Antes de os surdoatletas disputarem as provas da 24ª edição das Surdolimpíadas, muitos passaram por uma avaliação audiológica básica completa. Na Praça Surdolímpica, mais de 1,8 mil exames foram realizados, principalmente em atletas que estão participando pela primeira vez dos Jogos, em Caxias do Sul.
O trabalho é realizado através de uma parceria com o Centro de Saúde Clélia Manfro, ligado ao Hospital Virvi Ramos, que presta serviço via SUS para 49 municípios da região. A coordenadora do projeto, Aline Aita, explica que são realizados dois exames diferentes nos surdoatletas.
— Primeiro fazemos a audiometria, que mede o mínimo de audição que a pessoa escuta. Eles ficam sentados com fones e, no audiômetro, a gente testa oito frequências, das mais graves até as agudas para determinar quanto a pessoa escuta em cada frequência. No critério da Surdolimpíadas, eles não podem ter uma audição acima de 55 decibéis. Então, tem de ter uma perda auditiva de grau moderado, severo ou profundo. Tem o outro teste que mede a pressão do ouvido médio para saber se tem alguma infecção ou alteração — detalhou Aline.
Depois é feita uma comparação entre os dois exames. Caso haja uma divergência nos resultados, a audiometria é repetida. Dois atletas não tiveram a autorização para participar dos jogos, pois foram reprovados nos exames, um do Japão e outro de Camarões.
— Não são os 4,5 mil atletas que fazem os testes. Quem já é competidor de outras Surdolimpíadas, com exames comprovados, não precisa fazer. Os atletas que estão pela primeira vez, são triados. Desses 1,8 mil exames, têm muitos que estão competindo pela primeira vez. Eles só fazem o credenciamento após passar pela avaliação auditiva — completa a coordenadora.
A partir desta segunda-feira (9), o trabalho teria outro foco. Serão selecionados atletas para realizar o exame chamado de "antidoping auditivo".
ESTUDO REALIZADO E A UTILIZAÇÃO DE IMPLANTE
Durante as Surdolimpíadas, quatro alunos do curso de fonoaudiologia, da Faculdade Fátima, realizam um estudo para o trabalho de conclusão de curso (TCC). Eles produziram um questionário com 40 perguntas. A ideia é traçar um perfil socioeducacional dos atletas surdos. Eles podem responder o questionário através do celular ou em um espaço na Praça Surdolímpica. Mais de 340 pessoas já participaram do projeto e algumas conclusões já foram obtidas.
— A gente já percebeu algumas diferenças em termos de desenvolvimento de países. Nos países desenvolvidos, a maioria são protetizados, com implante ou prótese. São oralizados com a língua do seu país ou inglês. Em contrapartida, os países menos desenvolvidos não tem ninguém com prótese ou oralizado, diagnóstico tardio e não falam a língua do seu país — observou a coordenadora.
No questionário, o atleta responde diversas perguntas, como se fez triagem auditiva neonatal, se o diagnóstico da surdes foi precoce, se usa língua internacional de sinais, se é oralizado, que tipo de aparelho de amplificação sonora usa e as causas da surdes.
Para Aline, chamou a atenção o fato de muitos atletas usarem um transplante, que é recomendado para casos de surdes profunda. O procedimento substitui as células de dentro do ouvido por um eletrodo. No Brasil, o procedimento é oferecido pelo SUS. Contudo, no Rio Grande do Sul, apenas 24 implantes são realizados por ano.
— É bem caro, custa R$60 mil cada um. Tem pelo SUS. Aqui em Caxias não é feito nenhum pelo SUS. Todos são em Porto Alegre, pelo Hospital das Clinicas. Só que são 24 implantes por ano. É uma fila de espera enorme. Temos um grupo da USP que faz em São Paulo, mas o paciente tem de pagar a viagem. Eles conseguem fazer até mais rápido lá. Hoje, os planos de saúde estão cobrindo também, já fizemos umas seis cirurgias de implante em Caxias do Sul recentemente — revelou Aline Aita.
Segundo a coordenadora, quem possuiu implante tem de tirar o aparelho para participar das provas nas Surdolimpíadas.
— Quem tem aparelho auditivo ou implante tem quase a audição normal. Conversei com um atleta da Argentina, que tem implante coclear. Ele usa dois implantes. Sem aparelho, ele tem uma surdez profunda. Com implante, tem audição de 98%, normal. Ele participa sem o aparelho — disse Aline Aita.