A população de Caxias do Sul ainda tem uma série de dúvidas sobre a venda de carne de cavalo misturada com carne de gado em hamburguerias da cidade. Pelo menos 17 casas de lanches são investigadas por vender produto adulterado, mas o Ministério Público (MP), confirma o nome de duas delas, Miru's Burguer e Natural Burguer Sagrada Família. Isso porque os hambúrgueres vendidos nessas duas lancherias foram analisados, e foi constatado DNA de cavalo nos alimentos. Porém, a credibilidade de diversos estabelecimentos está abalada, e há desconfiança dos clientes, que segundo relatos têm evitado comer o tradicional X, e optado por outros pratos, desde que o Ministério Público desarticulou o abatedouro ilegal em Forqueta.
O Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh) Região Uva e Vinho se reúne a partir das 15h desta segunda-feira (22) para buscar estratégias e minimizar os danos provocados a imagem das casas de lanche da cidade. O Procon de Caxias do Sul também está acompanhando o caso para proteger os consumidores.
O presidente do Segh, Vicente Perini, reitera que acredita que parte dos investigados foi vítima de fornecedores conhecidos no ramos e que omitiram a procedência da carne.
— Nós estamos em busca de respostas, de como aconteceu isso, e como se chegou a uma situação como essa em Caxias do Sul. Queremos saber como essa carne chegou aos restaurantes e estamos tentando conseguir com o MP essa lista com o nome dos restaurantes porque alguns que são investigados tem produção própria de hambúrgueres. Vamos nos reunir com todas as hamburguerias e nosso jurídico para buscar a defesa e conseguir a lista oficial, porque só assim vamos poder apresentar argumentos.
Ele ressalta ainda que a comunidade tem que avaliar bem essa questão para que a credibilidade dos estabelecimentos seja reconquistada:
— O xis de Caxias do Sul é um patrimônio que foi abalado e temos que reverter essa imagem e buscar a confiança do consumidor. Eu não posso acreditar que quem comprava essa carne sabia disso. Temos que defender nosso patrimônio e buscar esses esclarecimentos.
Perini acredita que uma estratégia para restabelecer a confiança é convidar a comunidade para conhecer o processo de compra da carne e da confecção os hambúrgueres:
— Sugeri que mostrem o processo que usam e teve hamburgueria que colocou nas redes sociais o processo que usa, e mostrando a sala de preparação bem montada e higienizada. Que mostrem onde moem a carne, como tempera, como faz o preparo, porque isso a maioria tem. Que eles divulguem de onde compram, mostrem as notas, onde armazenam e comprovem que há cobrança da Vigilância Sanitária e temos todos os cuidados — ressalta ele.
Procon acompanha investigação do MP
O diretor do Procon Jair Zauza explica que o órgão acompanha o caso:
— Aguardamos a conclusão das investigações. Já oficiamos o Ministério Público para nos colocar a disposição e também para nos repassar informações das provas já coletadas, para assim, tomarmos as devidas providências cabíveis.
Para contatar o Procon, a comunidade pode ir até a sede do órgão que fica na Rua Visconde de Pelotas, 449. Além disso, informações para este e outros assuntos podem ser encaminhadas por mensagens para o número (54) 99929-8190.
Dúvidas:
Como saber quais estabelecimentos realmente venderam hambúrguer de carne de cavalo?Até o momento, o Ministério Público comprovou que dois estabelecimentos, Miru's Burguer e Natural Burguer Sagrada Família comercializaram hambúrgueres de carne de cavalo. O dono do Miru's Burguer prestou depoimento como testemunha na manhã desta segunda-feira (22). A defesa da lancheria alega que o proprietário foi enganado por um fornecedor que era conhecido na cidade.
O que pode ser feito para limpar a imagem das hamburguerias de Caxias?
Integrantes do setor se reúnem nesta segunda (22) com os donos de hamburguerias em busca de estratégias para reduzir os danos aos estabelecimentos. Eles vão solicitar a lista de investigados ao MP e também tem usados as redes sociais para demostrar transparência sobre como compram os produtos.
O que os estabelecimentos podem fazer para os consumidores se sentirem mais seguros?Convidar os clientes para conhecer o processo de compra, produção e armazenamento da carne.
Os consumidores podem exigir comprovação aos restaurantes da procedência dos produtos?
Não existe nenhuma lei que obrigue o estabelecimento a repassar tais informações, entretanto, segundo o Procon, por liberalidade, e diante do momento crucial, e até para fidelizar a clientela, seria interessante o restaurante disponibilizar.
Caso o consumidor tenha se sentido lesado o que deve fazer?
Conforme o Procon, como se trata de uma relação de consumo, os consumidores que de alguma forma foram lesados/prejudicados (desde que consigam minimamente comprovar), poderão registrar as suas reclamações junto ao Procon, especificamente contra as empresas já citadas publicamente, das outras empresas precisamos aguardar a conclusão das investigações.
Nesse, caso, por exemplo, se alguém passou mal, e possa comprovar que teve relação com a carne consumida, deve procurar o Procon?
Segundo o Procon, é uma situação bem complicada, pois ficará bem difícil esta comprovação, que talvez necessite de perícia, e daí neste caso, somente por processo judicial. Mas se houver reclamações, o Procon abrirá o processo administrativo para averiguações.
Comercializar carne de cavalo é permitido no Brasil?
Sim, é permitido já que esses animais são considerados espécie de açougue, segundo artigo 10 de decreto 9013, de 2017. Contudo, a carne só pode ser vendida e consumida se os animais forem abatidos em estabelecimentos sob inspeção veterinária, que não era o caso de Forqueta.
Faz mal comer carne de cavalo?
Segundo veterinários não faz mal consumir carne de cavalo, desde que se saiba a procedência. No Brasil, frigoríficos que podem abater cavalos estão inscritos no Serviço de Inspeção Federal (SIF). O selo garante a segurança, a qualidade e a higiene da carne fiscalizada. Em razão da questão cultural, a produção nacional é basicamente voltada para a exportação.
De onde eram os cavalos?
Segundo o MP, parte dos integrantes procurava cavalos pelas ruas, muitos deles já doentes, para comprar. Feita a aquisição, o animal era levado para uma chácara em Forqueta, onde era abatido. Carneado, as partes eram vendidas para um comprador que produzia bifes de hambúrgueres para vender para lancherias. Nesse local, a carne de cavalo era misturada com carnes de outros animais, como perus e suínos, e os bifes eram vendidos embalados para hamburguerias como se fossem de gado. As ONGs, PAC e Soama, acreditam que muitos animais foram roubados dos donos.