
Uma imponente cachoeira marca a paisagem do Parque Estadual do Tainhas, em Jaquirana — a área também se estende por São Francisco de Paula e Cambará do Sul, nos Campos de Cima da Serra. Junto ao Passo do S, formado em meio ao Rio Tainhas, ela tornou-se conhecida por ser um dos principais destinos de trilheiros e aventureiros que passam pela região. Apesar do apelo turístico pelas belezas naturais, a unidade de preservação chegou aos 50 anos, completados em março, dando continuidade ao plano de conservar e manter viva uma natureza única que existe em um território de mais de seis mil hectares.
Como explicam a chefe da Divisão de Unidades de Conservação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Keli Hepp, e a gestora do parque, Ketulyn Fuster, a área reúne Mata Atlântica, marcado pela formação de florestas, e o Pampa, conhecido pelos vastos campos. Por serem dois biomas diferentes e encontrados na mesma área, a reserva natural pode ser considerada até mesmo rara. Para a preservação, os servidores do Estado atuam em diferentes frentes. De um lado está o trabalho de fiscalização, pesquisa e monitoramento, enquanto do outro está em andamento a regularização fundiária do parque, que já alcança 20% de todo o território.
Apesar do decreto de 1975 do governador Euclides Triches, que criou o parque e outras sete unidades de preservação no RS, o Estado só focou-se no parque nos anos 2000, após a criação da Sema em 1999, no governo de Olívio Dutra. Apenas em 2007 foi nomeada a primeira gestora do Tainhas.
— Em 2009, a gestão comprou essa área (onde está a sede do Parque, próximo ao Passo do S). Foi a primeira área comprada. Porque como parque, ele tem que ser de posse pública. Até então, era tudo de proprietários particulares, que muitos achavam que esse parque já nem existia mais — conta Ketulyn.
Foi a partir da compra da área onde estão os espaços administrativos, próximo ao Passo do S, que a implantação de fato iniciou-se. As negociações seguem para a compra do restante da área, ao mesmo tempo que ações de conscientização são realizadas junto aos moradores.
Belezas naturais atraem aventureiros
O principal objetivo do Parque do Tainhas é a preservação. Isso não quer dizer que as visitas sejam proibidas. Como destacam Keli e Ketulyn, o que existe é um regramento para que turistas possam observar a cachoeira do Tainhas e até mesmo se aventurar nas travessias do Passo do S e do Passo da Ilha.
Pelas condições da Estrada do Passo do S e pelas características do território, o Parque do Tainhas é destino principalmente de aventureiros. O trajeto, acessado pela RS-110, é de chão, o que favorece os veículos 4x4. Além disso, as travessias do Passo do S e do Passo da Ilha, que passam por dentro do Rio Tainhas, exigem cuidado e destreza de quem está dirigindo.
Por exemplo, deve haver a observação até sobre como está o nível do rio. No caso do Passo do S, a travessia é no formato da letra e há balizas indicando o traçado.
— O parque é um bem público. Então, um dos nossos objetivos é manter isso, manter essa paisagem, justamente para a população poder conhecer, usufruir e se beneficiar, seja do ambiente, da paisagem, da tranquilidade e da beleza cênica — destaca a gestora.
Além de quem gosta de praticar o off-road, ciclistas e trilheiros também costumam passar pelo Parque do Tainhas. A unidade de preservação, inclusive, faz parte do Caminho das Araucárias, integrante da Rede Brasileira de Trilhas, em um trajeto de 600 quilômetros que inicia na Floresta Nacional de Canela e termina em Urubici (SC), no Parque Nacional São Joaquim. Ela compreende dez unidades de conservação e todas possuem um marcador, como o que pode ser visto no parque de Jaquirana, no lado esquerdo da cachoeira do Passo do S.
Ao mesmo tempo, o parque já organizou oito voltas ciclísticas — a mais recente foi em janeiro, marcando a retomada da atividade após uma pausa forçada pela pandemia. Cerca de cem pessoas participaram da prova, com circuito que passa pelo Passo do S e pelo Passo da Ilha.
Para viabilizar mais visitações e aprimorar o controle delas, já que devem seguir o princípio de não prejudicar a preservação, o serviço de turismo no Tainhas foi concessionada pelo Estado. O contrato é de responsabilidade do Grupo Iter, que venceu o leilão do Tainhas e do Parque do Caracol, de Canela.
Conforme a gestora do parque e a chefe de Divisão de Unidades de Conservação da Sema, a concessionária está realizando os estudos de viabilidade. O objetivo da concessão do trecho turístico, que segundo elas representa 2% do parque, é para que se melhore a experiência do visitante e se aprimore o controle e regramentos desse fluxo turístico.
Segundo a assessoria do Grupo Iter, a empresa está com os esforços concentrados no desenvolvimento de novos projetos para o Parque Estadual do Tainhas, que estão em fase de estudo e planejamento em conjunto com o poder concedente. No plano da concessão está previsto ampliar os investimentos para a prática do ecoturismo, assim como a qualificação da infraestrutura e dos serviços que serão oferecidos aos visitantes.
Entre melhorias citadas pela concessionária estão a revitalização de um trecho da travessia do Rio Tainhas na estrada do Passo da Ilha e a instalação de balizas sinalizadoras no rio para melhorar a segurança de quem passa pela região.
Monitoramento indica ações
No trabalho de preservação do parque, a equipe do Tainhas atua em diferentes frentes. Uma delas é a regularização fundiária, que precisa ser realizada até mesmo por uma questão legal, como pela lei federal que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc) e dá os critérios para a criação de uma unidade de preservação. Na prática, há regras que limitam a vida de quem morar na área de preservação.
Por exemplo, um dos objetivos do parque, como explica Ketulyn, é a preservação da Mata Atlântica, bem como das áreas que carregam as características do Pampa. Uma situação simples é que um produtor de gado teria que limitar o número de cabeças para não prejudicar a biodiversidade, o que no fim limitaria a produção e a renda desse negócio:
— O principal objetivo do parque é a conservação dos campos de altitude, que temos essa questão no estado dessas áreas de campo e viemos num movimento de alertar para a conservação desses nossos ambientes campestres. Ficamos muitos anos ali, "plantem árvores, as florestas", e meio que renegamos toda essa biodiversidade de campo. E hoje, um dos objetivos, tanto que lá no decreto 1975 já trazia essa questão, tanto a questão paisagística, cultural, ambiental e dos campos.
Da mesma forma, ocorre a fiscalização para que não haja no território do parque atividades como caça, pesca e acampamentos. Outro trabalho realizado e fundamental para indicar ações que devem ser tomadas são as pesquisas realizadas. Como relata a gestora, são situações de monitoramento, como as armadilhas fotográficas da fauna e o levantamento da flora, além de parcerias com universidades:
— Temos várias parcerias, várias universidades que desenvolvem projetos aqui para irem acompanhando, e a partir disso, tomarmos as decisões. Na prática, trabalhamos muito com esse monitoramento, com a fiscalização, e a partir disso, por exemplo, vamos dizer, "Olha, vamos ter que suprimir o pinos nessa área aqui (para preservar o campo), ou nessa outra vamos ter que que fazer um trabalho com os moradores do entorno para não deixar cachorro solto porque estão na área que o puma circula".
As armadilhas fotográficas, por exemplo, podem indicar o equilíbrio ambiental do parque. Entre os animais mais famosos que habitam a região estão o puma, que é mais difícil de ser visto nas armadilhas, e as lontras, que são o símbolo do Parque do Tainhas por serem encontradas no rio.
— Como puma é topo de cadeia, se ele está ali, é porque sabemos que tem um equilíbrio em toda a cadeia. No momento que um animal topo de cadeia desaparece, gera um alerta porque pode ter algum outro predador que está se sobressaindo em relação a ele e que pode estar dando desequilíbrio. Geralmente, é quando percebemos a questão dos invasores — esclarece Keli.
O monitoramento também é acompanhado de muita tecnologia, como com geoprocessamento e um sistema de alertas em caso de algum dano na área.
Muitas visitas acadêmicas também são realizadas. No Parque do Tainhas, também é realizado o projeto Seiva, que leva estudantes de escolas da região a conhecer mais sobre a área, do que é feito nela, e receber lições de educação ambiental.