Descendente de japoneses, Fabian Tamura, 35 anos, sempre quis conhecer as origens. Logo após ingressar no curso de Direito, resolveu viajar para o país do avô Izumi Tamura, que imigrou para o Brasil por volta de 1932. Morou em Tóquio e Nagoya por três anos. Voltou encantado com a tecnologia e trocou a graduação para Engenharia.
Em 2017, abriu a Tamura Robótica, uma empresa multimarcas de robôs com clientes em todo o país e América Latina. O foco são as empresas de médio e pequeno porte. Recentemente, fechou com a Souza Cruz para um projeto de dosagem.
— Nosso diferencial é trabalhar não a marca, mas o processo do cliente. É buscar uma solução para a necessidade dele — diz.
Natural de Pelotas, Tamura conta nesta entrevista como surgiu a empresa, os planos de expansão e o que o trouxe para Caxias: o handebol. Jogou no Recreio da Juventude e, acompanhado da família, decidiu ficar na Serra. Hoje é casado e tem uma filha. Confira:
Como surgiu a empresa?
Quando eu era pequeno, meu pai trabalhou um tempo no Japão, então, era aquela coisa de infância, de querer ir ao Japão igual o papai, até porque a gente tem descendência. Entrei na faculdade com 16, 17 anos fazendo Direito. Fiz um semestre e meio e resolvi trancar para ir ao Japão. Vou agora enquanto sou novo para pegar uma bagagem, experiência, ver se é Direito mesmo que quero. Lá eu tive o primeiro contato com a robótica e comecei a aprender e conhecer, porque é um universo que não para de crescer e evoluir. Fiquei três anos morando lá e trabalhando em parte fabril que me deu bagagem muito grande. Tive esse aprendizado na prática, na vivência do dia a dia com a robótica industrial. Retornei ao Brasil em 2009, 2010 e falei "não é Direito mais o que quero fazer". Fui para Engenharia e pensei em trabalhar com esse nicho no Brasil. Comecei a atuar nas frentes onde o mercado estava com mais necessidades. No início, só com serviço, sem produto, fazendo consultorias, programação, dando treinamento e conhecendo o mercado. No ano de 2017, montei a empresa física, começou na Perimetral, e começamos a agregar produtos: projetos especiais, projetos, venda de robô, automações. Atualmente a gente trabalha com uma linha de robôs para atender a pequena empresa, a média empresa que a gente está conseguindo automatizar, inserir tecnologia dentro da indústria a um custo acessível.
As pessoas parecem ter um pouco de medo quando se fala em robôs. Como podemos pensar que o robô não irá necessariamente substituir as pessoas, mas liberá-las para outras funções?
Uma coisa fomenta a outra. Eu tenho um operador soldando, o robô vai soldar no lugar do operador. O soldador vai ser mandado embora? Não. Ou sim. Depende do operador, depende da pessoa. Hoje em dia quem quer trabalhar, trabalha, quem quer se qualificar, se qualifica. Para o robô trabalhar, tem que ter alguém operando, um programador, o pessoal de manutenção. Por mais que vá executar trabalhos que o ser humano executa, ele precisa ainda muito de nós para que funcione. É natural esse pensamento de que vai substituir, mas a gente tem que analisar com um pouco de cautela, principalmente com relação a qualificação.
Qual o volume de vendas da Tamura e planos de expansão?
Do último ano, a gente está com uma média de venda de um robô a cada dois meses. Somos em quase 20 profissionais, ou seja, a gente tem um networking muito bom, a gente consegue atender a nível Brasil. Porém, a gente tem uma limitação principalmente de espaço. A gente quer, até o ano que vem, aumentar, ter um segundo espaço para absorver demandas maiores, porque algumas coisas hoje a gente declina por questão de capacidade de atendimento. Não adianta querer pegar um projeto enorme, a gente não vai conseguir atender, vai ferrar com a vida do cliente, vai estragar o nosso portfólio. Então, ter um segundo espaço mais para Paraná, São Paulo, para ter esse apoio técnico aqui, e a parte comercial também, que a gente já está desenvolvendo São Paulo. A gente já tem um comercial fixo lá trabalhando para a gente. Não precisa de um espaço geográfico estratégico. Daqui de Caxias a gente conseguiria atender o Brasil todo e a América Latina. Porém, se a gente conseguir se organizar um pouco melhor, conforme a evolução, a gente ganha agilidade e isso vai repercutir em um atendimento mais rápido. Inclusive, já dei um curso de extensão na Unisinos de robótica industrial, semanas acadêmicas na UCS. A gente sempre tenta, em paralelo ao nosso produto e serviço, trabalhar o mercado para tentar desenvolver essa maturidade que eu comentei antes, essa evolução que é importante.
E a tua vinda para Caxias?
A vinda para Caxias foi para jogar handebol no Recreio da Juventude. O técnico daqui viu um campeonato nosso, eu estava no São José de Pelotas. Viemos todo mundo para eu jogar handebol. Eu tinha uns 14, 15 anos.
Por que não seguiu no esporte?
Foi por decisão. Até o colégio era handebol da uma da tarde até as onze da noite. Eu sempre fui de objetivos, de metas. Consegui chegar nos objetivos que eu tinha traçado para o handebol. Já que eu vou para lá (Caxias), vai ser uma coisa séria, vou traçar um planejamento. Joguei na seleção gaúcha, cheguei até a última fase de seletiva da brasileira, consegui resultados legais. Ganhamos o Campeonato Brasileiro, ganhamos do Pinheiro, de São Paulo, que era o sonho do técnico. Quando terminou o colégio, foquei na faculdade, no trabalho, passei a pensar no profissional. A gente joga com os guris da UCS, inclusive, a gente apoia o feminino da UCS.
Ouça trecho que foi ao ar no Gaúcha Hoje desta segunda-feira (31):
Por que permaneceu em Caxias e o que acha da cidade?
Apesar do clima frio, que nos incomoda, Caxias é uma cidade que me agrada muito, é organizada, limpa. Tem coisa para melhorar como toda cidade tem, mas tem uma localização bacana, o polo metalúrgico é uma referência, está pertinho de Porto Alegre. Caxias é uma cidade que nos atende muito bem. Sempre que saio para trabalhar ou para passear, volto e penso: “Realmente, Caxias é muito boa”. Às vezes, a gente não sai e não enxerga. Eu valorizo bastante. A economia funciona. A indústria puxa o comércio, que puxa o consumo, que puxa serviços. Caxias é isso, chuta uma pedra e tem uma empresa, e de tudo, de tudo que é segmento, produto. Para nós, empresa, é muito positivo.