O surdoatleta Yunior Enrique Diaz Vazquez não foi mais visto pela delegação cubana depois da prova de ciclismo, disputada na última terça-feira (10), em Farroupilha, durante a 24ª edição das Surdolimpíadas. O suposto desaparecimento ainda não tinha vindo a público mas já era investigado na manhã dessa quinta-feira (12). Contudo, uma testemunha, um caxiense, de 44 anos, que ajudou o surdoatleta a deixar a cidade esteve na Policia Federal nessa manhã e contou que Vazquez partiu por vontade própria.
Em nota, a PF ressalta que, "com base nas informações coletadas, não há indicativo, até o momento, da prática de crime contra o atleta cubano, e, em havendo, seria de atribuição investigativa da Polícia Civil. Ressalte-se que o estrangeiro está em situação migratória regular no Brasil". A reportagem conversou com o caxiense, que tem a identidade preservada. Ele contou que foi a Farroupilha na última terça para assistir a prova na Linha Müller e quando ficou sozinho com o cubano foi abordado por ele. Vazquez usou o aplicativo do celular para se comunicar, e pediu carona até Caxias do Sul.
— Ele escreveu: "Preciso da sua ajuda". Ele olhava assustado, por cima do ombro, a todo o momento, apreensivo, e me chamou para dentro do salão paroquial, e fomos trocando mensagens. Ele disse que tinha pouca comida, só ração, não tinha roupa e nem trabalho, e que se não fugisse agora iria fugir em um bote para Miami. Para arriscar a vida assim, ele estava desesperado — conta o caxiense.
A testemunha relata que em um determinado momento não entendia o que Vazquez queria, e então o atleta fez uma chamada de vídeo para uma missionária com quem se comunicava em libras e ela orientava o caxiense. O atleta desejava passar nos Pavilhões da Festa da Uva para buscar as coisas dele antes de ir até a rodoviária. Mas a missionária orientou diferente:
— Ela me disse que não, que era para levar ele direto para a rodoviária e que ele só precisava de ajuda para comprar a passagem, e que tinha o dinheiro. Me disse o destino e o horário. Estava tudo esquematizado, não foi uma oportunidade, ele já ia fazer isso.
Após entrarem no carro, e quando estavam a caminho de Caxias, o surdoatleta fez uma nova chamada de vídeo.
— Antes ele não emitia nenhum som enquanto usava o aplicativo, mas depois ele ficou eufórico, e até emitia sons e estava emocionado. Ele filmava a estrada. Eu fico emocionado quando lembro. Faria tudo outra vez, na hora, não pensei nas consequências, só quis ajudar. Eu resgato animais de rua, e, quando um ser humano te pede ajuda, é uma oportunidade com que a vida te presenteia.
Na Polícia Federal, ele foi informado que o atleta podia ter pedido asilo:
— Não sabia do procedimento certo naquela hora. Ele estava apavorado e só queria uma chance. Era o momento dele e eu estava lá para ajudar.
Vazquez embarcou por volta das 14h30min da última terça-feira na rodoviária de Caxias para outra cidade do sul do país.