Dos 11 gols sofridos pelo Juventude no Campeonato Brasileiro, 10 deles foram marcados no segundo tempo das partidas - número equivalente a 90%. Dados que estão tirando o sono do técnico Marquinhos Santos, pois já fizeram o Verdão perder pontos preciosos em confrontos diretos contra o rebaixamento, como nos empates com Cuiabá e América-MG, ou ficar em situações de muita dificuldade de reversão do placar sofrendo gols nos primeiros minutos da segunda etapa, como nas derrotas para Athletico-PR, Palmeiras e, mais recentemente, Ceará.
Diante desses cenários similares, o diagnóstico feito pela comissão técnica e direção de futebol alviverde é a falta de concentração dos atletas no retorno do intervalo. Para Marquinhos Santos, é necessária maior cobrança entre os atletas dentro de campo para manter o mesmo nível de mobilização e também a busca do clube por um profissional com conhecimento específico em psicologia do esporte para colaborar na solução do problema.
— Por mais que se leia e procure entender, é algo que não passa pelo nosso conhecimento específico. O clube está se reestruturando e precisa de profissionais que tenham esse conhecimento. Precisamos encontrar mecanismos para buscar a solução do momento de concentração no retorno do intervalo — afirmou o treinador após o jogo contra o Ceará.
Para tentar entender o processo de forma mais profunda, a reportagem do Pioneiro em GZH consultou o Doutor em Psicologia do Esporte e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora-MG, Renato Miranda, que fez uma análise das situações que tem ocorrido com o Juventude.
— Primeiro ponto é saber o que está provocando a falha na concentração. Por exemplo: pode ser uma questão de mobilização física. No retorno, os atletas não são reativados como deveriam, como estivessem começando o segundo tempo mais lento que o adversário. Em outra hipótese, pode ser um problema da resistência da concentração, que é da biologia humana. Durante uma atividade, com o passar do tempo, há uma tendência de diminuição de concentração. Às vezes são apenas dois ou três jogadores, mas há três momentos em que o atleta precisa estar mais concentrado. No início de jogo, volta para o segundo tempo e minutos finais. A retomada, pós intervalo, é algo bem característico do esporte, inclusive existe aquela expressão de o 2 a 0 ser um resultado perigoso — explica Renato Miranda.
O psicólogo também destaca a necessidade de recuperação, antes do retorno para o segundo tempo, de algumas funções pré-estabelecidas aos jogadores, como posicionamento em bolas paradas e orientações quanto às características do adversário.
— Além do reaquecimento, nos minutos antes da retomada, é importante mentalizar com os jogadores todas as tarefas que eles precisam executar, principalmente nos primeiros minutos. É o que chamamos de remobilização psíquica. Algo prático para essas situações chama-se de foco estreito externo, quando você limita o seu foco de atenção a um objetivo principal, que pode ser a bola. Ao fixar o olhar, o tempo todo, isso excita a mente e desperta a concentração — comenta Miranda.
Com os estádios vazios por conta da pandemia, os gritos dos técnicos, demais membros da comissão, reservas e dirigentes na arquibancada são mais perceptíveis. Muitas vezes ocorrem para reclamar de a uma decisão da arbitragem. Em outros momentos, são orientações para os atletas. Entretanto, nem sempre falar alto é o melhor caminho.
— Funciona se o grito tiver uma informação valiosa, como alguma orientação sobre uma estratégia do adversário. Gritar aleatoriamente, como é muito comum no futebol, sem passar uma informação importante, não tem muito valor. Pode ser até uma bronca, desde que ela contenha a solução do problema — disse o psicólogo.