Terminei, nesta semana, de assistir à série Difamação (no original, Disclaimer). Escrita e dirigida por Alfonso Cuarón tem sido apontada como um dos melhores suspenses do ano. Cate Blanchet está maravilhosa interpretando Catherine Ravenscroft, uma jornalista investigativa que tem o passado exposto após a revelação de um caso extraconjugal que terminou em crime. O objetivo dessa exposição é fazê-la perder tudo o que conquistou: respeito, reputação profissional, família e honra.
É muito difícil não embarcar nesta “campanha”. Passei a maior parte dos sete episódios com raiva da protagonista: “como ela conseguiu fazer isso?”, “como ela simplesmente seguiu em frente?”. Mas aí – atenção, spoiler – ao final descobri que a história não tinha nada a ver com o que parecia.
E esse é o ponto mais surpreendente da série (ou seria da vida?): quantas vezes nós julgamos alguém baseados na impressão de apenas uma pessoa que sequer a conhece? Quantas vezes a verdade aparente não tem nada a ver com a realidade que foge dos nossos olhos? E como voltar atrás, depois disso ter tomado uma proporção gigantesca, quase impossível de ser desfeita?
Um dos pontos altos da série é a admissão de culpa e erro de um idoso vingativo e destemperado, que, ao ser questionado pelo marido da protagonista sobre a versão apresentada, devolve a pergunta a ele: “Como é que você não desconfiou?”.
É só no último episódio que surge a redenção de Catherine, que acaba se reaproximando do filho adolescente e se afastando do marido insensível. Acaba, também, olhando para as pessoas que a rodeiam de uma nova maneira.
E, depois desta reviravolta, dá para sentir até uma ponta de admiração pela personagem que era detestável. Li dia desses uma frase do cineasta Jason Silva que diz: “o maravilhamento é a nova espiritualidade”, o tipo de coisa que aparece quando a gente encontra algo que sequer tinha imaginado. A consequência é um aumento da sensação de bem-estar, além de ajudar na percepção de nosso tamanho no mundo — o que serviria para reforçar o senso de humildade.
E o que isso tem a ver com a série? Às vezes, estamos tão mecanicamente imersos em tarefas e no utilitarismo dos dias e das relações, que mal abrimos tempo para sermos surpreendidos. O que é uma pena, porque é justamente (e normalmente) nesse pequeno ínterim que a vida reluz.