Na infância, eu tinha um porquinho da índia que vivia em uma gaiola na área de serviço do apartamento em que eu morava. Em uma manhã, ao ir alimentá-lo, percebi que estava morto. Foi bem triste lidar com a finitude e as despedidas. Possivelmente, tenha sido meu primeiro contato com a perda. Anos mais tarde, percebi que essa é apenas uma das circunstâncias que vamos nos acostumando ao longo da vida. Amadurecer tem disso: os aprendizados são constantes, mas, às vezes, vão ficando mais leves e previsíveis.
Dia desses, filosofando sobre relacionamentos com minha prima Mariana, que vive além-mar em Lisboa, ouvi uma frase que logo imaginei dar uma crônica, por conta da carga dramática nela contida. E isso que Sandy e Lucas nem tinham anunciado a separação — ou, como bem lembrou Ciro na nossa reunião de pauta, sete separações de famosos anunciadas apenas nos últimos tempos —, estávamos somente ponderando sobre relações mais ou menos duradouras e opções que precisam ser feitas a todo momento para que elas se mantenham, no caso de quem opta pela continuidade. Ou na convicção de quem escolhe seguir outro caminho em busca de uma nova forma de encontrar a si mesma.
Mana, que é como me refiro à Mariana, falava de que sempre parece haver uma espécie de falta em toda e qualquer história de amor. É a tal da máxima “escolher é renunciar”. Quem leu A parte que falta, aquele livrinho fofo de Shel Silverstein escrito em 1976, que fez sucesso anos atrás depois da Jout Jout falar dele, vai me entender melhor. Para quem não leu, trago uma pequena síntese: ele fala, de forma lúdica, sobre como temos dificuldades em lidar com a falta. Apesar de ser indicado para crianças, estimula qualquer adulto a uma reflexão sobre a própria envergadura emocional. Muitas vezes, passamos a vida em busca daquilo que não temos — e nunca teremos. Porque o básico da existência é perceber que tudo o que precisamos já está em nós. Sem esse entendimento, nenhuma companhia é ou será suficiente. A pessoa que consegue ser feliz sozinha conseguirá ser feliz acompanhada, por óbvio.
Ainda assim, haverá sempre algum desconforto, alguma desconfiança de que talvez não estejamos traçando o melhor caminho —e isso independe do caminho em si. Voltando à conversa que tive com a Mana, fiquei reflexiva no apontamento que ela trouxe ao falar sobre uma situação particular:
— A pessoa que se diz completa só é alguém mais resiliente às faltas. E nem todo mundo é, nem precisa ser. O segredo é encontrar o balanço.
Não é uma premissa maravilhosa? A forma como encaramos o mundo, as histórias, as interações, os relacionamentos são um reflexo de quem somos e como decidimos nos colocar nos lugares. E, obviamente, não existe uma regra ou uma bula para que isso ocorra da forma correta. Até porque ela não existe. O segredo é tentar encontrar pessoas que conheçam as próprias nuances e deixem espaços para que a gente possa entrar, interagir e, com sorte, ficar — se essa for a escolha.