Tem uma frase ótima do padre Antônio Vieira que diz “Somos o que fazemos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos: nos outros apenas duramos”. Tenho andado mais reflexiva do que o normal acerca de questões existenciais, de pertencimento e da forma com que as pessoas costumam se relacionar umas com as outras. Evoco o trecho do padre depois de ler o texto da Katy, amiga querida, falando sobre o poder das escolhas e como são elas que nos definem. Sou uma defensora ferrenha de que precisamos nos implicar, nos importar, nos conhecer e fazer o que estiver ao nosso alcance para nos tornarmos quem queremos, podemos ou devemos ser. Como? Enfrentando medos, expondo vulnerabilidades, escolhendo.
Tenho a convicção de que poucas coisas maravilhosas acontecem ao acaso nas nossas vidas — na maior parte das vezes, precisamos estar atentas e ir em busca delas. Precisamos ter força e coragem de dizer sim. De dizer não. De deixar para trás. De seguir em frente. De saber levantar. De se reconstruir quantas vezes forem necessárias. E de sentir aquele calorzinho no coração que vem com a certeza de que estamos em busca do melhor de nós. É demais viver a plenitude de quem apostou em si e venceu. Acreditem em mim.
Eu, por mais que seja uma pessoa determinada a não terceirizar decisões — a não ser as corporativas e necessárias — me pego pensando em algumas situações como se as escolhas não fossem possíveis. Ainda bem que o estoicismo existe (risos!). Sei que nem devo tomar minha percepção como verdade universal, ela só existe a partir do meu lugar de fala, mas o texto da minha amiga me trouxe de volta para uma realidade em que escolher é viver. Ou vice-versa. Não existe outro jeito possível ou, se existir, não parece fazer o menor sentido.
Vou de carro ou a pé? Levo um casaco ou não? Viajo para a praia ou para a cidade? Peço vinho tinto ou rosé? Aceito o convite para palestrar ou não? Falo o que penso ou fico quieta? Termino o relacionamento ou tento mais uma vez? Deixo para lá ou pago para ver? As decisões precisam ser tomadas o tempo inteiro, das situações mais prosaicas às mais definitivas. Se estivermos treinados, elas acontecem com mais naturalidade.
Não tem jeito: não escolher é também escolher. E parece mais fácil deixar aos outros que tomem as decisões por nós. Aconteça o que acontecer, não precisaremos responder por elas. Teremos alguém para culpar por nosso infortúnio — porque obviamente essa culpa só aparece quando algo dá errado. Parece bem mais fácil, mas no final das contas, é só anestesiante.
Ao afastarmos essa terceirização, evocamos a autorresponsabilidade. Isso dá força e provoca algo maravilhoso, que se não fosse a vida real poderia ser uma epifania: escolher é ter poder sobre si mesmo. E não tem nada que traga mais paz de espírito do que isso.