A prefeitura de Caxias do Sul está decidida a retirar os recicladores da Rua Cristóforo Randon, no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz. A ideia inicial é estruturar um pavilhão para receber os trabalhadores. Além de resolver a sujeira e os tumultos na via pública, reclamações constantes dos moradores do entorno, a intenção é vincular estes recicladores ao poder público, como já acontece com outras 12 unidades de reciclagem da cidade. A elaboração do projeto do pavilhão reúne oito secretários municipais e lideranças comunitárias, mas ainda não tem valores ou prazos definidos.
A Rua Cristóforo Randon foi alargada e revitalizada em 2016, com um investimento de R$ 5 milhões. No ano seguinte, a via já gerava reclamações sobre entulho e lixo espalhado. Até seis recicladoras funcionaram no trecho, mas nenhuma regularizada junto à prefeitura.
Além da sujeira, a situação também virou um problema de segurança pública. O relato de moradores, que não se identificam por medo de represálias, é que muitos usuários de drogas vendem materiais recicláveis na Rua Cristóforo Randon e, com o dinheiro, compram e consomem crack no bairro.
Nos últimos quatro anos, diversas reuniões e promessas aconteceram pela prefeitura. A atual gestão, a do prefeito Adiló Didomenico, garante que solucionar o problema da Rua Cristóforo Randon é um compromisso. A proposta da construção do pavilhão e da vinculação dos recicladores à prefeitura é liderada pela secretaria de Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego.
— É um compromisso do prefeito. É um assunto complexo que envolve todos os tipos de problemas. Talvez seja o local mais crítico de Caxias. É um problema social e, para resolvermos, só com a ajuda da comunidade — defende o secretário Élvio Luis Gianni.
O titular da pasta de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego diz que já foram realizadas diversas tentativas de retirar os recicladores da Cristóforo Randon e fazer uma limpeza da via pública, mas que o problema sempre volta:
— A ideia é construir um local com estrutura e organização para oferecer a estes recicladores. Queremos tirá-los daquela situação crítica e colocá-los em uma condição favorável, onde possam trabalhar com regramento e recebendo materiais da Codeca.
O diagnóstico da prefeitura é que a maioria dos recicladores da Rua Cristóforo Randon não é moradora do bairro Euzébio Beltrão de Queiróz. Ainda assim, é necessário que este pavilhão fique próximo à área central, que é a referência destas pessoas para o seu trabalho. A busca por essa localização ideal é o primeiro passo a ser resolvido, segundo Gianni, que não dá um prazo para que esta etapa seja realizada.
O secretário de Desenvolvimento Econômico também pondera que há diversas pessoas e entidades que já atuam no local. A missão da prefeitura, portanto, seria unir estes esforços e buscar uma solução definitiva. A própria comunidade local e os recicladores concordariam com a mudança.
— 90% dos recicladores não são dali, muitos são até de fora da cidade. Ninguém quer que fique como está. Este é um bom começo, mas, pelo formato e contextualização, não conseguiremos resolver tão rápido quanto gostaríamos. Não estamos pensando em tempo, mas em consistência. Encurtar caminho não foi uma solução antes — conclui o secretário Gianni.
Após a remoção dos recicladores e do entulho, a prefeitura deve realizar uma revitalização da Rua Cristóforo Randon. Esta proposta também está em avaliação e conta com sugestões de artistas e lideranças comunitárias do Euzébio Beltrão de Queiróz.
Moradores não têm esperança
A questão do entulho na Rua Cristóforo Randon, prejudicando até a circulação de veículos, foi o ponto inicial de reclamações por parte dos moradores. A sujeira acumulada causa a proliferação de ratos, baratas e moscas varejeiras que invadem as casas, segundo relatos. O barulho à noite e as constantes brigas no local também perturbam que mora no bairro.
— Está uma vergonha, é nojento. Os moradores estão tentando sair pois não enxergam uma solução. Tem uma reciclagem que está envolvida com o tráfico, dá medo de falar. É praticamente um trabalho escravo com estes usuários — descreve um morador que tem a identidade preservada por segurança.
Além da prefeitura, os moradores já acionaram a Câmara de Vereadores e o Ministério Público (MP). Foram várias tentativas ao longo dos anos, incluindo abaixo-assinados.
— A comunidade está perdendo a esperança. (Os envolvidos nestas recicladoras) não são moradores do bairro, as pessoas confundem — afirma o morador.
BM monitora o local
A Brigada Militar (BM) diz que não há ocorrências ou denúncias recentes relacionadas à Rua Cristóforo Randon ou aos papeleiros que trabalham e vivem no local. Os únicos registros nos últimos anos são dois acidentes de trânsito naquele trecho. No entanto, o comando do 12º Batalhão de Polícia Ostensiva (12º BPM) sabe que a região é de movimentação de usuários de drogas.
— Sabemos do problema social e por vezes participamos de ações conjuntas. O comércio de drogas acontece mais para cima, nas escadarias, e em outros locais onde já tivemos prisões por tráfico. É uma região de movimentação de usuários e fazemos abordagens constantes, mas se (a pessoa) não é foragida e não tem arma ou droga, não há nada que possamos fazer. O que é necessário é uma ação mais social — opina o major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º BPM.
Quem tiver informações sobre tráfico de drogas ou outros crimes pode denunciar pelo aplicativo Whatsapp no número (54) 98414-1178. Não é preciso se identificar.