Apesar de se chamar A Juventude, os dois protagonistas do longa que estreia em Caxias nesta quinta são artistas beirando os 80 anos. É a partir do olhar – ora cansado, ora entusiasmado – dessa dupla de veteranos que o festejado diretor e roteirista italiano Paolo Sorrentino realiza um ensaio sobre amadurecimento. A juventude em questão está nos personagens que rodeiam o maestro Fred (Michael Caine) e o diretor de cinema Mick (Harvey Keitel), mas também sobrevive neles próprios como numa espécie de balanço sobre o caminho trilhado até ali.
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Toda a ação de A Juventude acontece dentro dos limites de um luxuoso hotel (as filmagens ocorreram nos Alpes Suíços), o que pode sugerir a reclusão como algo em comum entre todos os personagens do longa. Parece que qualquer um ali está tentando salvar alguma coisa, mas vai interagir com aquele cenário de uma forma diferente. Aí entra o belíssimo trabalho de direção de fotografia realizado por Luca Bigazzi, parceiro de Sorrentino também em projetos anteriores, como o frenético A Grande Beleza (vencedor do Oscar e Globo de Ouro de Filme Estrangeiro em 2014), e o bizarramente ótimo Aqui é o Meu Lugar (2011). O olhar de Bigazzi confere personalidade estética numa pele enrugada sendo massageada, ou numa sauna cheia de corpos estáticos, ou em formas físicas completamente diversas expostas na piscina. Casando fotografia cuidadosa com a poesia de Sorrentino, o espectador sai ganhando – preste atenção na delicadeza da cena em que o maestro Fred rege uma fictícia orquestra de vacas e pássaros.
Na trama, Fred está aposentado dos palcos e divide seu tempo entre os passeios pelo ambiente idílico do hotel e as conversas com o amigo Mick, que está hospedado com uma equipe de roteiristas tentando terminar aquele que imagina ser seu derradeiro projeto cinematográfico. Integram o núcleo jovem do longa: Jimmy (na pele do sempre ótimo Paul Dano), um ator observador trabalhando na construção de um personagem; e Lena (Rachel Weisz), filha recém-divorciada de Fred. Ao núcleo veterano acrescenta-se a diva Brenda (Jane Fonda), numa participação pequena, porém capaz de mudar os rumos da história.
Apesar de ter narrativa bem mais acessível do que A Grande Beleza, A Juventude continua tratando de temas abstratos e continua a propor um misto de artes para discutir a essência do indivíduo – não à toa que o cinema e a música são combustíveis para os protagonistas. No meio de tudo isso, surge o olhar crítico de Sorrentino e sua capacidade de fazer o espectador rir enquanto acompanha ascensão ou queda de personagens do imaginário pop (de Maradona a Miss Universo). A unidade entre tudo isso reside na busca existencialista pelo que define cada um, com uma resposta geralmente mais próxima dos tropeços do que das vitórias.
PROGRAME-SE
:: O que: drama A Juventude, de Paolo Sorrentino
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 15, com sessões às 19h30min, nas quintas e sextas, e às 20h, nos sábados e domingos
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Duração: 124min
:: Classificação: 14 anos
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