Após dois anos difíceis por conta da pandemia, a rede hoteleira viverá um momento de renascimento no mês de maio. Com a realização das Surdolimpíadas de Verão na Serra, os hotéis de Caxias do Sul e região já planejam a chegada de milhares de atletas e mais de 90 delegações de diferentes países.
No dia 3 de fevereiro, quando faltavam menos de três meses para o evento, o comitê organizador local realizou uma reunião com a rede hoteleira das cidades de Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Bento Gonçalves, Antônio Prado, Carlos Barbosa e Garibaldi. Outra cidade que também receberá os competidores é Nova Petrópolis. Segundo Jussânia Dinani, responsável pelo Relacionalmento Internacional das Surdolimpíadas, durante o encontro diversos temas foram tratados, como a alimentação, a flexibilização de horários, os protocolos sanitários e a comunicação.
— Foi repassado a importância do protocolo sanitário, pois estamos falando em atender pessoas de outros países. Então, a gente tem que continuar com os cuidados da covid-19, de ter toda atenção, ter um pessoal sempre limpando os quartos. Reforçamos muito ter todos os materiais visuais em inglês, como horários na recepção e nos elevadores. Como a maioria são surdos, eles falam uma língua de sinais internacionais e a própria do país deles. Só os brasileiros se comunicam em libras. A língua dos sinais é diferente. Então, por isso, é preciso padronizar a comunicação visual em inglês — justificou Jussânia.
Dependendo do tamanho das delegações, um hotel pode receber mais de um país. Foi solicitado aos responsáveis pelos empreendimentos que estudem os costumes de cada local. São detalhes não só de alimentação, mas de questões simples, como as tomadas dos quartos.
— Mudam os costumes, a questão de tomadas elétricas que muda, a alimentação. Alguns países não comem porco. Também temos uma equipe de nutricionistas ajudando. Para ter um café da manhã com proteínas, frutas, mais equilibrado. O almoço será na praça de alimentação dos Pavilhões da Festa — detalhou a responsável pelo Relacionamento Internacional.
No total, cerca de 5,4 mil leitos foram reservados para as Surdolimpíadas. Os hotéis credenciados foram classificados em categorias, já que os valores variam. Ao todo são 18 hotéis na categoria A, 16 na B e seis na C.
Caxias receberá delegações de 17 países. Nome de peso do cenário internacional, a Rússia, maior delegação, ficará dividida em três hotéis. A delegação brasileira, que deve ser composta por cerca de 320 atletas, estará em Bento Gonçalves no Hotel Vinocap. A imprensa internacional também terá um local específico. O comitê negocia com dois empreendimentos de Gramado. Ainda não há um número exato de quantos jornalistas virão ao Rio Grande do Sul.
DELEGAÇÕES EM CAXIAS DO SUL
Itália - Intercity
Coreia do Sul - Swan
Alemanha - Samuara Sky
EUA - Tri Executive
Eslováquia, Hungria, Bélgica e Áustria - Blue Tree
ICSD - Comitê Internacional - Ibis (delegação com 40 pessoas)
República Tcheca - Travel Inn
Rússia - Travel Inn, Partner e Di Capri (Farroupilha)
Noruega e Senegal - Cosmos
Letónia e Finlândia - Partner
Gana - Murialdo Fazenda Souza
Argélia e Argentina - City Hotel
MAIORES DELEGAÇÕES
A média por delegação é de 80 pessoas. São sete países com mais de 200 credenciados. O Brasil, como país-sede, deve ter a maior participação de competidores da sua história.
Por outro lado, alguns países ainda não confirmaram presença. Entre os motivos, a pandemia da covid-19 e o atraso no calendário local de jogos. Mais de 70 países estão confirmados ou negociando a vinda. Faltando dois meses, esse número deve aumentar, podendo passar de 90.
Em números:
Rússia - 456 surdoatletas
Turquia - 357
Quênia - 355
Ucrânia - 320
Brasil - 300
Japão - 250
EUA - 240
Polônia - 175
Alemanha - 160
Venezuela e Coreia - 150
Itália - 145
Grécia - 132
Irã -130
SETOR COMEMORA MOMENTO HISTÓRICO
A Serra Gaúcha já foi sede de diversos eventos esportivos, mas nada igual as Surdolimpíadas. Por isso, a diretora executiva do Sindicato da Gastronomia e Hotelaria (SEGH), que abrange 20 municípios da região, classifica como desafiador o momento. A magnitude e a diversidade são características peculiares elencadas por Márcia Ferronato. Ela salienta ser um evento feito por muitas mãos para receber todos os atletas e membros de delegações.
— Estamos numa expectativa muito grande, pois são muitos países. Então, imagina a visibilidade que Caxias e a região vão ter. Precisamos acolher de uma forma exemplar e gerar uma experiência única. Além disso, aproveitar que a nossa região é bela. Tem um departamento cuidando só da alimentação e outras frentes para que seja um evento fantástico e um marco dos eventos para Caxias — projeta Márcia.
A comunicação visual será o foco, com o inglês como padrão. Muitos hotéis não precisaram se adaptar, pois recebem hóspedes estrangeiros no dia a dia. No entanto, a capacitação de profissionais na língua de sinais é um dos desafios reforçados por Márcia Ferronato.
— A língua de sinais sim é um desafio, pois cada país tem a sua. O comitê fez um trabalho com a Universidade de Caxias do Sul para atender com a inscrição gratuita em cursos. Mesmo assim, alguns hotéis já buscaram e solicitaram ao comitê a preparação das equipes na língua de sinais internacionais. Mas, quando você acolhe com amor e faz com vontade, tudo dá certo. Temos experiências de algumas visitas e tem fluído muito bem — relatou a diretora executiva do SEGH.
Com a pandemia, os hotéis tiveram uma queda significativa de hóspedes. A Serra Gaúcha sempre é destino certo de muitos turistas. Nos últimos dois anos, com o isolamento social, muitos quartos ficaram vazios e, assim como em outros setores, a categoria também reduziu suas equipes. Com o avanço da vacinação e o cumprimentos de protocolos sanitários, o setor do turismo voltou de forma gradativa. Márcia relata que, aos poucos, a rede começa a recontratar para receber essa alta demanda.
— A gente vem de dois anos muito duros e atípicos. A hotelaria e o turismo sofreram bastante. Então, as equipes estavam enxutas, porque não tinha demanda. Felizmente, as coisas estão retomando aos pouquinhos, com cuidado e segurança. Com certeza, as Surdolimpíadas têm uma tendência sim de novas contratações. Agora, cada hotel está fazendo o seu ajuste — argumentou Márcia Ferronato.
100% DE OCUPAÇÃO
Márcia lembra que, tradicionalmente, o mês de maio é um período com taxa média de ocupação na rede da região. Para as Surdolimpíadas, os hotéis vão abrir com 100% da sua capacidade de leitos. O comitê também faz um alerta: quem estiver pensando em realizar algum congresso ou encontro na serra, que faça um remanejamento, pois a rede não terá muitas vagas disponíveis.
— De 1º a 15 de maio, é um período que temos uma taxa média. Então, na verdade, você vai ter 100% da hotelaria tomada. Quem pode abrir 100% do seu hotel, vai estar 100% tomado pelas Surdolimpíadas. O que estamos sugerindo é que se tem algum evento que aconteceria nesse período, transfira para antes ou depois da Surdolimpíadas. Se formou uma rede para atender os Jogos — alertou Márcia.
Márcia reforça que o evento será um momento único para as cidades da região e podem gerar situações futuras, pois nunca o país sediou uma Surdolimpíada.
— Além de uma taxa fantástica do período, é mais uma ação que traz esperança por tudo que passamos nesses últimos dois anos.. O evento vem coroar essa retomada. É mais do que um evento, é um megaevento. Teremos 6 mil atletas em uma Surdolimpíada, com uma grande visibilidade e quase 100 países. Isso é extremamente importante e eleva a autoestima de todo o setor e da comunidade — menciona a diretora executiva do Sindicato da Gastronomia e Hotelaria.
VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA
O comitê organizador das Surdolimpíadas ressalta que será obrigatória a vacinação dos surdoatletas. Todo o controle será feito no aeroporto de Porto Alegre, na chegada das delegações. No desembarque, os atletas passarão por teste de covid-19. Todos que testarem negativo serão liberados para vir a Caxias do Sul. Quem positivar ficará em quarentena na capital gaúcha, conforme detalha Jussânia.
— É obrigatório entrar no Brasil com duas vacinas. Em alguns países é diferente. Em Portugal, quando você pega covid é considerado uma vacina, mas para nós não. Então, tem essa questão. Quando chegar no Aeroporto em Porto Alegre, vamos ter um esquema todo montado para fazer o teste na chegada. Dando “ok”, vem para Caxias, vai para os Pavilhões da Festa da Uva e depois se deslocam para o hotel. Se positivar, fica em um hotel de Porto Alegre. Estamos vendo com os órgãos a questão da retestagem, se vai ser por amostra — explicou Jussânia.
TRANSPORTE DOS ATLETAS
O comitê local já tem toda organização de como se dará o deslocamento dos atletas nos dias dos Jogos. A maioria das delegações desembarca no dia 26 de abril, já que o futebol começa antes. Haverá um circuito de ônibus exclusivo para quem competirá nas Surdolimpíadas.
O transporte será feito em duas etapas. Antes de ir para os locais das modalidades, os atletas deixarão os hotéis em uma linha exclusiva e irão para os Pavilhões da Festa da Uva. De lá, eles partem para as arenas de provas.
O período em que cada delegação ficará na cidade vai depender do avanço no calendário de provas. Assim, a janela para os atletas fazerem turismo na cidade pode variar.
— Temos uma agência oficial de turismo que vai oferecer opções para o pessoal conhecer a cidade. As delegações maiores vem conforme o período do esporte deles. As menores e médias acabam ficando um período maior — afirmou Jussânia Dinani.