paulo Turcatti. Outra rede de 755 metros também deve ser implantada em ruas dos bairros Esplanada e São Caetano. Ambas integram a microbacia do Arroio Belo e juntas devem custar R$ 8,3 milhões.
O financiamento obtido pelo município também vai permitir a elaboração do Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais. O documento é uma exigência da Lei do Saneamento, norma federal que entrou em vigor em 2007, e vai permitir mapear toda a rede de drenagem da cidade, já que atualmente há galerias antigas que não são de conhecimento da administração. Além de facilitar o reparo das tubulações comprometidas, a existência de um Plano Diretor também facilita o planejamento para a expansão do sistema, inclusive com o dimensionamento adequado. O estudo está orçado em R$ 4,4 milhões.
— É uma necessidade que o município tinha há muito tempo e que agora, em função desse financiamento, é viável de ser feito — afirma Soletti.