Em época de vindima, resgatamos um recorte da trajetória de José Bisol, pioneiro da vitivinicultura em Caxias e considerado um dos mais importantes industrialistas do setor nos primeiros anos do século 20. As novas e modernas instalações da Adega Bisol, em uma vasta área do atual bairro Lourdes (leia mais abaixo), foram destacadas na seção “Nossas Indústrias”, publicada na edição de 24 de abril de 1909 do jornal “O Brazil”, findado o período da colheita. Foi quando a equipe de reportagem conferiu e detalhou o interior da fábrica, conforme texto original abaixo:
“Era já terminada a vindima, por aquelas redondezas, quando fomos em visita à Cantina Bisol. Pela rua que lá vai ter, descendo a colina suavemente acidentada, rodavam, vagarosos, grandes carros de carga, atestados de cachos de uva de diversas procedências, ou de quintos superpostos, com vinho de exportação. A rua termina numa pequena praça, de forma irregular, fechada ao fundo pela casa de comércio, tendo, à direita, a oficina de tanoeiro, onde se preparam os cascos; e, à esquerda, esse grandioso monumento do trabalho colonial, a Cantina Bisol
O edifício foi construído há pouco, e ainda ali se estavam ultimando as derradeiras instalações. Três imensas portas dão acesso ao interior da casa - um amplo pavilhão de madeira, onde se encontram, contíguos, as máquinas e os depósitos. No interior há uma atividade de colmeia, sob a inspeção imediata do chefe, que correu ao nosso encontro. E com o seu ar jovial, em extremo cativante, fez-nos ver primeiro a fabricação do vinho, que ele próprio dirigia. Funcionava a máquina Marronier, de um sistema tão simples quanto engenhoso. Na parte superior, vê-se um recipiente afunilando, que apanha os cachos de uva lançados do alto sobre uma calha de madeira. Esses cachos são absorvidos logo, com incrível rapidez e, eliminados os pedículos, pela ação mecânica, caem os bagos, já triturados, dentro da tina, onde o mosto ferve. Esta tina, sobre a qual assenta a máquina, tem a capacidade de 300 medidas.
Quando se faz mister mudar o líquido de vasilhame, ou, já pronto o vinho, levá-lo aos tonéis, basta pôr em comunicação as mangueiras apropriadas e fazer acionar a possante bomba Kock. Ah, os tonéis da cantina - alterosos, bojudos, pantagruélicos.Dão-nos a impressão, assim enfileirados e numerados, de outras tantas casas de Diógenes, em posição invertida, dispostas ao longo de escuros becos... O maior deles contém 6.000 medidas: está para Caxias como o de Johannisberg está para a Alemanha. Dois tipos de vinho - e que delicioso vinho! - estão já acreditados nos mercados do norte, onde o sr. Bisol os vende diretamente: o Excellente e o Guarany.
A produção anual atinge 100.000 medidas, atualmente. Na exposição estadual, em Milão e no Rio de Janeiro, medalhas de ouro e prata, e, por último o grand-prix, galardoaram os esforços do operoso industrial. E quando nós dissermos que José Bisol iniciou sua carreira aos 9 anos de idade, sem um ceitil de seu, plantando a primeira parreira no seu lote pequenino - e que através de uma existência de lutas sem tréguas, mourejando ao sol, dia por dia, a velejar para o futuro, audacioso e confiante, chegou a atual prosperidade - ter-se-á compreendido que a sua opulenta cantina vale como um monumento do trabalho colonial”.
Na imagem acima, vemos a colheita de uva na propriedade de José Bisol (de perfil, à direita), em 1907. José Bisol faleceu precocemente, aos 38 anos, em um acidente dentro da própria cantina, em 16 de dezembro de 1909.
Os vinhos Excellente e Guarany
Citados no texto acima, a casa de comércio dos Bisol e os vinhos Excellente e Guarany estamparam um anúncio publicado no jornal “O Brazil” de 25 de setembro de 1909. O estabelecimento “José Bisol & Companhia” oferecia secos & molhados, fazendas, louças, ferragens, miudezas, sal, cimento, cal e uma vasta gama de produtos coloniais, além de dispor de galpões e de um potreiro.
Os vinhos Excellente e Guarany, juntamente com o “Lágrima de Caxias”, também aparecem em diversos anúncios veiculados no ano de 1910, logo após a morte de José Bisol. A casa de negócios, comandada pela senhora Maria Bisol e pelos descendentes, passou a ser denominada “Viúva José Bisol & Companhia”, conforme a reprodução abaixo.
LOCALIZAÇÃO
O empreendimento situava-se na Avenida Guarany - primitiva denominação da Rua Angelina Michielon, batizada oficialmente de Rua Mântua pela Intendência Municipal em 1925 - a denominação Angelina Michielon surgiu seis anos depois, em 16 de abril de 1931, data do primeiro ano de falecimento de Angelina.
A saber: Consta que o nome Guarany dado ao antigo trecho era uma referência ao vinho produzido pelos Bisol.
PARTICIPE
Você possui antigos registros da vindima pelo interior de Caxias ou cidades da Serra? Envie as imagens, com data e uma breve descrição, para o e-mail rodrigolopes33@gmail.com.