O prefeito de Antônio Prado, Juarez Santinon (PMDB), diz que a população do município deve utilizar o título de maior acervo arquitetônico da imigração italiana a seu favor. "Antônio Prado se diferencia de todos os outros municípios da região. Isso deve ser visto e trabalhado como um ponto forte para que o município amplie o seu tripé econômico e adicione mais um: o turismo", disse, em nota.
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Há 30 anos, o Iphan determinou o tombamento de 48 imóveis no centro da cidade e vários proprietários das casas centenárias ainda não aceitam a decisão.
Com pouco mais de 13 mil habitantes, o município tem como base econômica a agricultura, seguido pela indústria e serviços. A localização geográfica, segundo o prefeito, é um aliado importante, pois está na rota de grandes centros turísticos do Estado, como são Canela, Gramado e Bento Gonçalves.
Argumenta que a administração tem atuado em diversas frentes, realizando eventos e ações, para mostrar que, com o turismo, há a possibilidade de criação de emprego e renda, aumentando o poder aquisitivo e criando um círculo virtuoso que culmina numa nova indústria limpa e sustentável.
"Antônio Prado não tem apenas o patrimônio material, há também um patrimônio imaterial que dá vida e voz às casas. Nossa gastronomia é farta, o dialeto talian que resiste é um orgulho, nossa cultura é rica em músicas, histórias e lendas. Isso tudo deve ser explorado e enaltecido", justifica por e-mail.
"Foi um atraso para a cidade", diz dono de imobiliária
Arlindo Mazzotti é proprietário de umas das principais imobiliárias da cidade e de uma casa tombada. Segundo ele, o ato do Iphan foi um atraso para a cidade.
— Antônio Prado não tem vocação para o turismo — declara.
A área onde localiza-se o centro histórico, segundo ele, poderia ter sito utilizada para construir edificações, salas comerciais, que iriam impulsionar a economia local.
— O tombamento freou o desenvolvimento, estamos parados no tempo.
O empresário faz duras críticas ao Iphan.
— O órgão nunca ajudou, só complicou — denuncia.
Ele conta que, em 2004, sua casa (tombada) foi consumida por um incêndio. Além de exigirem a reconstrução dentro das rígidas regras do órgão, foi condenado por não ter evitado o incidente.
— Ele (Iphan) vem aqui, tomba e não dá suporte algum.
AS REGRAS DO TOMBAMENTO
O tombamento e um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de proteger, por meio da legislação, bens de valor histórico e cultural impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Segundo a lei, um bem tombado não precisa ser desapropriado (pago).O imóvel pode ser vendido, alugado ou recebido em herança, desde que continue sendo preservado.
Em Antônio Prado também foram estabelecidas diretrizes no entorno dos bens tombados, que exigem recuos e que acabam dificultando a construção de novos imóveis na área central.
Estudo analisa elementos arquitetônicos
Uma das teses desenvolvidas sobre o patrimônio arquitetônico de Antônio Prado está a de Roberta Rech, que realizou seu doutorado na Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona. Tendo como ponto de partida o livro Memória e Identidade, de Fernando Roveda, a arquiteta interpretou os elementos arquitetônicos, analisou o estado original das edificações em madeira construídas há mais de cem anos e fez um comparativo com as casas construídas nas regiões do Vêneto e Lombardia, Itália.
O estudo revela, por exemplo, que as casas eram construídas coletivamente. Ainda que as ferramentas fossem escassas e os materiais disponíveis diferentes dos que encontravam na terra natal, os imigrantes construtores traziam na memória conceitos estéticos que foram claramente traduzidos nas edificações Pradenses. Não houve uma reprodução exata de um sistema conhecido e sim uma mistura de conceitos, a fim de chegar a uma edificação que cumprisse com as novas condições geradas pelo meio onde se inseriram.
— Considerando todo o contexto da imigração italiana daquela época, parece explícita a necessidade de transmitir, através da arquitetura, referencias presentes na memória do grupo emigrado, no sentido de reconstrução do seu "lar" — conta Roberta.
Sobre a importância da preservação do centro histórico, a pesquisadora alerta:
— Tem um peso enorme na história da região e do país. Não somos nada sem história. O que falta é senso de coletividade e oportunidade. Antonio Prado tem o maior sitio preservado de arquitetura produzida pela imigração italiana. Uma joia a ser explorada e valorizada em prol do progresso que é um sentimento genuíno e fortemente vinculado à história da imigração italiana.