Dia desses, contemplando minhas orquídeas percebi que as flores caíram faz um tempo. Restaram apenas os galhos secos e um par de folhas na base. Desde então, as coloquei na bancada da área de serviço. Olhando para elas, entre uma arrumação e outra, fiquei pensando na contradição de ter algo que floresce e fica exuberante por apenas um curto espaço de tempo. A beleza das flores compensa a ausência seguinte? O fato delas terem sido presenteadas por pessoas queridas faz com que durem mais no imaginário? Por mais lírica que eu seja, não tenho tanta certeza disso...
Curiosamente, Marcelo também escreveu sobre ciclo de florescimento das orquídeas e, ao ler a crônica antes dela ser publicada, conversamos sobre a coincidência de observarmos o mesmo aspecto peculiar das plantas. Compartilhar uma impressão parecida e a vontade (que dá e passa) de se desfazer delas, porque dão um certo trabalho e deixam pouco espaço para fruição, fez com que me sentisse menos incomodada. Esse senso de pertencimento traz um alívio, de vez em quando.
Na quarta-feira passada, recebi a Medalha Anita Garibaldi, na companhia de outras cinco mulheres com trajetórias relevantes na comunidade e, juntamente com a alegria da deferência, só conseguia pensar nas brechas que tinham sido transpostas para que esse momento fosse possível. Lembrei de um vídeo a que assisti há um tempinho, que falava sobre o projeto The Dream Gap, que nada mais é do que a lacuna nos sonhos das meninas. A lacuna entre elas e a totalidade de seu potencial. A partir dos cinco anos, gurias passam deixam de acreditar que podem ser presidentes, cientistas, astronautas, engenheiras, grandes pensadoras, CEOs. O antídoto para isso é ver mulheres brilhantes sendo brilhantes. Contemplando minhas parceiras de homenagem, pude ter uma pequena ideia de como chegaram aonde estão.
A beleza do momento ofuscou qualquer lacuna, qualquer abatimento, qualquer dificuldade. Não sei se dá para comparar com a efemeridade das flores de orquídea. Andei pesquisando e descobri que cada espécie tem um ciclo: algumas permanecem floridas por meses, outras por apenas alguns dias e ainda assim dependem de luminosidade, temperatura e quantidade de água para mostrarem a melhor forma. Ou seja, mesmo as mais belas e duradouras precisam de cuidados, de um olhar especial.
Pensando nisso, desisti de me desfazer das plantinhas. Sei que elas não podem espelhar meu estado de espírito nem minha tendência a ver beleza em todas as coisas, mas logo, logo elas estarão radiantes e me farão esquecer dos galhos secos, que vão voltar, mas também não serão para sempre.