33 anos de vida, mais de 10 de trabalho numa profissão que poucos ganham milhões e muitos recebem um salário bem inferior a minoria. Com uma realidade bem diferente dos grandes nomes do futebol, o lateral-direito Itaqui, atualmente no Monsoon e ex-Caxias, demorou para realizar o sonho da casa própria.
No entanto, o que levou anos para ser conquistado foi perdido em poucas horas pela força da natureza e pela agressividade da água que inundou o bairro Mathias Velho, em Canoas, na madrugada de sexta (4) para sábado.
— É algo inimaginável. É algo inacreditável e muito também pela velocidade e a proporção que tudo tomou. Você dizer, não vai chegar água aqui. E a água vai chegar no teto da sua casa, não tem como você imaginar isso. Para quem conhece a região ali, a proporção que tomou tudo, hoje se explica que 60% da cidade de Canoas foi afetada. O sentimento é de impotência. Tu deixar, porque, 33 anos, né? A vida toda no futebol, e tu correndo atrás da máquina — comentou o lateral-direito Itaqui, em entrevista ao programa Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra.
Após o anúncio de evacuação do bairro, Itaqui tirou a esposa e filho para dormir em outro lugar. Ele resolveu dormir na casa para acompanhar se realmente a água iria chegar a sua residência. Sem conseguir dormir, o lateral observou tudo e começou tirando o carro e depois os pequenos pertences do filho de sete anos. Às seis da manhã chegou uma enxurrada.
— Foi uma loucura, seis horas da manhã, veio como se fosse uma enxurrada mesmo. Sete horas foi quando eu saí de fato de lá, a água já estava batendo na cintura na rua, no pátio já da cintura. É um cenário de guerra, um cenário de tristeza sem fim — disse o jogador.
Em meio a tanta tristeza e impotência, Itaqui ressaltou a solidariedade e o apoio que recebeu de muita gente.
— Se tem uma coisa que a gente pode exaltar nesse momento, é o quanto o povo está sendo solidário. O que o povo tem feito uns pelos outros é algo louvável. Aflorou um sentimento de sentir a dor do próximo — afirmou Itaqui, que completou:
— Por mais que seja uma tragédia, uma catástrofe, a gente precisa olhar o lado bom disso. O lado bom é que nós estamos bem. Estamos com saúde. Meu filho tá com saúde. Minha esposa tá com saúde. Eu tô com saúde. Todos nós, todos os familiares, fomos atingidos, né? Os da região aqui, com exceção do meu pai, que tá aqui em Gravataí. A realidade é dura, mas ela precisa ser enfrentada de frente agora.
Campanha de ajuda
Aos 33 anos, Itaqui e, além do Caxias, tem passagens por vários clubes do interior como Avenida, São Luiz, Esportivo, Guarany de Bagé, Santa Cruz e Novo Hamburgo. Quem quiser ajudar, o jogador e sua família pode enviar um pix para o CPF 034.923.080-31 no nome de Bruna Martins da Silva, esposa de Itaqui.
— Minha ideia, eu passaria talvez por isso calado, sabe? Porque é um drama que muita gente está vivendo. Quando surgiu isso, de certa forma, aflorou um sentimento que a gente, por vezes, imaginava. Muitas pessoas têm entrado em contato conosco com a palavra amiga, com o abraço, com o ombro amigo — finalizou.