O mercador imobiliário de Caxias do Sul se recupera neste ano depois de ser fortemente impactado pela crise econômica decorrente do coronavírus. Desde o ano passado, o setor ficou marcado pelo esvaziamento de salas comerciais, redução do preço dos aluguéis e insegurança para a compra de imóveis. Com isso, os valores sofreram sensíveis oscilações e, em alguns casos, até reduziram suas margens, com leve desvalorização. Agora, dizem as imobiliárias e corretores, o momento é favorável para negociar a aquisição de apartamentos, casas e até mesmo de pontos comerciais.
A gerente comercial da Ello D'Arrigo Negócios Imobiliários, Cristina D'Arrigo, diz que o investimento em imóveis tende a ser um negócio vantajoso, porque a expectativa é que eles voltem a se valorizar nos próximos meses. Particularmente, os usados, diz a gerente, podem ser interessantes para o consumidor agora. Segundo Cristina, o preço desse perfil de imóvel não sofreu reajuste em Caxias e, se reformados, podem ser atrativos.
Por outro lado, quem está em busca de novos empreendimentos pode encontrar valores mais altos, já que a falta de insumos tem forçado o aumento de custos para a construção civil. A empresária comenta ainda que, desde o início da pandemia, o setor sofreu uma mudança no perfil do consumidor, causado especialmente pela necessidade de um espaço para ser usado de home office.
— Na verdade, os consumidores procuram mais qualidade de vida. Isso quer, seja no espaço, na posição solar, na área externa, no caso de casas e chácaras. Então, isso acabou movimentando indiretamente o mercado. E os outros imóveis, por exemplo, com um ou dois dormitórios, ou ainda, imóveis de maior valor agregado, estão movimentando em função das baixas taxas de juros. Os financiamentos bancários que, antes eram praticados com 11%, 12% ao ano, hoje estão em 6,5%, 7%. Isso deu uma movimentada boa — explica Cristina.
Investir em imóveis tem sido uma das operações mais atrativas
A corretora de imóveis Márcia Orso reforça a tese de que o mercado caxiense está bastante aquecido. Ela avalia que, além da compra para o uso próprio, o investimento em imóveis é bastante atrativo neste momento.
— Quem tem algum valor em mãos acaba procurando para investir, até porque está valendo mais a pena investir em imóveis do que deixar o dinheiro na Poupança. O retorno de investimento em um imóvel é maior, tanto pela valorização e bom desconto na negociação de quem compra imóvel pagando à vista, quanto os juros baixos de quem recorre a um financiamento bancário. Os juros nunca na história estiveram tão baixos — afirma Márcia.
A diretora administrativa da Grazziotin Negócios Imobiliários, Karla Grazziotin, reconhece que esse cenário é favorável também à renegociação de aluguéis. O IGP-M, índice usado como base para o reajuste com locatários, chegou, em junho, aos 35,75% no acumulado dos últimos doze meses. No entanto, de acordo com Karla, os proprietários têm feito descontos para evitar o esvaziamento dos espaços, tanto comerciais quanto residenciais.
— Está bom tanto da compra quanto da locação. Como no ano passado tiveram bastante entregas e os imóveis ficaram muito tempo desocupados, os proprietários estão fazendo boas ofertas — sinaliza.
Em curto prazo, preços não devem subir
Se as condições do mercado imobiliário já estão mais favoráveis, a expectativa é que possam ficar ainda melhores. É o que diz o presidente da Associação das Imobiliárias de Caxias do Sul (Assimob), Nelson D'Arrigo. De acordo com o empresário, tanto as locações, quanto as vendas, já estão aquecidas e deve continuar a ganhar força, devido à projeção de que a pandemia terá um controle maior nos próximos meses.
A entidade estima que a cidade tenha de três a quatro mil imóveis disponíveis para a venda, o que em um ano típico costuma ser movimentado.
— A perspectiva é que a crise, que vem desde 2014, está começando a se debelar, está começando a mostrar que o Brasil tem toda a possibilidade de começar a crescer e Caxias não é diferente. Ela está um pouco mais lenta do que em outras regiões. A própria construção civil ainda não voltou na sua plenitude, mas a expectativa que a gente tem é de que volte, sim. A perspectiva que todos nós temos, no setor imobiliário, é de que o segundo semestre será muito bom — avalia.
De acordo com D'Arrigo, a tendência é de que os preços se reposicionem a um patamar regular, depois da desvalorização durante o ano passado.
— Não vejo possibilidade de grandes aumentos de valor. Porém, nós temos de levar em consideração que faz desde 2015 que não existe lançamento novo em Caxias. E Caxias, anualmente, sempre comercializou em média de três a quatro mil imóveis por ano. Então, são coisas que a gente precisa também avaliar quando a gente pensa como o mercado vai se reposicionar, se a oferta de imóveis também despencou, ou seja, caiu muito a oferta de imóveis e de lançamentos. Muitas construtoras fecharam, outra suspenderam as atividades e não voltaram ainda, e são raras as construtoras que hoje estão trabalhando e investindo em Caxias — aponta.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) estima que o brasileiro pode pagar de 5% a 10% mais caro nos imóveis em 2021 do que pagou em média no ano passado. Essa perspectiva leva em conta fatores como o aumento da taxa Selic, a alta do dólar, a inflação da construção civil, além do próprio crescimento da demanda.
Sonho da casa própria
Sonho recorrente no imaginário do brasileiro, a casa própria se tornou uma realidade para os metalúrgicos Luana Ribeiro dos Santos, 23 anos, e Glorindo Luz da Fonseca, 28. O casal que residia no bairro Bela Vista, em Caxias do Sul, viu o aluguel aumentar durante a pandemia. Foi o impulso que faltava para que eles buscassem uma alternativa para substituir o pagamento mensal por um imóvel locado, por uma prestação para ter a posse de um sobrado no bairro Nossa Senhora de Fátima, onde moram há cerca de três meses.
— A gente pensou que não resolvia investir em aluguel, sendo que a gente poderia investir em algo nosso, que não fazia muita diferença. Então, a gente optou por ir atrás de algo para nós — conta Luana, que antes de se mudar para a Serra residia em Barracão, no Norte do Estado.
Luana prefere não revelar o valor do imóvel, mas diz que o preço da prestação do sobrado é semelhante ao custo do aluguel onde moravam. A escolha por este tipo de imóvel levou em consideração a preferência por um lugar com maior possibilidade de circulação em relação a um apartamento e a vantagem financeira na comparação com uma casa.
— Eu, para ser bem sincera, parece que faz bem mais tempo que estou morando aqui. É um investimento, um sonho que tu está realizando, porque a casa própria hoje não é muito fácil. Então, tu sabe que está dentro daquilo que é teu — sintetiza.