A responsabilidade em comandar o Caxias nos próximos dois anos recaiu sobre os ombros de Roberto de Vargas. Apesar de alguns torcedores terem sido pegos de surpresa pela escolha dos nomes da nova gestão, o empresário sempre prestou serviços ao clube do coração.
Sua empresa, a Vinhedos Papéis, de Flores da Cunha, é parceira do grená desde 1998. Ele ainda atua como conselheiro desde 2000 e fazia parte do Conselho de Administração na gestão Mario Werlang.
E se alguns o veem como um homem de cara fechada e de discurso centralizador, não foi assim que o presidente se apresentou à torcida em sua primeira entrevista exclusiva após assumir o cargo.
Como quem senta em uma roda de amigos, De Vargas mostrou todo seu amor pelo clube e, depois de muitas risadas, falou sobre o desafio de comandar o Caxias, durante sua participação no Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
— Foi um coisa que eu almejava, sabia que um dia iria ser presidente, mas teria que ser na hora certa. Tivemos que encarar porque precisava dar sequência ao bom trabalho da administração do Mario (Werlang), que vinha sendo feito na área administrativa, nas dependências do clube. Então, eu senti que precisava colaborar para fazer o melhor pelo Caxias.
Mas, antes de sentar na cadeira da presidência, aos 64 anos, Roberto de Vargas chegou a vestir as cores da Associação Caxias de Futebol, na década de 1970.
— Estou no Caxias desde os 12 anos. Eu fiz parte das categorias de base, foram seis anos. Naquele time que tinha o Marcolão, Vanderlei, Micuim, Maurinho... e eu era o zagueiro reserva, mas todo o caso, eu estava ali — brincou o presidente, que ainda complementou:
— Quando fiz 18 anos, não vinguei como jogador, então fui estudar e trabalhar, mas sempre acompanhando o clube.
E questionado se era bom zagueiro, De Vargas brincou:
— As minhas namoradas achavam (risos).
E coube a ele tremular a primeira bandeira da história do clube.
— Quando houve a associação, eu fiz a primeira bandeira da ACF. Não tenho mais ela, era preta e branca. Mas sempre participei de torcidas, ajudei a montar na época, a Tosca, em 1995; na verdade, eu sou um torcedor que estou presidente e, às vezes, até me comporto mais como torcedor do que presidente.
Amizade antiga no comando do Futebol
O bom relacionamento com o atual vice de futebol, José Caetano Setti, surgiu na época em que Tita treinou o Caxias.
— Quando o Tita veio treinar o Caxias (em 2003), estreitou o laço com o Setti, porque o Tita foi morar num apartamento que eu cedi pro Caxias. Ali acabei tendo uma relação maior com o Zé (José Caetano Setti). E de lá pra cá, não passavam 15 dias, a gente estava almoçando e trocando ideias de futebol.
A escolha de Setti para ser o homem forte no futebol grená gerou sentimentos distintos entre os torcedores do clube. Muitos relembram os times competitivos que o Caxias teve na passagem do profissional de 71 anos pelo Estádio Centenário como dirigente. Outros sentem falta de um profissionalismo maior no departamento de futebol, com a figura de um executivo.
O Zé teve muita resistência porque ele é muito espontâneo, ele é muito direto e, às vezes, isso magoa algumas pessoas.
ROBERTO DE VARGAS
Presidente explica escolha pelo vice de futebol José Caetano Setti
— Eu acredito muito no Zé. Não tenho experiência executiva de futebol. Eu precisava ter do meu lado uma pessoa de confiança, que entendesse, que conhecesse o Caxias e o mercado da bola. E o Zé, ele está há 30 anos nisso aí, se não aprendeu até agora... (risos). Então, era lógico trazer ele — confirmou De Vargas, que completou:
— O Zé teve muita resistência porque ele é muito espontâneo, ele é muito direto e, às vezes, isso magoa algumas pessoas. Mas a primeira coisa que conversei com o Zé foi: "Tu não podes brigar com ninguém. Tens que tratar bem a imprensa. Se o cara te falar alguma coisa, tu vais engolir a seco e vai vir falar comigo, mas tu não podes brigar com ninguém". Tem até uma banquinha de quanto tempo vai demorar isso aí (risos).
Vestiário e a escolha por Luizinho Vieira
Roberto de Vargas deixou claro que a palavra final, em decisões do clube, será dele. O que não significa que ele vai entrar no vestiário.
— O nosso sistema é presidencialista. Então eu disse que eu tenho que decidir tudo. O Zé faz o contato com o jogador, ele traz, aí eu aprovo e ele fecha o contrato. Não quero ser um centralizador, não pretendo isso, não quero ser o senhor da verdade, mas o presidente precisa saber. Porque vai ser ele que vai trabalhar pra pagar — lembrou o mandatário grená.
O presidente ainda revelou detalhes de como foi a escolha para a contratação do técnico Luizinho Vieira para comandar o clube em 2025.
Não quero ser um centralizador, não pretendo isso, não quero ser o senhor da verdade, mas o presidente precisa saber. Porque vai ser ele que vai trabalhar pra pagar
ROBERTO DE VARGAS
Presidente explica como dirigirá o clube.
— Foi uma escolha a três, quatro mãos. Foi difícil trazer o Luizinho. Ele é um técnico que vem de boas campanhas em clubes, estava valorizado, o salário era muito alto e o Caxias não tinha condição de pagar esse valor. O Zé deve ter ido de três a quatro vezes até Criciúma negociar. Ele ia lá, negociava um pouco, voltava, eu dizia: "volta lá de novo, vai tirar mais um pouco" — destacou de Vargas, que ainda emendou:
— Faltavam pequenos detalhes e eu disse: "não Zé, nós precisamos pegar essa assinatura, vamos pegar o carro, vamos lá". E aí ele ligou, marcamos pra sexta de manhã (19 de setembro) e já levei um pré-contrato do jeito que eu queria e nós tínhamos que fazer ele assinar. E botamos o contrato em cima da mesa e ele assinou. Eu disse: "agora está ferrado, meu amigo" — risos.
O modelo de jogo com um futebol mais ofensivo também foi decisivo para a escolha pelo ex-técnico do Ypiranga.
— Nós podemos não ganhar, mas o cara vai ter que sair de campo suando, vai ter que botar o pé pra dividir. É esse o modelo. E nos entendemos muito bem, porque ele também é um cara muito franco.
Pacto pelo acesso
A página de uma história cujo final pode ser feliz começou a ser escrita quando o presidente ainda era um garoto que com 12 anos atuou nas categorias de base do clube. Ganhou um novo capítulo quando da cabeça dele surgiu a ideia de fazer a primeira bandeira que tremulou das arquibancadas. E quis o destino que, depois de outros dois nomes serem cogitados, de Vargas assumisse a cadeira e fosse o 66º presidente da história grená. E diante disso, surge mais um desafio: conquistar o acesso à Segunda Divisão do futebol brasileiro.
— Um pacto, se podemos dizer assim, feito entre o Luizinho, o departamento de futebol, o presidente e todo o grupo diretivo do Caxias. Que nem diz o Luizinho, "isso tem que virar uma obsessão". E vamos brigar por isso, vamos aproveitar essa ideia do Luizinho e nada menos do que a Série B — finalizou de Vargas.