O livro Era uma Vez, escrito pelo médico Virgilio Tonietto em 2018, é uma viagem nostálgica pelo bairro Rio Branco dos anos 1950 e 1960, período em que ele residiu com a família no clássico endereço da Av. Rio Branco, 808, defronte ao quartel.
Depois de abordagens sobre a família e alguns comércios e personagens folclóricos do bairro, hoje destacamos a primeira parte daquele que talvez seja um dos estabelecimentos mais lembrados por diversas gerações de moradores: o armazém Tonietto, fundado pelo avô Virginio, nos anos 1920, e comandado, a partir de 1948, pelo pai, Luiz Tonietto. Confira os detalhes:
“O armazém era um lugar de encontro de familiares, amigos e colonos que vinham à cidade para vender seus produtos e adquirir mercadorias. Jogavam cartas, faziam refeições e bebiam vinho e uma infusão de cachaça com uva. Após a baixa do Exército, em 1936, o Luiz, que era o último filho homem da família, passou a trabalhar no armazém e foi aos poucos assumindo o controle dos negócios. Em 28 de abril de 1948, Luiz adquiriu os imóveis, o armazém e a casa dos pais, Virginio e Stella. A partir daí, estabeleceu novas normas para que o negócio prosperasse. Foram suspensos os almoços gratuitos para amigos e parentes. Quem quisesse comer e beber, teria de pagar pelo serviço.”
Em seguida, o antigo casarão de madeira foi demolido, surgindo aí o novo armazém e a nova residência da família. Conforme consta no livro, de frente para a avenida ficava o armazém, no meio o escritório e atrás, a moradia. Na parte de baixo havia ainda um grande porão, que servia de depósito de mercadorias, uma adega e uma lavanderia.
Janela para o mundo
Conforme Virgilio Tonietto, o armazém era a janela do pai para o mundo:
“Gostava de conversar com os clientes sobre tudo. Lia diariamente o Correio do Povo e o Correio Riograndense, impresso na Editora São Miguel, dos padres capuchinhos do bairro. Passava o dia tomando chimarrão e fumando palheiros. Apreciava especialmente o fumo amarelinho, que picava com o canivete que sempre trazia no bolso, enrolava em palha e fumava. Antes do almoço gostava de tomar um aperitivo que era uma mistura de Underberg com cachaça. Durante muito tempo, nesse horário, eram servidos em pequenos cálices de vidro aperitivos de cachaça misturada com ervas como arruda, funcho e losna. As pessoas ficavam bebendo encostadas no balcão. Depois, para tirar o aspecto de bar, que afugentava a freguesia, passou-se a vender cachaça só em garrafa fechada”.
Cartas, telefone e sardinhas
O autor Virgilio Tonietto lembra que, até a década de 1950, o armazém era uma das últimas paradas dos carteiros do Correios na Av. Rio Branco. Muitas cartas e encomendas ficavam depositadas ali, até os moradores irem ao armazém buscá-las.
Outra curiosidade lembrada por ele diz respeito ao serviço de telefone e as “pegadinhas”:
“Os telefones fixos residenciais eram bastante raros naquela época . O armazém tinha um aparelho de cor preta, com o número 879. Em casos de urgência, ele era emprestado para uso de familiares, conhecidos e fregueses. Eram comuns os trotes telefônicos infantis, como o clássico “tem sardinha em lata? Então solta as coitadinhas”.
Álbum de família
Na seleção desta página, algumas imagens disponibilizadas pelo senhor Jorge Tonietto, irmão do autor Virgilio e filho de seu Luiz e dona Dalva. Acima, o casarão de madeira do pioneiro imigrante italiano Virginio Tonietto, onde o armazém Tonietto começou, em meados dos anos 1920. Abaixo, o prédio construído ao lado do primeiro armazém – e que funcionou como armazém e ferragem.
Na imagem que abre a matéria, seu Luiz Tonietto tomando um “chimas” em 1977, em meio à infinidade de artigos do lugar. E que lugar...