
Muita gente desconhece, mas o celibato (veto ao casamento e/ou às relações sexuais) nem sempre foi regra na Igreja Católica. Ele não é um sacramento nem um dogma (algo imutável, nascido com o cristianismo), e, sim, uma tradição. Que pode ser abolido em algum momento, caso os cardeais se reúnam e assim o decidam.
Assim como a castidade é um costume, mas não é obrigação eterna para os sacerdotes católicos, a humildade e a paz pregadas pelo cristianismo tampouco são características imutáveis e históricas dos papas.
O papa da riqueza
O papa Rodrigo Borgia, por exemplo, estava longe de ser casto e humilde. Nascido espanhol (como Rodrigo de Borja), naturalizado italiano, ele foi ordenado padre, bispo e cardeal entre 1440 e 1456 e virou generalíssimo das tropas papais na guerra contra muçulmanos. Teve uma vida de riqueza e opulência raras entre seus contemporâneos.
Oriundo de uma família de empresários, ajudou a armar expedições para rechaçar os árabes da Espanha e, em meio a diversas conspirações no Vaticano, foi eleito papa em 1492, com o nome de Alexandre VI. Este foi o ano da definitiva expulsão dos mouros das terras espanholas.
Um homem de muitas mulheres
Rodrigo Borgia não só era rico e empreendedor de guerras, mas também um homem de muitas mulheres. Tanto que teve oito filhos, quatro deles legitimamente registrados. Dos quatro legitimados, dois ficaram famosos: Cesar Borgia (um nobre célebre e guerreiro, que morreu assassinado) e Lucrécia Borgia, que colecionou maridos, foi suspeita de diversos assassinatos e chegou a ser chamada de "Papisa" por ter governado por algumas semanas o Vaticano durante uma viagem do seu pai, o papa Alexandre VI.
Papas casavam
Como se vê, papas casavam, guerreavam e enriqueciam durante a Idade Média. Era um tempo em que a Igreja Católica era vista como um império a ditar as regras em toda a Europa, em que padres figuravam entre os raros alfabetizados e em que se vendiam indulgências (absolvição dos pecados para conquistar um lugar no Céu). Algo bem diferente do cristianismo voltado aos pobres, pregado por Jesus de Nazaré. Isso mais entre a cúpula católica, porque alguns frades medievais renunciavam à riqueza para cuidar dos miseráveis, como fez São Francisco de Assis.
A reviravolta da Igreja Católica
A Igreja Católica da virada do século XX para o XXI parece gradualmente inclinada a um retorno na opção pelos pobres.
O papa João Paulo II celebrizou-se por quebrar o isolamento do Vaticano, viajando e popularizando o catolicismo mundo afora.
Bento XVI governou de forma tradicional, mas em seguida veio o argentino Francisco, que além de globetrotter, pregou pelos miseráveis, pela bênção aos divorciados e pela aceitação da união entre pessoas do mesmo sexo.
Mudanças e tanto para a instituição de 2 mil anos que ele liderava.
O novo papa
Uma ligeira espiada no currículo do norte-americano Robert Prevost, eleito papa neste 8 de maio sob o nome de Leão XIV, mostra um homem com opção pelos pobres (seguidor de Francisco), com a maior parte da vida religiosa passada num país periférico, o Peru. Só que um pouco mais conservador que seu antecessor nos quesitos de sexualidade.
Ao menos Leão XIV não ostenta no currículo um discurso bélico e de endeusamento da riqueza, o que já o aproxima um pouco mais dos ideais de Jesus Cristo.