O Ministério Público (MP) encontrou uma lista com 17 nomes de hamburguerias durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão na operação realizada na manhã dessa quinta-feira (18) em Caxias do Sul. Para o MP, estes estabelecimentos compravam produtos clandestinos desta organização criminosa que vendia carne de cavalo como sendo de gado.
Um dos proprietários de hamburgueria investigado afirmou ao MP, extraoficialmente, que 60% das hamburguerias caxienses compram carne deste grupo clandestino. As informações preocupam o promotor Alcindo Bastos, que coordena o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Segurança Alimentar. A Vigilância Sanitária irá fazer uma varredura nas hamburguerias da cidade para fiscalizar a procedência e boas práticas das carnes adquiridas pelos estabelecimentos.
Como os estabelecimentos contidos nessa lista ainda serão investigados, os nomes não foram divulgados pelo Ministério Público. Somente em duas hamburguerias, a Miru's Burguer, no bairro Kayser, e a unidade da Natural Burguer do bairro Sagrada Família, foi comprovado o uso de carne de cavalo por meio de testes laboratoriais. Equipes que fazem parte da operação compraram os lanches e encaminharam o alimento para análise no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura em Goiás. O resultado do DNA deu positivo para carne de cavalo.
A operação ocorreu em uma chácara no bairro Forqueta e foi coordenada pelo Gaeco Segurança Alimentar. Dois dos seis presos nessa manhã já foram proprietários de mercados e possuíam um histórico de autuações pela Vigilância Sanitária. Ambos já estão fora do ramo, mas possuíam diversos contatos o que facilitou a venda desta carne clandestina.
Segundo o promotor Bastos, esta organização criminosa abatia cavalos e misturava suas carnes em hamburgueres de gado há pelo menos sete meses. Em uma análise prévia no celular de um desses homens, que seria o principal vendedor, foram encontradas dezenas de hamburguerias e compradores dessa carne que serão investigados. Até a próxima terça-feira (23) devem ser ouvidas 20 testemunhas.
— Da análise dos celulares apreendidos, também verificamos, de forma preliminar, outras negociações bem recentes por parte de estabelecimentos de Caxias do Sul, mas são circunstâncias que terão que ser melhor comprovadas — disse o coordenador do Gaeco - Segurança Alimentar.
Segundo o MP, as hamburguerias não são tratadas como vítimas, pois elas sabiam que compravam carnes clandestinas e sem as devidas práticas sanitárias. Os hambúrgueres encontrados nessa manhã não tinham embalagem, informações ou datas de fabricação e validade. Eram somente envoltos em plásticos. Contudo, ainda não há provas de que os estabelecimentos sabiam que esses hambúrgueres continham carne de cavalo misturada com a de gado.
— Não sabemos se estavam dentro do esquema (de adulterar as carnes), mas vítimas também não são. No momento que adquirem alimentos que necessitam de atenção redobrada, pois serão entregues ao público em geral, é evidente que precisam comprar produtos inspecionados. É o básico do básico. Nota fiscal não existe nenhuma. É totalmente clandestino, sem rotulagem ou validade. O conhecimento ou não da composição da carne de cavalo é outro ponto que investigamos, mas é certo que estavam tentando obter alguma vantagem — salienta o promotor.
A reportagem tenta contato com as duas hamburguerias citadas pelo MP.