A Wine South America, uma das maiores feiras de negócios do setor vitivinícola na América Latina, começou nesta terça-feira (12), em Bento Gonçalves, e segue com programação até quinta-feira (14). A organização espera movimentar mais de R$ 30 milhões em negócios para o setor e atrair cerca de 7 mil visitantes nos três dias de evento.
Quem circulou pelo Fundaparque nesta terça-feira (12) pôde conferir de perto as atrações e experimentar vinhos dos mais diferentes produtores, oriundos da região da Serra, do Brasil e do Exterior. Além disso, tecnologia, lançamentos e inaugurações também marcaram presença na Wine South America.
De acordo com a gestora da feira, Jussara Konrad, a interação dos visitantes com os expositores foi muito grande neste primeiro dia:
— O primeiro dia de Wine South America teve um saldo extremamente positivo, tanto pelo volume de público qualificado, que participou ativamente das nossas programações e rodadas de negócios, quanto pela satisfação de nossos expositores. A feira se confirma como um ambiente favorável para networking, conhecimento e negócios.
O Pioneiro circulou pela feira e selecionou seis destaques que chamaram a atenção no primeiro dia de feira realizada na Fundaparque. Confira a seguir:
Sommelière virtual
Um sistema, programado por meio de inteligência artificial, auxilia o público a escolher melhor os vinhos para harmonizar com refeições ou a agradar o paladar do respectivo consumidor. Essa é função da Val, a sommelière virtual do Grupo Famiglia Valduga, de Bento Gonçalves.
A personagem de origem italiana e natural de Bento foi idealizada para inovar no atendimento ao consumidor. Na feira, Val apresenta os itens do portfólio, compartilha experiência, dá dicas de harmonizações e busca aproximar mais os clientes da empresa.
— As pessoas têm muitas dúvidas no mundo do vinho. O que degustar, como prefere, se um vinho suave, um vinho seco, um vinho com barrica ou sem barrica. Então, a ideia é democratizar o mundo do vinho e trazer isso para o digital, que é onde as pessoas estão hoje — explica o coordenador de comunicação da empresa, Artur Tramontina.
Tramontina ainda aponta que a ideia é que a personagem esteja presente no site, nas redes sociais, em um aplicativo que está em desenvolvimento. Além disso, o objetivo é que ela protagonize degustações online com os clientes.
— Se a pessoa quiser acessar o site para saber sobre algum vinho, não necessariamente comprar, saber sobre uma uva ou um vinho, ela também pode ajudar. A ideia é ser grátis e estar tanto na loja virtual quanto no site institucional.
Método com tanque em formato geodésico
Um tanque em formato geodésico, concebido e criado pela experiência do enólogo Giovanni Ferrari, é um dos destaques da Wine South America. Na feira, Ferrari lançou a Linha Geodésis, elaborada com uvas cultivadas em Encruzilhada do Sul e fermentado no tanque de aço inox criado por ele próprio.
O tanque otimiza o processo de fermentação do vinho, diminuindo processos e tornando aromas e sabores mais evidentes no paladar e olfato. O enólogo explica que a ideia surgiu em leituras de revistas francesas, quando ele trabalhava na Chandon, na França. Ferrari estudou sobre o comportamento do gás carbônico no vinho e criou o tanque, juntamente com uma metalúrgica da região do Vale dos Vinhedos, que reproduziu a ideia em aço inox.
— Este tipo de tanque possibilita uma extração mais elegante de polifenóis. O tanque tem vértices dos triângulos equiláteros que compõem a superfície. Assim, o gás carbônico é direcionado para o centro, exercendo uma pressão menor sob a massa. Com isso, o peso do bagaço é mais proporcional, ficando embebido no líquido durante todo o processo — explica Ferrari.
Com esse processo, acontece um maior acúmulo de aromas frutados frescos, que não são liberados para a atmosfera. Nos tanques cilíndricos, mais tradicionais, as cascas ficam na parte superior, exigindo remontagens manuais. Com o tanque criado pelo enólogo, em vez de 40 remontagens manuais, apenas três são necessárias.
Vinho em lata
A empresa americana Ball é responsável por envasar vinhos de 12 vinícolas em latas. Há três anos, apenas uma vinícola tinha aberto a oportunidade para essa forma diferente de consumo e embalagem, segundo o supervisor comercial de novos negócios da empresa, Diego Cherutti.
— Hoje em dia nós já temos três ou quatro marcas grandes, mas na feira, neste ano, a gente já tem 12 rótulos diferentes. O crescimento está sendo exponencial. A procura está sendo muito grande e é muita ocasião de consumo. Hoje tem muitas praias que você não pode entrar com vidro, eventos privados onde não pode ter vidro. — contextualiza Cherutti.
Ele conta que é possível enlatar todos os tipos de vinhos, desde o cabernet até o espumante. Afirma que na lata não há limitação e, por isso, a oferta depende da imaginação das empresas e do consumidor.
Vinhos exóticos de produtores europeus
Quando se pensa em vinhos finos, o que vem à mente são produtores chilenos, argentinos e até da região da Serra. Mas, quem passou pelo Wine South America teve a oportunidade de conhecer vinhos de países diferentes e de uvas diferentes, que não são produzidas no Brasil.
— Apresentamos vinhos da Moldávia, Bulgária e Grécia. Dentre esses vinhos, temos a uva temjanika, por exemplo. Da Grécia, temos um vinho de uva vidiano e aidane. Nós temos outro da Grécia com a uva malagousia. Temos uva agiorgitiko, xinomavro, melnik. São uvas que a grande maioria dos visitantes não conhece, porque não são muito comuns aqui — explica Fernando Zamboni.
Ele conta que os visitantes experimentam os vinhos e comparam com os que eles conhecem, como os nacionais ou da América do Sul. No entanto, Zamboni aponta que o custo-benefício dos vinhos considerados exóticos é melhor do que os encontrados de forma mais comum no mercado.
— Cada uva dessas se assemelha a alguma coisa que a gente conhece. Então, por exemplo, a uva melnik, que é o nosso campeão de venda, se assemelha a um merlot. E esses países têm tradição na produção de vinhos. Já se fazia vinhos na Moldávia muito antes da Itália, da França, da Espanha. A Grécia nem se fala. Alguns dizem que é onde nasceu o vinho. Essas pessoas estão fazendo vinho há milhares de anos.
Oportunidade para lançar espaço de Enoturismo
A Wine South America foi a oportunidade escolhida pelas sócias Andreia Milan e Juciane Doro, da vinícola Amitié, de Farroupilha, para lançar uma novidade da marca: um espaço exclusivamente focado no Enoturismo, no Vale dos Vinhedos.
— Lá tem um wine bar, que deve estar funcionando nos próximos 30 dias. Também teremos degustações com agendamento, parrilla pra fazer eventos, caves de maturação dos vinhos. E daqui a um ano, mais ou menos, a gente já vai começar a fazer algumas vinificações também — conta Andreia.
A vinícola Amitié é um projeto de duas mulheres e, acima de tudo, amigas. Por isso, o nome da vinícola, traduzido do francês, significa amizade. Em 2018, as duas criaram o negócio que, atualmente, está presente em mais de 2 mil pontos de vendas no Brasil.
— Nossos rótulos têm um olhar mais feminino. Temos essa perspectiva da mulher, esse olhar sobre os detalhes em vários projetos. Somos bem cuidadosas com os rótulos — conta.
Recorde de lançamentos
A marca gaúcha Garibaldi aproveitou a feira para apresentar sete produtos ao público consumidor. São três vinhos e quatro espumantes novos, entre eles o Prosecco Sweet, que conquistou medalha de ouro duplo e 99 pontos no Concurso Internacional de Vinhos e Licores Vinus, na Argentina.
— A crescente evolução da vitivinicultura brasileira tem contribuído para desconstruir muitos mitos no setor, como a questão da qualidade como mérito exclusivo de rótulos internacionais. Outro ponto é de que bons produtos são, obrigatoriamente, com valor elevado— afirma o gerente de marketing da empresa, Maiquel Vignatti.
Para Vignatti, a empresa busca, na feira, mostrar como o consumidor pode brindar com vinhos e espumantes nacionais de alto padrão, com preços compatíveis com a realidade de mercado. Isso porque a marca oferece este lançamento premiado, o Prosecco Sweet, por menos de R$ 40.
Entre os lançamentos, a Garibaldi também apresenta o espumante Garibaldi Viognier, elaborado com uvas originárias do leste europeu, o espumante Garibaldi Moscato - Zero Álcool, o espumante Garibaldi VG Nature Blanc de Blanc, que se destaca pelo baixo teor de açúcar, o vinho Garibaldi VG Ancelotta, feito com uvas que fazem parte de um reduzido vinhedo e passou por amadurecimento de 10 meses em carvalho, e o vinho Garibaldi Sauvignon Blanc. Também tem o vinho Garibaldi VG Alvarinho, elaborado com uvas da safra 2023, que passou por processo de vinificação que potencializa os aromas.