São 45 anos dedicados à preservação, resgate e difusão da história de Caxias do Sul, desde os primórdios da colonização, em 1875. Falamos do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, instituição que comemora 45 anos de criação com uma série de atividades de hoje até a próxima sexta-feira (6).
A programação de aniversário abre com a mostra Teatro em Caxias: Trajetória em Cena, abordando desde as primitivas apresentações artísticas no Teatro Velho, localizado na esquina das ruas Os Dezoito do Forte e Visconde de Pelotas – a partir de 1886 –, até as décadas de 1910 e 1920, período em que se destacou o Grupo Dramático Juvenil, formado por sócios do clube.
A linha do tempo detalha ainda os efervescentes anos 1930 e 1940, época em que o imigrante português Antonio Mano atuava como ator, diretor e notório divulgador das artes cênicas locais. Na sequência, a mostra resgata as apresentações do Grupo de Teatro Amador Ribeiro Cancela, surgido nos anos 1950; o lendário Atelier de Teatro da Aliança Francesa, ativo entre 1958 e 1964; o Festival Imigrante de Teatro, que impulsionou a prática entres os estudantes secundaristas, no final dos anos 1970; e a consagração, a partir dos anos 1980 e 1990, de grupos como Misturas e Bocas, Oficina Um, Miseri Coloni, TER (Teatro Experimental Revolucionário), Grupo Em Cena, Tem Gente Teatrando, Passantes e Pensantes, Molhados na Chuva, Atores Reunidos e Kaleidoscópio, entre outros.
História no palco
A pesquisa foi realizada pela coordenadora da Unidade de Teatro da Secretaria da Cultura, Maysa Stedile, com assessoria da historiadora Fabiana Zanandrea, servidora do Banco de Memória Oral do Arquivo Histórico Municipal. Conforme Fabiana, a mostra prestigia todos que jogaram luz nos palcos de Caxias desde seus primórdios, no teatro, nas ruas, nas escolas e instituições.
– Entrelaçados à memória do trabalho, havia cantos, danças e encenações. Ao expressar uma das manifestações mais antigas da sociedade, desvelava-se uma Caxias cênica, onde grupos apresentavam-se em português e em dialeto vêneto – destaca.
Anos 1930 e 1940: Antonio Mano e Decio Vianna
"Os palcos iluminados de Caxias propiciaram entretenimento e cultura a muitos cidadãos durante essas décadas. O lusitano Antonio Mano, atuante diretor e ator e grande conhecedor do teatro local, apontava o período como o mais vibrante. Figuravam nesse contexto os grupos teatrais “Doppo Lavoro”, que se dedicava ao teatro após o trabalho; o “Circulista”, impedido de apresentar-se no Teatro São Pedro, de Porto Alegre, devido ao envolvimento de alguns atores operários na “produção de guerra” da indústria local; e o “Caxias em Flagrante”, de Decio Vianna, que contava com vários figurinos e uma orquestra completa. É da década de 1930 a criação da Primeira Sociedade Artística Caxiense. O Círculo Operário, com a contratação do ítalo-brasileiro Tancredo Leal, chegou ao sucesso com a peça sacra “O Mártir do Calvário”, que foi repetida seis vezes. Segundo Mano, o público ameaçava derrubar o prédio se não encontrasse lugar no teatro."
“Naquele tempo, a gente vendia ingressos de fábrica em fábrica e assim se podia ao menos cobrir as despesas. Ninguém ganhava nada, mas todo mundo fazia questão de trabalhar.” (Antonio Mano)
“Caxias conta com um punhado de verdadeiros abnegados amantes do belo. Procuram e se dedicam à arte por ela mesma sem a imediata ambição do ganho. Amam-na de verdade, até mesmo com o sacrifício de seu pão cotidiano.” (Decio Vianna)
Anos 1970: o Festival Imigrante
"No final da década de 1970, realizaram-se algumas edições do Festival Imigrante de Teatro (FITE), na Escola Estadual Imigrante. Os idealizadores desse projeto foram os professores Valentim Lazzarotto e Neires Paviani. O objetivo era oportunizar aos estudantes secundaristas um espaço de livre expressão artística. Portanto, as inscrições para o festival abarcavam todas as escolas da cidade.
No contexto ditatorial, os textos, escritos e encenados pelos estudantes, eram submetidos ao olhar da Censura Federal de Porto Alegre, que realizava cortes quando considerava o conteúdo subversivo.
O festival também contava com jurados renomados: Ivo Bender, teatrólogo gaúcho; Davi Camargo, artista da Casa do Poeta; Irmgard Bornheim, diretora do Centro de Artes da UCS e atriz do Atelier de Teatro da Aliança Francesa; Nilton Scotti, diretor do mesmo atelier; Henriette Metsavaht, diretora de teatro, entre outros".
Texto integrante da exposição Teatro em Caxias: Trajetória em Cena.
Para conferir
A exposição Teatro em Caxias: Trajetória em Cena pode ser conferida de forma virtual e presencial – na sede do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (Av. Júlio de Castilhos, 318 - Lourdes).
As atrações do aniversário de 45 anos serão disponibilizadas diariamente a partir de hoje no site oficial da instituição.