A transferência dos recicladores da Rua Cristóforo Randon, em Caxias do Sul, para um pavilhão, depende do leilão de áreas da massa falida da empresa Voges Metalurgia Ltda. Considerado um dos projetos mais complexos e emblemáticos do atual governo, a obra será tirada do papel em parceria com a iniciativa privada. O assunto, que envolve o aspecto social, porque inúmeras pessoas vivem da reciclagem no local, também compromete o trânsito na região do bairro Eusébio Beltrão de Queiróz e até mesmo o acesso ao estádio Centenário, na entrada da cidade. Isso sem falar na questão ambiental em função do acúmulo de lixo no local e da propagação de animais, como ratos e baratas, e ainda remete às condições precárias nas quais trabalham os catadores para se sustentar e manter as famílias.
Os recicladores que atuam dia a dia de maneira improvisada no meio da rua são os que mais esperam uma solução.
— Esse projeto é ótimo. Estamos no aguardo. Os secretários estiveram aqui mais de uma vez, e conversamos, mas não sabemos o passo a passo, o que está acontecendo agora. Estamos ansiosos — conta Ana Souza, uma das representantes dos trabalhadores.
Ela aponta que hoje, mais do que querer ir para outro espaço, a mudança se tornou uma necessidade:
— Precisamos de um lugar, não é uma questão de querer ir, é urgente e necessário que a gente saia da rua. É uma questão de preservar a vida porque aumentou muito o número de recicladores, expandiu e tem muita gente na rua, e temos que sair dali e ir para um local bom e seguro. Nós corremos riscos na rua. Às vezes, passam caminhões por ali e arrastam os nossos equipamentos, é perigoso para todos nós estar ali.
O que diz o município
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Élvio Gianni, estão em andamento os procedimentos referentes à massa falida da Voges. Na listagem estão terrenos que são parte do campo suplementar da Ser Caxias, ao lado do principal, no estádio Centenário. A construção do pavilhão depende dessas terras irem a leilão novamente e serem compradas pela iniciativa privada que irá doar os terrenos ao município. A área já foi a leilão em julho do ano passado, mas não houve interessados à época.
— Estamos fazendo o trâmite jurídico. Tem a compreensão do juiz, mas agora ele precisa fazer alguns outros trâmites legais, especialmente, de leilão, para que esses empresários comprem esses terrenos. Depois, eles fazem por contrapartida, doam a área para o município e construímos em conjunto o pavilhão. Acreditamos que ainda esse ano ocorra a construção. Um dos engenheiros já avaliou a área e temos a aprovação do Caxias (clube) e estamos aliados com empresários do entorno — garante ele.
Ainda conforme o gestor público, não há data para o novo leilão:
— Importante ressaltar que a definição de uma data para o leilão acontecer é de competência do juiz e não do município.
Enquanto isso, a prefeitura tenta implantar ações paliativas:
— Solicitamos ao Trânsito e à Codeca para ir lá pessoalmente conversar com eles (recicladores) para que nos ajudem com o acesso, especialmente nos dia dos jogos. Pedimos para que não coloquem mais material ali e também para que a frequência de remoção seja mais rápida pela Codeca para que não tenha tanto acúmulo de sujeira e a rua fique mais limpa, e tenha mobilidade na via.
O projeto
A ideia, segundo Gianni, é construir um pavilhão pré-moldado e dividir em até cinco ou seis espaços menores e bem estruturados para que os recicladores fiquem bem instalados.
— Fizemos um primeiro decreto (de utilidade pública), onde são 10 terrenos, que pegaria o final da Cristóforo Randon. Indo lá, pessoalmente, percebemos que pegaria uma parte do campo suplementar do Caxias, e não podemos resolver um problema e criar outro, especialmente, para o clube. Por sugestão do clube, fizemos outro decreto, que também são 10 terrenos, mas na parte final, que não pega nada do campo suplementar, e que, atrás, pela parte da Coocaver (Cooperativa de Consumo dos Consumidores Autônomos de Veículos Rodoviários de Caxias) tem o portão. A ideia é que o acesso seja por esse portão e tem o espaço para colocar os carrinhos deles (recicladores). Eles precisam de melhores condições de trabalho, de dignidade para trabalhar, de proteção do frio e da chuva. Será um local organizado, regrado e, depois, sim, entra a questão da revitalização da rua.
UAB também cobra posição sobre o assunto
A construção do pavilhão será tema de um encontro entre o presidente da União da Associação de Moradores dos Bairros (UAB), Valdir Walter, e o prefeito Adiló Didomenico (PSDB). Na terça (2), o presidente da entidade, solicitou que seja marcada uma data para conversar com o município sobre o tema. A prefeitura confirmou o recebimento do pedido que será encaixado na agenda do prefeito, em elaboração.
— Os moradores da região têm cobrado que a situação seja resolvida. Nos sentimos pressionados porque a comunidade não aguenta mais essa situação. Estamos buscando uma solução, tem mal cheiro, ratos e insetos. Por outro lado, tem todo o aspecto social porque os recicladores tiram o sustento dali, a sobrevivência deles depende do lixo. Queremos ver como está o andamento do projeto, se tem um prazo, novidades — diz o presidente.
Ele ressalta que a remoção é a única alternativa para resolver o problema:
— Colocar o pessoal em um pavilhão é o melhor para eles, para a cidade, para quem vive no entorno. Temos que cobrar uma solução, não algo paliativo, porque passa o tempo e nada é resolvido.