Quem tem mais de 60, 70 anos, com certeza lembra deles – inclusive, de viajar neles. Falamos dos antigos ônibus que, na década de 1940 e começo dos anos 1950, transportavam passageiros entre as cidades e os distritos de vários municípios da Serra e do Estado.
Apelidados de “jardineiras” (leia origem do termo mais abaixo), os ônibus de então eram dotados de bagageiros externos (sobre a capota), cujo acesso para que as malas fossem ali depositadas se dava por uma escadinha fixada na traseira do veículo. Como se pode ver pela foto interna ao lado, também não havia nenhuma sofisticação, embora os bancos fossem de couro. O acabamento em tapeçaria inexistia.
Muitas vezes, na lateral do carro, era pintado um mapa tosco com o roteiro da viagem e o itinerário que a linha percorria. Normalmente, o trajeto era feito com inúmeras paradas ao longo das precárias estradas de chão batido para apanhar e soltar passageiros com suas bagagens – e, eventualmente, até mesmo animais domésticos.
Nas imagens desta página alguns destes clássicos, como a jardineira que levava os passageiros até os distritos de Ana Rech e Fazenda Souza, nos anos 1940 (abaixo), e um modelo pertencente ao Expresso Floresta, cujas rotas englobavam Caxias, Farroupilha, Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula (acima).
Nicola e Marcopolo
O início do transporte rodoviário, competindo com os trens, provocou o surgimento de fábricas de carrocerias para transporte coletivo, montadas sobre chassis, na maioria de caminhões importados dos Estados Unidos – que vinham das indústrias automotivas apenas com a cabine e o cofre do motor. Fábricas europeias, como a alemã Mercedes Benz e a britânica Austin, também forneciam chassis.
Entre algumas lendárias fábricas de carrocerias do Rio Grande do Sul, destacamos aqui a Carrocerias Santa Cruz, a Ott, a Eliziário e a Nicola – fundada em Caxias do Sul em 6 de agosto de 1949 e que se tornaria a gigante Marcopolo.
Origem do nome
O nome "jardineira" para esses clássicos veículos teria duas origens. Uma estética: os ônibus eram quadrados, com aberturas laterais semelhantes aos vasos compridos que ficavam nas sacadas.
A outra seria comportamental: entre os anos de 1920 e 1940, os ônibus transportavam, na ida e na volta, as operárias da região da Mooca e Ipiranga (SP), que usavam os chapéus floridos tão em voga na época. Assim, quando estavam cheios de mulheres, os ônibus pareciam jardineiras, de tantas flores nos chapéus.
Por onde passavam, taxistas, artesãos, padeiros e até os próprios motoristas falavam que os ônibus pareciam jardineiras. E o nome pegou...
Parceria
Algumas das imagens desta página integram o acervo do fotógrafo Alfonso Abraham, a partir de um “garimpo” feito em velhos negativos de fotos feitas pelo pai, José Abraham (1921-1997).
Parte das informações acima foi publicada originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, do colega de memórias Ricardo Chaves, da Gaúcha/ZH.