Quem vê close não vê corre.
A frase que se consagrou em postagens nas redes sociais, para mostrar que muitas vezes a vida fácil está longe da realidade, pode resumir a impressão que tive ao assistir à minissérie sobre David Beckham, que estreou no início do mês na Netflix.
Comecei a acompanhar meio sem saber o que esperar – se seguiria a linha da série sobre Georgina, a mulher do Cristiano Ronaldo, ou se teria um tom menos glamuroso – e, sem spoiler, desconstrói um pouquinho a ideia de perfeição do bonitão inglês. Até acompanho um pouco da trajetória do ex-atleta, especialmente quando virou referência de metrossexual. Lembro-me de um texto divertido do Xico Sá, de 2010, que começava com a seguinte sentença: “E da costela de David Beckham, Deus fez o metrossexual”. Na crônica, ele fazia um contraponto entre os heterossexuais urbanos com elevado senso estético e os machos-jurubeba.
Dentro do campo, Beckham era disciplinado e assertivo desde a infância, mas viu a vida ser transformada em um inferno após ser expulso da partida da seleção inglesa contra a da Argentina, na Copa da França em 1998. Provocado por Diego Simeone, ele foi derrubado levantou o pé e meio que chutou o argentino, ato que culminou com um cartão vermelho. Argentina venceu a partida das oitavas de final nos pênaltis e avançou na competição. O treinador da Inglaterra era Glen Hoddle, que o culpou pela eliminação e Beckham virou bode expiatório da eliminação da seleção. Passou a receber de cuspes nas ruas até ameaças de morte. Virou, naquela época, a figura mais odiada do país. A série mostra os bastidores desses momentos difíceis, a repercussão na família, no vestiário e na imprensa. No final das contas, ele conseguiu reencontrar o próprio caminho.
Isso serve como um alerta e um consolo: costumamos achar que a vida dos outros é mais fácil. Costumamos nos basear por aquilo que as pessoas mostram sobre si – viram as percepções de especialistas em redes sociais, que apontam que as pessoas estão postando cada vez menos sobre suas vidas, porque a fórmula meio que se esgotou? Os estímulos que recebemos online têm relação maior com conteúdo pago do que com a realidade de seus criadores. E quem se interessa? Só quem está bem próximo. Esse é o ponto: as pessoas que estão por perto são as que se importam e é só isso que vale. As outras são plateia. E aí não precisa fazer esforço para agradá-la, a menos que você esteja representando em cima de um palco e sedento por aplausos. Caso contrário, o bastidor já dá bastante trabalho – e pode até ser recompensador.