O clima tem sido determinante para a colheita dos frutos de inverno na Serra. Por causa da estiagem e das altas temperaturas, a produção de caqui, por exemplo, não deve passar de 25 mil toneladas na região, quantidade 17% menor do que registrada em 2021. O fruto, porém, não é o único afetado. Laranjas e bergamotas, que são colhidas entre o outono e o inverno, devem seguir a mesma tendência. Além disso, os consumidores de Caxias do Sul e região devem encontrar frutas menores nesta temporada.
No caso do caqui, agricultores relataram que a safra iniciou 10 dias antes por causa do calor, que acelerou o seu amadurecimento. O resultado é um fruto com calibre menor e alguns ainda aparecem "manchas" causadas pelo sol forte. E por conta disso, os produtores estão sentindo o fruto ser desvalorizado na hora da venda.
— Pela seca que deu e queda de granizo que a planta sofreu, eu tive que aumentar a adubação para poder salvar as plantas — relatou o agricultor Rodanes Cavalli, em entrevista para a RBS TV.
Com a produção menor, naturalmente, há menos caqui para abastecer os mercados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Por isso, a expectativa é que o quilo da fruta fique na faixa de R$ 2,20 neste ano.
Colheita atrasada em certas variedades de bergamota
Se no caso do caqui o calor acelerou a colheita, em variedades precoces de bergamota e de laranja a estiagem fez atrasar o processo. Justamente por estar no início da colheita, ainda não há dados estimados da safra para este ano. Porém, assim como tem ocorrido com o caqui, as primeiras frutas já apresentam um calibre menor e estão com o desenvolvimento afetado. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater Enio Todeschini, há variedades de bergamotas como a satsuma e a poncã, por exemplo, que estão atrasadas em um mês na Serra. A expectativa é que variedades tardias, como a montenegrina, ainda possam ter um resultado melhor.
— Em função da estiagem, as variedades de ciclos médio e tardio ainda podem se recuperar. Elas foram prejudicadas no começo da frutificação, enquanto as outras (precoces) foram em toda frutificação. Só no final que pegaram um pouco de chuva — explica Todeschini.
Em 2021, a Serra teve uma colheita de 450 toneladas de bergamotas e laranjas, numa área total de 2.370 hectares — dividida em 1,1 mil hectares para bergamoteiras e 1,27 mil para laranjeiras. Segundo a Emater, já no ano passado, a safra ficou 15% abaixo da média por causa da estiagem e por geadas tardias. As frutas produzidas na região servem para abastecer os mercados regional, estadual e do Sul do Brasil.
Em 2021, colheita de 10 toneladas, agora, será de 4 toneladas
Na propriedade de Volnei Dallegrave, em Caravaggio da 3ª Légua, a safra da bergamota poncã está atrasada. O agricultor, que também cultiva uva e hortaliças, nota ainda que o tamanho da fruta está menor. Da variedade precoce, o produtor rural da Serra tem uma área com 200 árvores, que deve gerar quatro toneladas da fruta neste ano, quando no mesmo período, em 2021, a poncã rendeu 10 toneladas.
— A seca que teve no verão foi horrível. Não é só deste ano que a seca está dessa forma. A seca no Rio Grande do Sul já vem se prolongando há três, quatro anos. Essa foi a pior da história — lamenta o produtor, que vende as bergamotas para uma rede de supermercados da região.
Geralmente, Dallegrave e os familiares começam a colher a poncã entre o fim de abril e o começo de maio. Para esta temporada, o trabalho deve começar apenas no fim de maio — sem contar com as melhores condições para a fruta.
— Ela (a bergamota) teria que estar em um processo do dobro de formação. Ela não se desenvolve por falta de água. O que fica na parte de dentro, que é o gomo da bergamota, tem que encher e a água é o que faz encher. Sem água, ela enxuga — explica o produtor.
Para as variedades tardias, como a montenegrina, um clima com mais chuva pode melhorar a safra. Mesmo assim, Dallegrave também prevê perdas para esse tipo de bergamota.
— Pode se ter uma perda porque a seca também prejudicou a planta. Ela abortou muitas flores, se perdeu muito também na montenegrina — analisa o agricultor, que calcula uma produção menor neste ano, ainda sem conseguir dimensionar o percentual.
"Vai se perder na questão da qualidade", diz agricultor
Em Vila Cristina, Rafael Potter, 50, e o filho Lucas, 23, sentem os efeitos da estiagem há pelo menos três anos. Produtores de diferentes variedades de laranja e bergamota, os agricultores notam os primeiros efeitos deste ano na laranja salustiana, que teve um atraso de 20 dias na colheita.
A maior diferença para os anos anteriores deve ser mesmo o tamanho da fruta. Os números de produção devem ser parecidos com das últimas três safras, abaixo das de anos anteriores quando a chuva era mais abundante. Em 2018, a família chegou a colher 180 toneladas, contando com todas variedades. Desde que a falta de chuva começou a afetar a região, os produtores comentam que tiveram "uma queda considerável". Entre 2018 a 2021, Rafael Potter revela que a perda acumulada foi de 38%. A expectativa para este ano é manter, pelo menos, a colheita do ano passado.
— Vai se perder um pouco na questão da qualidade. Vai dar uma fruta mais miúda — relata Rafael.
Entre as variedades precoces, a Serra ainda tem colheita das laranjas do céu e de umbigo —essa segunda, para a família Potter, também está com a colheita atrasada por causa dos efeitos climáticos.
Produtor deve colher metade do que havia projetado
A Serra também conta com a produção de kiwi, em escala muito menor do que culturas como laranja, bergamota e caqui. A Emater calcula que há 150 hectares destinados à kiwicultura na região e 175 hectares em todo Rio Grande do Sul. Se o fruto já não era o preferido dos produtores na última década, a estiagem deixou o cenário ainda mais complicado. De acordo com Enio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater, o kiwi está menor nesta safra, bem como os outros frutos.
Quem comprova a situação é o agricultor Vilmar Mazzochini, 51, um dos poucos produtores que ainda trabalha com o fruto na Serra e o vende na Feira Ponto de Safra da Rua Moreira César, em Caxias do Sul. A estimativa era de colher cinco toneladas neste ano, mas a estiagem e, depois, uma chuva de granizo recente, cortaram a produção pela metade.
— O kiwi foi afetado pela estiagem bem na época que ele estava em formação. Então, ele não ganha tamanho. Aqui (no Ponto de Safra), ainda dá para vender que não é exigido um tamanho. Mas, se fosse para vender no mercado, perderia praticamente tudo — afirma Mazzochini.
Por ter pouca produção na região e a procura não ser grande, o kiwi pode até ter uma queda no valor, segundo Todeschini. No começo da colheita, em abril, o quilo estava na faixa de R$ 4.