– A nossa cidade é riquíssima em produções culturais e artísticas de qualidade e, modestamente, servem como modelo para muitos municípios do nosso país.
É dessa forma que a nova Secretária Municipal da Cultura, Cristina Nora Calcagnotto percebe, reconhece e avalia o que o mercado cultural produz e realiza em Caxias do Sul. É também um trecho da entrevista concedida após o anúncio oficial, na última quarta-feira (22), quando Cristina assumiu o cargo deixado por Aline Zilli e que estava sendo conduzido, de forma interina, por Magali Quadros.
Confira a seguir, o que a nova secretária pensa a respeito da ocupação da Maesa, cuja consulta pública deve ser lançada nesta terça-feira (28). Além disso, a secretária antecipa que o Financiarte deve receber o mesmo orçamento de 2022, ou seja, R$ 800 mil em recursos.
De que forma tu pode contribuir para promover uma maior aproximação entre Cultura e Turismo?
Não é de hoje que a Cultura e o Turismo andam juntos e, da mesma forma, não é de hoje que tentamos estreitar essas relações. O Turismo Cultural é um dos grandes motores do Turismo e, aqui em Caxias, temos muito ainda a explorar nesse sentido. A nossa cidade tem muitos atrativos que podem aproximar os turistas, e assim, gerar emprego e renda e, principalmente, movimentar a economia regional. Se fizermos um exercício rápido e pensarmos tudo o que acontece aqui na nossa cidade, em poucos minutos elencamos uma série de ações, sejam elas festivais, mostras, exposições, visitações a museus e espaços culturais, feiras, concertos, apresentações artísticas. Sem nominá-las, várias vieram à cabeça, não é? E afirmo isso me referindo a todas as iniciativas da cidade, e não só as promovidas pelo poder público. A nossa cidade é riquíssima em produções culturais e artísticas de qualidade e, modestamente, servem como modelo para muitos municípios do nosso país. De nossa parte, a intenção é de incentivar o máximo possível a produção, a formação e a fruição. Todos ganham com isso.
Tu assume agora como secretária, mas conhece bem a pasta por atuar no governo Adiló desde 2021. Haverão mudanças internas?
Não haverá mudanças substanciais nas Unidades, permanecendo a maioria, senão todas. A ideia é mexer na diretriz de trabalho de algumas delas, voltando o foco para a formação, incentivo à produção e apoio à classe, não cuidando somente da realização de atividades, tudo dentro do que for possível neste momento. Mudanças são necessárias e bem-vindas, sempre, se for na tentativa de melhorar o serviço prestado. Oportunamente vamos mexer.
Qual será o papel da Magali Quadros?
A Magali volta ao seu cargo de origem de Diretora Geral. Ela é peça fundamental na nossa engrenagem. Sua expertise em cultura, arte e serviço público é de suma importância para o processo como um todo. Além do mais, conforme alinhado com o prefeito Adiló Didomenico e, a vice-prefeita Paula Ioris, a ideia do nosso trabalhado é de continuidade e avanços, para tentarmos recuperar o tempo perdido na pandemia. Vamos dar a volta juntos, nós e os nossos pares da sociedade civil. Já vínhamos trabalhando assim com a Aline Zilli e não vamos medir esforços para dar sequência.
A respeito do Financiarte, quanto será investido neste ano e quando deve sair o novo edital?
O Financiarte é sempre uma pauta que nos é cara e, por isso, cuidamos sempre com muita atenção. A ideia é que permaneça com o mesmo valor do ano passado (R$ 800 mil), mas ainda estamos aguardando a confirmação da viabilidade, pois temos a ciência do orçamento negativo. Ele já está tramitando internamente e deve sair logo, antes do que foi lançado no ano passado para tentarmos ganhar tempo. Sobre o edital do ano passado, os proponentes receberam este mês (fevereiro) e já estão organizando a execução das suas propostas. Toda a produção resultante dos projetos é muito importante para a nossa cidade.
Há críticas de produtores culturais locais de que os espaços culturais públicos não estão nas melhores condições para receber shows e espetáculos. Está em vista algum programa de melhorias?
Estamos propondo e organizando algumas melhorias no Teatro Pedro Parenti e na Sala de Teatro Professor Valentim Lazzarotto, tanto no que tange aos equipamentos, quanto à estrutura física. Na sequência, daremos uma atenção à iluminação cênica do Pedro Parenti, que deverá receber uma mesa de luz nova e novos refletores, o que já está em andamento. Já no Valentim Lazzarotto, já foi encaminhada a reforma de seu piso que está impossibilitando o uso momentâneo por conta de algumas avarias. A ideia é tentar fazer isso logo, mas o trâmite e a questão orçamentária sempre nos desafiam. Estamos buscando estratégias para poder atender melhor. Em relação aos demais prédios, estamos diagnosticando as urgências e orçando melhorias no Museu Municipal, Arquivo Histórico, Monumento ao Imigrante, Museu da FEB, entre outros, e já estamos nos reunindo para ver meios para conseguir executá-los. São demandas importantes e isso está no nosso horizonte.
Como andam as obras de acessibilidade nos espaços públicos, a exemplo do Museu Municipal e Arquivo Histórico?
Obras de acessibilidade sempre estão dentro dos nossos planos, não somente no Museu e no Arquivo, mas em todas as nossas casas. São necessárias reformas e isso não se dá tão rápido como gostaríamos. Por ora, para viabilizar o atendimento, nossas equipes estão sempre à disposição para ajudar e facilitar, dentro do possível, o acolhimento de pessoas com deficiência.
A Orquestra Municipal de Sopros pode vir a realizar um projeto no modelo da Escola Preparatória de Dança?
Pode, é claro. Isso sempre esteve em nossos planos, o problema é que esbarramos em como viabilizar, por conta da limitação financeira. É necessário um espaço adequado, instrumentos, professores e, por isso, ainda não saiu do plano das ideias. Mas uma hora sai. Eu e o maestro Bebeto (Gilberto Salvagni) sempre conversamos sobre a Escola, o que ajuda a ideia não morrer e já irmos amadurecendo por quais caminhos seguir.
Como a secretaria encara o projeto de ocupação da Maesa?
Assim como grande parte da população, fazemos muito gosto que ela se torne aquilo que estamos sonhando, e não tenho dúvidas de que um dia vai ser realidade. Só temos que ter paciência e aguardar para que o planejamento que está sendo feito avance. Nos próximos dias será lançada a primeira consulta pública e, assim, o trabalho que está sendo desenvolvido pela prefeitura vai avançando e, cada passo dado, tomando corpo. O escopo já está posto e todo mundo sabe que sua execução não vai cair do céu. O trabalho está sendo intenso em cima disso, desenvolvido, detalhado e cuidadosamente feito por especialistas, para não ser necessário voltar para trás.
De que forma tu, particularmente, percebe a Maesa?
Particularmente, tenho muito carinho pelo tema, uma porque morei 30 anos no centro, muito próximo ao Eberle (Fábrica 1), e então a sua história sempre foi presente para mim, e dois, por ter integrado o Coletivo Guarda-Pó Verde que produziu o documentário A Honra do Trabalho (2013), sobre a importância do trabalho desenvolvido aqui em Caxias na Metalúrgica Abramo Eberle, que, inclusive, pode ser encontrado no YouTube. Eu entendo a Maesa como um lugar promissor e que ainda trará muitas alegrias e bem-estar para a cidade. Todos nós ganharemos com o restauro do bem, a requalificação de seus espaços, ressignificação de seu uso. Por aqui (na secretaria), trabalharemos sem medir esforços para que se concretize, sempre pensando especialmente no setor cultural, mas também na cidade como um todo e, principalmente, na sua sustentabilidade.
QUEM É CRISTINA NORA CALCAGNOTTO
- Advogada e produtora cultural. Tem mestrado em Turismo e Hospitalidade, com ênfase em Turismo Cultural (UCS), especialista em Direito Público (Esmafe e UCS), pós-graduada na MBA em Gestão Cultural - Políticas e Estratégias Culturais (Sapiens e FAI).
- Em 2021, atuou como assessora técnica, e em 2022/23, como diretora executiva, da Secretaria da Cultura de Caxias.
- Por cinco anos foi analista de relações com o mercado na Orquestra Sinfônica da UCS, coordenadora e professora do curso de Extensão em Produção e Gestão Cultural da UCS, e professora dos Cursos de Especialização em Artes Visuais: Pensamento e Produção Contemporâneos e em Práticas em Educação Musical, ambos também da UCS.
- Também foi diretora da Cia. Municipal de Dança e da Escola Preparatória de Dança de Caxias, de janeiro de 2009 a maio de 2015, em que havia sido coordenadora desde janeiro de 2007. De agosto a dezembro de 2012, foi também, diretora-geral da Secretaria da Cultura de Caxias.
- Atualmente, ela é membro do Conselho Municipal de Política Cultural e da Comissão Municipal de Lei de Incentivo à Cultura.