Quando a pergunta é os desafios enfrentados na lida do agro, duas respostas são unânimes: os custos com os sequentes aumentos dos insumos e a falta da mão de obra qualificada e de sucessores para seguir tocando as propriedades.
– Hoje, temos carência de mão de obra qualificada na agricultura, quanto à sucessão familiar, o que nos preocupa enquanto município, por ser um trabalho pesado. Embora tenha toda uma tecnologia, ainda precisa do trabalho braçal, e hoje nós temos o fato de que esse trabalho pesado, as dificuldades, o custo de produção afasta o sucessor, o filho do agricultor – afirma o secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto.
Ao contar os esforços feitos para formar os três filhos (uma em Nutrição, outra em Biologia e o filho que se forma em Ciências Contábeis), o agricultor José Guerra se emociona. Ele e a esposa esforçaram-se para conseguir dar um futuro longe do campo para os filhos, evitando que eles passassem pelas mesmas dificuldades.
– Um fator de não ter incentivado a gurizada em ficar na colônia é por isso. Não tem incentivo, chegou na nossa época de se aposentar e foi muito difícil, tivemos que provar mil e uma coisas sendo que sabíamos que sempre fomos agricultores. Perdi três anos com eles negando a aposentadoria e, quando consegui me aposentar, não ganhei os atrasados. A gurizada vendo isso, não se animaram, preferiram seguir (para outra área). Na época foi muito sofrido para elas estudar, porque elas estavam aqui ajudando, iam de ônibus, mas a gente fez o possível para conseguir pagar a faculdade. A (filha) mais velha, quando não tinha ônibus, eu saía do campo, levava ela para a faculdade, ficava lá esperando – conta Guerra, com lágrimas nos olhos.
Ao lado do marido, Lurdes defende que, se houvesse mais incentivo em casos de estiagem e intempéries, eles “não ficariam tão para baixo”. O casal segue pagando os insumos da safra anterior, perdida em uma queda de granizo em fevereiro deste ano.
– É quase impossível de comprar, às vezes o preço (do insumo) não compensa o do produto que vai vender. O custo é tão alto que às vezes pagamos para trabalhar. Mas essa é nossa vida, eu não sei fazer outra coisa. Eu não me imagino fora, vivendo na cidade. Enquanto a saúde nos permitir, ficaremos aqui. Não nascemos para viver em contato com o movimento. Só que a gente gostaria de ser mais valorizado, porque as nossas coisas só têm preço quando vão para o mercado. Quando vamos lá, ficamos pensando: “lá na colônia é uma migalhinha, aqui para consumir tem que pagar caro” – afirma Lurdes.
MESMA SITUAÇÃO NA MÉDIA PROPRIEDADE
O mesmo problema vivido pela agricultura familiar, também desafia o médio produtor. Na Granja Andreazza, os colaboradores recebem moradia, para não ter que se deslocar da cidade diversas vezes, mas isso não diminui a dificuldade em encontrar mão de obra.
– Estamos com muita dificuldade em qualidade de mão de obra, é bem complicado. Nós temos que dar toda a estrutura para o funcionário, fazer a casa, para ele vir, estar aqui perto, dar um pouco de conforto e ele ficar aqui, mas é difícil de manter, sempre tem algum problema – conta Cláudio Andreazza, à frente da Granja Andreazza, que se diz "sortudo" pelo interesse do filho, Mateus, em tocar os negócios, o que não ocorre na maioria das propriedades.
Outro desafio é o custo dos insumos na produção e na operação, segundo Andreazza:
– Nós passamos uma seca muito terrível. Ano passado, onde colhemos mil sacos de milho em uma área, esse ano colhemos 100, não pagou nem um terço dos custos. Temos que arcar com tudo isso. E quando a gente achava que ia melhorar, que ia acabar a seca, vem essa guerra, o adubo vai lá pra cima, o combustível explode. Hoje, uma máquina colheitadeira é R$ 1,2 mil, R$ 1,4 mil de diesel por dia. É mais que um salário mínimo para uma máquina por dia.
Hoje, os insumos são cotados por dólar, e com a guerra entre Rússia e Ucrânia, tanto os adubos e outros produtos, como também o combustível, tiveram aumento.
Escola incentiva jovens a ficar na zona rural
Para incentivar a permanência dos jovens na zona rural, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa) oferta bolsas de estudo em ensino profissionalizantes. Este ano, 31 bolsas estão sendo disponibilizadas, com valor mensal de R$ 150, de março a dezembro. As inscrições são gratuitas e prosseguem até o dia 29 de abril.
– Nós temos a Efaserra (Escola Família Agrícola) que é um exemplo em Caxias, ela abrange 30 municípios da região e nós contemplamos com bolsas para jovens do município, para filhos de agricultores que se enquadram e querem continuar na atividade. Além da parte da escola, de fazer o Ensino Médio, ele faz o projeto na sua propriedade para ele ficar lá, continuando com a atividade agrícola, tão necessária para a produção de alimentos no país – comenta o secretário Rudimar Menegotto.
A Efaserra, na localidade de São Pedro da 3ª Légua, área rural e turística no interior de Caxias, oferece curso de Técnico em Agropecuária simultâneo ao Ensino Médio, mais o programa Aprendiz Rural (versão rural do Jovem Aprendiz). Desde a criação, em 2013, já foram seis turmas diplomadas em Técnico em Agropecuária, formando um total de 89 jovens. A última formatura foi agora em 9 de abril.
Os alunos são de 33 municípios da Serra, Vale do Caí, Hortênsias e Região Metropolitana de Porto Alegre. Após formar seis turmas, a instituição estima que cerca de 80% dos alunos permaneceram em suas propriedades depois dos estudos.