Escutas telefônicas a que GZH teve acesso revelam a negociação do esquema criminoso de venda clandestina de carne de cavalo se passando por carne de gado para hamburguerias da serra gaúcha.
Operação liderada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Segurança Alimentar do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) e com apoio da Brigada Militar e Secretaria Estadual de Agricultura, desarticulou o esquema nesta quinta-feira (18). Foram cumpridos seis mandados de prisão e 15 de busca e apreensão em Caxias do Sul.
Conforme o MP, o grupo não possui autorização para o abate e comercialização de nenhum tipo de carne. Assim, as atividades de abate, beneficiamento, armazenamento e comercialização vinham ocorrendo sem qualquer fiscalização, o que é essencial para prevenir que carnes sem inspeção de fiscais médicos veterinários sejam consumidas pelas pessoas.
Em uma das conversas interceptadas pelos promotores - que não revelaram a identidade e nem a função dos investigados -, um dos envolvidos no esquema mencionou "técnica" utilizada para poder aproveitar carnes que já estariam estragando: "Tem dois pacotes que têm cheiro. Daí eu disse para ele 'mas tu usou?'. E ele disse 'sim, o seu Pedro lavou e usou'. Isso aí, de repente, sabe o que que é? Vai esticando e vai escorrendo o sangue de dentro. Eu disse 'lava'. O seu Pedro lavou."
Negociando os animais
Em um dos áudios, investigados negociam duas éguas e combinam de levá-las à noite para a propriedade onde os animais eram abatidos sem as mínimas condições de higiene: "De noite é melhor que ninguém vê nada né".
Investigado 1: Eu cheguei em Farroupilha agora. Tem duas égua xucra junto. Daqui a pouco, quer que eu aguarde até meio-dia e descarregar essas éguas que estão bem gordas pra não prejudicar aí, ou tu quer pra de noite?
Investigado 2: Se der, de noite, para mim, fica melhor. Depois te pago 100 pila se tu vai trabalhar também, pode ser?
Investigado 1: Tranquilo.
Investigado 2: Tu não vai ficar brabo comigo?
Investigado 1: Não, não. Tranquilo. E se não for hoje de noite, pode ser amanhã, bem cedo?
Investigado 2: Sim. Tanto faz pra mim. Se der de noite, é melhor, mas vê como fica bom pra você.
Investigado 1: Não sei se hoje de noite eu consigo. Qualquer coisa amanhã 6h30min ou 7h a gente se encontra na tua casa.
Investigado 2: Tá. Pode ser também. Não tem "miséria".
Investigado 1: Tá, mas eu te aviso. Se eu conseguir eu vou hoje de noite. Se não, daí eu vou amanhã de manhã.
Investigado 2: De noite é melhor que ninguém vê nada né.
Investigado 1: Sim.
Na em outra interceptação telefônica, os investigados seguem negociando "dois potrinhos:
Investigado 1: Alô?
Investigado 2: Oi, pode falar?
Investigado 1: Sim.
Investigado 2: Trouxe dois. Um era muito pequeninho. Ofereci 200 pila e o cara não quis. Como era um potrinho né, daí trouxe dois grandes.
Investigado 1: Não. Tá, joia.
Investigado 2: Tá. Sobrou valor. Tu quer que desconte o frete entregue ou eu seguro para quarta-feira? Tem quatro bicho de dentro do cara.