Em reunião no último sábado (5), o Conselho Executivo do Comitê Internacional de Esportes de Surdos (ICSD) decidiu excluir a Rússia e Belarus da 24ª Surdolimpíadas de Verão. Os Jogos serão realizados em Caxias do Sul, de 1º a 15 de maio. Em um comunicado oficial, a entidade declarou que a decisão segue recomendação do Comitê Olímpico Internacional (COI) e do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). Também reforçou que o esporte é um instrumento de promoção da paz.
— O Conselho Executivo do ICSD descreveu o esporte como um instrumento para a missão de "promover a paz por meio do esporte", aderindo às recomendações do COI. Nesta situação, o Conselho Executivo do ICSD decidiu que nenhum atleta surdo ou oficial pertencente aos membros plenos do ICSD na Rússia e na Bielorrússia (Belarus) será, com efeito imediato, convidado ou autorizado a participar de competições internacionais no calendário do ICSD até novo aviso — diz a nota do Comitê Internacional de Esportes de Surdos (ICSD).
O CEO dos Jogos, Richard Ewald, disse à reportagem do Pioneiro que a decisão não é nada agradável, mas o contexto da guerra obriga a entidade a adotar essa medida.
— É um movimento de pressão aos governos. Acompanhamos as orientações do Comitê Olímpico Internacional e da ISCD, como órgão para surdos sediada na Suíça. Como comitê local, seguimos as orientações. É duro, pois os atletas surdos não têm qualquer interferência nesse contexto, mas faz parte do momento internacional que vivemos —argumentou Ewald.
REDUÇÃO DE PARTICIPANTES
O comitê local trabalha com uma redução no número de atletas para esta edição. Inicialmente, era projetado quase 6.500 participantes. A delegação russa viria com 456 integrantes e Belarus com cerca de 100. Nos Jogos da Turquia, em 2017, a Rússia foi o primeiro lugar no quadro de medalhas com 199 conquistas: 85 de ouro, 53 de prata e 61 de bronze.
— A Rússia não vinha só com a maior delegação, mas com a maior força. É um país que historicamente tem uma política de esporte surdo bem desenvolvida e certamente estaria brigando pela ponta do quadro de medalhas. É uma perda, pois muitos medalhistas ficarão fora. Nós sentimos do ponto de vista esportivo, mas a decisão precisava ser tomada — declarou Ewald.
A Ucrânia ainda não confirmou presença. O planejamento inicial era de vir ao Rio Grande do Sul com 320 atletas. O comitê ainda trabalha com a participação do país, mas com um número menor de surdoatletas. Os organizadores têm o prazo técnico limite de 1º de abril para o fechamento das inscrições para os Jogos.
— Mantemos contato direto com a Ucrânia. Eles (atletas) estão na parte oeste, mais pacífica do país e tem o desejo de vir. Naturalmente, vivem um momento difícil, mas contam com a solidariedade de países europeus que ofereceram guarida, alojamento e condições de treinamento para manter suas preparações para vir. Temos a expectativa que venha uma delegação menor —revelou Ewald.
Como reflexo das sanções econômicas impostas à Rússia, outros países também devem reduzir o número de atletas que viajarão ao Brasil. Entre os motivos, a relação comercial com o país de Putin, que afeta fornecedores, por exemplo. São principalmente países de fronteira com a Rússia, como Lituânia, Letônia, Cazaquistão e Estônia. Mesmo assim, o Richard Ewald mantém a expectativa de mais de 5 mil participantes nas Surdolimpíadas de Caxias do Sul.
—Acredito que estaremos em torno de um pouco mais de cinco mil atletas e participantes. Quanto aos dois países, são aproximadamente 550 atletas e profissionais que não virão mais. Isso traz reflexos nas modalidades e também equilíbrio financeiro. Por isso, vamos tomar algumas medidas acautelatórias — pontou Ewald.
Apesar da redução, o reflexo na rede hoteleira não deverá ser sentido. Segundo o CEO, as vagas deverão ser supridas por torcedores de outros países. Já existe um movimento de procura por hospedagem nos hotéis da região para acompanhar as provas no mês de maio.
BOLICHE SUSPENSO
Junto com o comunicado da exclusão dos dois países, o Comitê Internacional também informou o cancelamento da modalidade de boliche. Entretanto, Richard Ewald afirma que o comitê local estuda alternativas para manter a modalidade nesta edição dos Jogos.
— Caxias do Sul não tem uma instalação adequada com padrões olímpicos. Temos uma instalação comercial, mas não atinge todos os requisitos técnicos. Ainda assim, estamos vendo uma alternativa para manter a modalidade. Estamos estudando uma outra possibilidade, mas por ora está suspensa (a modalidade) — destacou o CEO da Surdolimpíada.
O investimento na modalidade seria muito elevado. Sem uma instalação compatível com os padrão olímpicos, o comitê projetava construir 16 pistas no Parque da Festa da Uva, com investimento superior a R$ 1 milhão. Como não haveria um legado para a cidade, já que as estruturas seriam desmontadas depois, a decisão momentânea foi pela suspensão. O CEO das Surdolimpíadas ainda explica que algumas outras medidas de contingenciamento foram tomadas, mas nada que altere o andamento das provas.
— Alguns pequenos luxos para fazer algo inédito na história, mas elas não são obrigatórias, como no sentido de publicidade. A Praça Surdolimpíca teve seu planos revisto, uma reconfiguração — finalizou.