Em maio de 2020, durante um dos momentos mais críticos da pandemia de covid-19, o Hospital Virvi Ramos, com auxílio do Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs), iniciava uma pesquisa para tentar combater a doença. O estudo tinha como base a transfusão de plasma convalescente (a parte líquida do sangue de pessoas que tinham se recuperado) em pacientes infectados. O tratamento experimental foi esperança em um momento em que ainda não existia um remédio ou vacina contra o vírus. Em 2022, após um segundo estudo, o tratamento foi descartado por não apresentar mudança nos quadros de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), como explica a coordenadora das pesquisas, a infectologista Andrea Dal Bó.
Em um momento singular do mundo, o estudo, que foi realizado também na China e nos Estados Unidos, era uma tentativa de conseguir uma solução com o que havia disponível. Como explica Andrea, este mesmo tratamento já foi utilizado em doenças como Influenza e Ebola.
— Era fácil de ser feito e com resultado rápido. A gente não tinha naquele momento como esperar chegar um antiviral, que depois veio. Naquela ocasião, era o que tínhamos disponível e de fácil acesso, que poderíamos fazer na hora — destaca a médica.
O primeiro estudo envolveu cerca de 50 pessoas, que receberam a transfusão e tiveram os quadros comparados com outros 50 pacientes que não receberam o tratamento experimental. A conclusão é que o método apresentava alguma melhora quando utilizado nos estágios iniciais do coronavírus. Ele foi concluído em fevereiro de 2021, com a chegada da vacina contra a covid-19.
— Ele não mostrou resultado para pessoas que estavam em UTI. Depois, surgiram outros estudos que mostraram que o plasma, que o local dele, era mais precocemente (nos estágios da doença). O plasma tem por objetivo criar imunidade. Você pega imunidade por alguém que já passou pela doença e passa essa imunidade para quem está no início da doença para que os anticorpos possam agir, diminuir a quantidade de vírus e evitar toda a consequência que a gente viu com a covid — explica a médica.
A partir da aplicação da vacina, um segundo estudo foi iniciado. Nele, voluntários recebiam o plasma de pessoas vacinadas. O teste sofreu com a falta de voluntários com anticorpos necessários e com a falta de financiamento. Quando o estudo conseguiu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ele foi interrompido com a chegada do antiviral Nirmatrelvir no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2022.
— Paralelamente a isso veio o antiviral, que foi incorporado pelo SUS. No momento que tinha uma medicação mais fácil de ser administrada, oral, sem efeito colateral, e pelo SUS, não víamos porquê dar continuidade a esse estudo — relata Andrea.