Dados da Emater Regional da Serra indicam que a área cultivada com kiwi teve redução de 54% na região nos últimos 10 anos por causa da ação do fungo Ceratocystis Fimbriata. Em 2010, no auge da produção, só em Farroupilha, eram 130 hectares (cada hectare equivale a 10 mil metros quadrados) cultivados por 80 produtores rurais. Atualmente, o município tem 60 hectares cultivados por 42 kiwicultores. Ou seja, o número de produtores teve praticamente o mesmo índice de queda (47%).
Mesmo assim, segundo o coordenador da Área de Frutas e Hortaliças da Emater Regional Serra, Enio Ângelo Todeschini, Farroupilha é o maior produtor do Estado com quase 35% da área gaúcha cultivada, e a Serra tem a fatia de 87,2% do total do Rio Grande do Sul, com 150 hectares e 124 fruticultores em 14 municípios. O Estado tem 172 hectares da cultura e 145 kiwicultores. Ainda conforme Todeschini, 90% da produção de kiwi do Brasil está concentrada na Serra.
Porém, essa área cultivada na Serra é composta também pelos vazios deixados pela ação do fungo que vem dizimando kiwizeiros ao longo dos anos. Isso fica mais visível quando se compara a produção por hectare na última década. Em 2010, era de 20 toneladas, agora é de nove. De acordo com Todeschini, além das mortes causadas pelo Ceratocystis, a última safra também foi atingida pela estiagem.
– Contamos a área toda do pomar, mas a densidade populacional de plantas está bem abaixo do padrão agronômico. Isso ajuda a derrubar a produtividade – explica o engenheiro agrônomo da Emater.
No ranking da fruticultura na Serra, o kiwi só ganha da goiaba, cuja produção é inexpressiva. Informações extraoficiais de produtores apontam que o Brasil importa anualmente 30 mil toneladas de kiwi e que a produção nacional não chega a 20% do que é consumido no país. O que significa que há muito mercado a ser conquistado.
A ação da doença
:: A doença causada pela Ceratocystis não tem um vetor de propagação. O fungo fica no solo de onde passa para as outras plantas que estão perto da primeira contaminada e, assim, sucessivamente, ou por meio das ferramentas usadas na poda de uma e outra planta.
:: O estrago provocado pelo Ceratocystis é facilmente percebido nos kiwizeiros. O fungo se caracteriza por matar rapidamente as plantas dos pomares, levando até três meses para concluir o processo. Ao tirar a casca do caule de uma planta infectada, veem-se estrias em um tom achocolatado provocadas pela ação do patógeno.
Produtores esperam mudas livres da doença
O produtor rural Celito Contini relata que o kiwi surgiu como alternativa à cultura da uva que, em 1987, passava por uma crise. Ele começou com 100 pés em uma área 2,5 mil metros quadrados e foi aumentando ao longo dos anos até chegar a quatro hectares cultivados com três mil pés em 2010. Contini lembra que, quando os primeiros kiwizeiros morreram, não se sabia que doença era aquela e ela atingia um ou dois pés.
Atualmente, ele tem um pomar novo no qual adotou as boas práticas desenvolvidas a partir do estudo das instituições sobre a atuação do fungo. Ainda mantém um pomar antigo, de um hectare, mas que está com apenas 20% de plantas vivas. Ele pretende desfazê-lo. A cada ano, 5% da plantação é perdida para o fungo. A ação do Ceratocystis Fimbriata é percebida pelo agricultor na época da brotação, quando a planta começa a murchar até secar.
– Pretendo continuar com a plantação porque o kiwi é uma fruta que eu guardo na câmara (fria) e vendo com o tempo. E temos um retorno bom – conta o fruticultor.
Neste ano, em função do bom período de frio, os dois mil pés sobreviventes ao fungo devem produzir cerca de 50 toneladas da fruta, que é vendida para mercados e para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que abastece o mercado nacional.
O plantio do kiwi é no inverno, mas pode se estender até setembro, mesmo período da poda. A floração ocorre em setembro e outubro. Nessa época, já é possível ver frutinhos nos pés. A colheita é feita manualmente em março e abril. Um pé de kiwi produz até 100 quilos, conforme a variedade e o tempo da planta e clima.
– Está tendo bons resultados, mas é demorado esse processo. Para o ano que vem não sei se vai ter. A gente espera que sim – diz Contini, na expectativa sobre as mudas resistentes.
O início da produção:
:: As primeiras mudas de kiwi chegaram a Farroupilha no final da década de 1980. Naquela época, a uva enfrentava dificuldades na cidade, o que estimulou a busca por uma alternativa mais rentável.
:: Em 1986, a prefeitura descobriu um viveirista local que havia trazido quatro mudas de kiwi de São Paulo e as plantou. Três mudas vingaram, mas, estranhamente, o pomar não dava frutos. Só depois se descobriu que as plantas vivas eram todas fêmeas. Era preciso também a planta macho para realizar a polinização. Ela foi conseguida com um produtor de Novo Hamburgo.
:: Vendo que o kiwi poderia dar certo na cidade, em 1987 a prefeitura organizou uma excursão de Farroupilha até o Chile, um dos maiores produtores mundiais de kiwi, com a finalidade de conhecer mais detalhes sobre o plantio. A comitiva incluiu cerca de 30 pessoas, entre produtores locais e funcionários da administração pública.
:: Naquele momento agrônomo da prefeitura, Gervásio Silvestrin era um dos integrantes do grupo. Silvestrin trouxe uma série de livros e informações sobre a cultura. Em 1989, foram importadas 10 mil mudas daquele país. No ano seguinte, ainda houve importação. Depois disso, já eram utilizadas as mudas produzidas por Silvestrin e outras trazidas de São Paulo.
:: A escolha pelo kiwi como alternativa para a economia farroupilhense não foi por acaso. A origem do kiwi é de uma região da China muito úmida. A fruta precisa de frio no inverno e se adapta bem à umidade da Serra.
:: A primeira variedade que chegou ao município foi a Hayward, que está entre as mais consumidas, mas ela precisava de mais frio do que a Serra Gaúcha pode ofertar. Por aqui, a variedade Bruno se desenvolveu melhor, porém, ela não é das preferidas para exportação.
:: As primeiras toneladas de kiwis farroupilhenses começaram a ser colhidas em 1989. A partir daí, veio a ideia de criar uma festa voltada a essa variedade, o que ocorreu em 1991.