Uma semana após anunciar uma força-tarefa para abordar e recadastrar pessoas em situação de rua, a prefeitura de Caxias do Sul divulgou um balanço das ações no período. Ao todo, nove pessoas foram encaminhadas para serviços de acolhimento, sendo que duas delas receberam auxílio para passagem, já que manifestaram o desejo de retornar para a cidade de origem. Além disso, outras três foram encaminhadas para o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e uma teve consulta agendada em um posto de saúde pelo consultório na rua. A prefeitura não informa o total de abordados.
A força-tarefa integra as medidas apresentadas pelo prefeito Adiló Didomenico em 26 de fevereiro, após o assassinato de José Monteiro da Silveira, 34 anos. Ele foi morto enquanto passeava com o cachorro na noite de 24 de fevereiro. O suspeito do crime, que estaria em situação de rua, foi preso na madrugada de 25 de fevereiro e denunciado nesta quarta-feira (6) pelo Ministério Público (MP) por homicídio.
As abordagens são realizadas diariamente na área central de Caxias por equipes formadas por servidores da Fundação de Assistência Social (FAS), Codeca, Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e Guarda Municipal. O foco é o cadastramento e oferta de serviços de acolhimento.
— Estamos unindo forças para realizar acolhimentos, para providenciar passagens para quem quer voltar para as cidades de origem e ofertar os serviços disponíveis pelo município — explica o titular da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, Paulo Roberto Rosa da Silva.
Durante as abordagens também são identificadas pessoas que têm antecedentes policiais. Nesse caso, como havia mandado de prisão em aberto, houve prisões. Contudo, Silva ressalta que a maior parte das pessoas em situação de rua são dependentes químicos.
— A grande maioria, infelizmente, vive em duas situações, ou alcoolismo ou dependência química. Às vezes, ambas. Então, é uma abordagem cuidadosa, em busca até mesmo da recuperação, para que ela possa voltar ao convívio familiar, ao mercado de trabalho, em busca de uma nova vida. Temos aqueles que perderam o emprego e vivem uma série de situações que os levaram a essa situação de rua — afirma o secretário.
Objetos em calçadas
Uma das ações anunciadas pelo prefeito Adiló foi a "desobstrução da entrada de bancos, do passeio público e dos locais que fornecem alimentos". Conforme o secretário de Segurança Pública e Proteção Social, a equipe tem conversado com as pessoas, principalmente quando os objetos atrapalham o passeio público:
— Conversamos para convencer eles a aceitarem o acolhimento e deixar esses pontos onde ficam. E aí recolhemos esse material onde costumam dormir e o espaço é limpo — explica.
Segundo Rosa, há muitos pontos em que já foi registrada infestação de pulgas, restos de comida e sujeira, atrapalhando a passagem dos demais pedestres.
— Em determinados momentos, em locais de passeio público, ele é avisado que deve sair do local. Aí, é fornecida toda a assistência. Mesmo que não queira sair, vai ser recolhido o material que atrapalha o passeio público. E será avisado que ele precisa sair daquele local ou ser acolhido.
No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que governos estaduais e municipais não podem realizar a remoção e o transporte compulsório de pessoas em situação de rua. Também é proibido o recolhimento de bens e pertences dessas pessoas sem que eles permitam.
Em coletiva de imprensa no dia 26, a prefeitura também anunciou uma nova opção de acolhimento a ser implantada no bairro 1º de Maio, com hospedagem solidária e restaurante popular, além da distribuição de placas informativas para alertar sobre a forma considerada correta pela prefeitura para auxiliar as pessoas em situação de rua. Ainda não há previsão para essas ações.
Casas de passagem
As pessoas que estão na rua e aceitam acolhimento são levadas para uma das casas de passagem de Caxias. No total, são três: a Carlos Miguel, a São Francisco de Assis e a Santa Dulce, que fornecem 120 vagas para acolhimento. Há ainda espaço para quem quer apenas pernoitar nos locais. Para quem fica abrigado, além de alimentação e acomodação, há assistência médica e psicológica e ajuda para voltar ao mercado de trabalho. As três casas são coordenadas pela Associação Mão Amiga, com repasse de recursos da Fundação de Assistência Social (FAS).
A reportagem da RBS TV conversou com dois abrigados. Um deles se mudou para Caxias do Sul há cerca de um ano em busca de tratamento médico para um câncer e acabou vivendo na rua.
— A assistência social me encaminhou para a casa e aqui eu me sinto amparado de forma completa. É a mesma coisa de estar em casa e faço tratamento de saúde contínuo.
O outro caso é semelhante. O homem era morador de Santa Cruz do Sul e veio para Caxias para tratar a dependência química.
— Aqui eu estou conseguindo essa luz no fim do túnel que estava esperando. Graças a Deus está dando certo. Desde o dia em que eu vim para a casa, as coisas começaram a caminhar melhor na minha vida. Desde o dia que tu chega até o momento que tu sai, o pessoal te trata com carinho, com respeito. Te encaminham para emprego, ajudam com os problemas. Estão ali para ajudar da melhor maneira possível. Pretendo dar sequência na minha vida, trabalhando bastante e, talvez, conseguindo ajudar pessoas na mesma situação que eu.
A presidente da FAS, Geórgia Ramos Tomasi, afirma que um dos desafios é evitar que as pessoas voltem para as ruas. Ela explica que os educadores sociais trabalham as questões de cidadania e a retomada do protagonismo da própria vida com essas pessoas. Já a equipe técnica encaminha, por exemplo, a documentação.
— Muitas vezes o desafio maior não é levar para o acolhimento, mas conseguir que ele permaneça, com que faça o tratamento de saúde. Esse tratamento é o que vai possibilitar que ele volte a ser protagonista da própria vida, que volte a conversar com os familiares e retome toda a convivência comunitária que ele perdeu.