Na companhia de oito simpáticos desconhecidos, subi em um jipe com bancos dispostos como arquibancadas a fim de avistar animais selvagens dentro de uma reserva sul-africana. Fazia muito calor e todos os passageiros ignoravam o sol forte e focavam toda atenção em tentar visualizar os bichos, que mimetizavam a vegetação.
Lá pelas tantas, umas zebras decidiram cruzar a estrada e houve a maior comoção, com direito a gritos e palminhas. Nem de longe elas integram o grupo mais desejável para ser visto em um programa como esse. Conhecidos como Big Five (cinco grandes), leão, leopardo, búfalo, rinoceronte e elefante são o principal motivo da expectativa da maioria. Mas as zebras conseguiram empolgar.
Logo depois, uma girafa apareceu. Segundos mais tarde, outra juntou-se a ela. O motorista explicou que eram fêmeas e suas línguas tinham 54 centímetros. Eis o tipo de informação que dificilmente apareceria em outro programa que não esse.
Mais uma paradinha no veículo para fotos — um dos meus parceiros de jornada estava com um equipamento profissional, com direito à teleobjetiva e tudo. O homem da frente emprestava o binóculo para que os interessados pudessem tentar procurar o que não parecia claro.
— Acho que vi algo ali!
Bastava alguém proferir a sentença para os olhares tentarem buscar aquilo que estava distante. Às vezes, não passava de uma impressão equivocada, mas as pessoas seguiam animadas pelas próximas descobertas. Lembrei o jogo de esconde-esconde na infância, em que a graça residia em encontrar algo. Nessa época, prestávamos atenção em tudo, para que nenhum detalhe passasse despercebido.
Achei que um safári também fosse assim, mas ele se aproxima bem mais da nossa vida adulta. Depois de ver girafas, zebras, gnus, babuínos com e sem filhotes, elefantes, hipopótamos e rinocerontes por horas, o interesse de todos pelas peculiaridades da vida selvagem começa a diminuir.
Cada nova girafa que surgia nem merecia a redução de velocidade do veículo. Até brincávamos sobre isso — “ah, é só uma girafa” — e todos ríamos muito sobre o esvaziamento da curiosidade. Ela só voltava em momentos inusitados, como um elefante mergulhando e aparentemente se divertindo com o corpo coberto d’água.
Houve, também, outros momentos de reflexão, como quando uma ossada de elefante apareceu. O animal morreu sozinho, como acontece nesse tipo de ambiente. Quando o bicho quebra uma perna, por exemplo, sabe que não terá chances de fuga e virará presa fácil. Aí, mesmo que viva em grupos, acaba sendo abandonado.
Só os mais fortes sobrevivem, né?
Essa afirmação que vive sendo repetida metaforicamente em livros de negócios e manuais de autoajuda assume contornos desconfortáveis quando transferido para a realidade. Eu nem quis fotografar aqueles ossos enormes, porque registro só o que quero lembrar.
Após alguns suspiros, suor escorrendo e muitos quilômetros percorridos sem nenhuma emoção, alguém avisou que havia um leão embaixo de uma árvore. Só que a árvore em questão parecia ter o tamanho da minha unha, por conta da distância que ela estava. Imagina, então, a dificuldade para enxergar o rei das selvas a olho nu...
A possibilidade acabou virando uma catarse coletiva, todo mundo tentando dar seu jeito para avistá-lo. Confesso que mal enxerguei a vegetação, mas me diverti bastante em constatar que basta um lampejo de novidade para a animação voltar — e o desejo de desbravar novas paisagens ressurgir.
Não é exatamente assim que funciona?