Na pandemia, muitos professores e estudantes precisaram se adaptar a novas formas de ensino. Para manter o distanciamento tão necessário, as aulas virtuais foram uma maneira encontrada para manter o contato com os alunos, mas para que elas sejam possíveis são necessários alguns recursos. Em Caxias do Sul, a Escola Municipal José de Alencar instalou câmeras em todas as salas de aula, de 1º ao 9º ano, para disponibilizar que os estudantes pudessem acompanhar os conteúdos de forma online.
A diretora Roberta Andréa Martinelli Baldança explica que no final do ano passado a instituição recebeu uma verba extra do município, de cerca de R$ 30 mil, para se organizar antes do retorno às aulas. Foi com esse valor que a escola decidiu investir nas câmeras, o que possibilita que agora as aulas sejam síncronas. Ela detalha ainda que os 148 alunos do 4º ao 9º anos trabalham com o ensino híbrido. Ou seja, as turmas são divididas em dois grupos e o processo é invertido a cada semana: enquanto um tem aula presencial, o outro somente virtual. A adaptação aos novos formatos exigiu a reinvenção por parte das equipes envolvidas, segundo Roberta:
— Desde o ano passado estamos trabalhando com as famílias dos alunos e orientando para, quem pode, investir em algum equipamento, seja notebook ou celular, ou melhorando a velocidade da internet, para facilitar o processo. Foi feita uma campanha para doação de equipamentos para aqueles que não conseguiram adquirir. Foram passos de formiguinha, mas os alunos estão conseguindo acompanhar. Não vou dizer que não vão ter perdas na questão da aprendizagem, porque não é a mesma coisa que o presencial, mas buscamos minimizá-las ao máximo.
As câmeras foram instaladas em fevereiro, quando a escola já se preparava para o ensino híbrido. Antes disso, as atividades na José de Alencar eram repassadas por WhatsApp e as atividades eram entregues impressas na escola. O grande empecilho era a falta de interação, algo que desde maio começou a melhorar, conforme a professora do 4º ano, Dienifer Soares Crestane.
— As aulas síncronas estão sendo muito proveitosas. A conexão com os alunos nos permite estar próximos. Eles respondem muito melhor do que o esperado, conseguem interagir, tirar dúvidas e aproveitar a aula da mesma maneira que a turma que está na sala de aula — destaca a docente.
Apesar das experiências positivas, Dienifer afirma que, no início, a adaptação foi complicada, tanto para os alunos, como para os professores. Antes das aulas semipresenciais, o ensino era 100% online e isso exigiu bastante do professor, que precisava auxiliar os alunos também fora do horário de aula.
Aluno do 8º ano, Gabriel Bertuol Motta, 14 anos, admite que a aula está melhor agora e que está sendo possível aprender, mas o ensino presencial é bem melhor. Dentre as dificuldades encontradas nas aulas online, o estudante cita a qualidade da imagem, que por vezes não permite enxergar o quadro, e as questões que envolvem a internet, que pode oscilar, dependendo do dia. Além disso, ele percebe que outro ponto negativo é a falta de interação com a sua turma.
Uma realidade diferente
A Escola Municipal Alfredo Belizário Peteffi também modernizou-se e hoje oferece aulas síncronas aos estudantes do 5º ao 9º ano. Conforme o diretor Milton Bossle, a instituição tem projetores com internet e caixas de som desde 2018; a partir deste ano foram instalados computadores com webcams em cada sala também.
O foco, segundo o diretor, é dar melhores condições de trabalho aos professores e proporcionar o uso da internet como ferramenta na aula presencial. Ele explica que a verba municipal para implantação dessas melhorias veio pela necessidade de fazer aulas síncronas.
—A aula síncrona é uma realidade ainda distante do nosso aluno. A nossa escola consegue chegar até o aluno pela forma virtual, mas o aluno não consegue chegar até a escola. Estamos equipados na escola, mas agora o segundo estágio teria que partir do poder público em oferecer internet aos alunos — relata Bossle.
Na semana passada, o edital para contratação de internet a professores e estudantes da rede municipal de ensino de Caxias do Sul foi retomado, quase um mês após ser suspenso para ajustes. Quando o contrato for assinado, famílias que atualmente não têm condições de pagar pela conexão poderão ter acesso gratuito a plataformas educacionais. O acesso à internet será oferecido a todos os estudantes e professores da rede municipal por meio de uma senha que permitirá navegar gratuitamente por meio de qualquer aparelho com chip ativo.
Atualmente, segundo diretor, alguns professores da Alfredo Belizário Peteffi marcam aulas síncronas, mas só uma parcela dos alunos consegue participar. Os demais vão até a escola buscar as atividades impressas. A maior dificuldade, segundo Bossle, é quando o grupo que estava em casa retorna à sala de aula, pois são realidades diferentes que o professor precisa abraçar:
— O professor está sendo um verdadeiro herói por estar nesta corda bamba diante de tantos cenários. Ele tem que administrar vários tipos de alunos.
Recursos municipais para a educação
Todos os anos as escolas municipais recebem recursos, divididos em parcelas, para a autonomia financeira. Segundo a Secretária de Educação de Caxias do Sul, Sandra Negrini, os valores são destinados à concretização das propostas pedagógicas, realização de reparos e investimentos na estrutura das escolas.
— No ano passado as escolas receberam uma parcela extra em função do período da pandemia, exatamente para investir nesses equipamentos, para que pudessem melhorar e qualificar a forma de trabalhar com os estudantes — destaca.
Todas as 83 escolas receberam o valor extra, que é proporcional ao número de alunos; o montante foi de R$ 1,3 milhão A secretária adianta que nesta segunda-feira (31) ) foi protocolado na Câmara de Vereadores um projeto de lei repassando outra parcela para este ano, para que as escolas possam aprimorar ainda mais o atendimento aos estudantes e também melhorar a infraestrutura. A previsão é que o próximo valor seja em julho e o montante será igual ao da parcela de maio, R$ 1,4 milhão.
Com os valores recebidos, segundo Sandra, a maioria das escolas está equipada para as aulas online, algumas já conseguem realizar aulas síncronas e outras ainda não.