Achei a maior graça da Ivete Sangalo contando, em uma entrevista, que se nega a chorar sozinha. Se for para chorar, diz, precisa ter alguém vendo, senão nem vale a pena. Começa de leve, para ver se chama atenção, e vai aumentando a intensidade conforme houver alguma aproximação/comoção. Achei a afirmação tão metafórica, um pouco do que estamos vivendo.
Dia atrás, vi um antigo colega postando muitas fotos de férias em família à beira do Mediterrâneo. As imagens alternavam-se entre o clã mergulhando num mar azul turquesa, da “farofada” regada a trufas (fungos, não chocolates) e vinho Chianti ou dos passeios pelas vilas medievais. Apesar de bem bonitas, traziam um quê de “preciso ostentar minha felicidade”, porque nunca eram imagens singelas — era tudo muito bem pensado e elaborado para transmitir essa sensação.
Às vezes, penso que estamos perdendo a espontaneidade. Adoro fotografar poses aleatórias das pessoas ao meu redor — minha irmã fica furiosa. Mas quero me lembrar das pessoas e das situações exatamente como elas são: descabeladas, imperfeitas, sorridentes, barulhentas. Adoro fazer foto de quem está se arrumando para fazer uma selfie e revelar o bastidor por trás daquilo que vemos. Porque, no fim das contas, são esses momentos imperfeitos e sem filtros que dizem muito mais sobre quem somos — só tentamos esconder aquilo que de mais humanos temos.
Brinco que é isso que a maioria das pessoas faz nas redes, independentemente da conta bancária. Vejo pessoas mostrando um pote de queijo lanche picado e uma taça de vinho na sacada, com a frase “é para isso que eu trabalho”. Exatamente da mesma forma que aquele que está tomando café da manhã no Hotel Plaza Athénée, em Paris. São só cifrões que separam os dois universos, a intenção é exatamente a mesma: validar o que se tem.
Por outro lado, quem não experenciou momentos incríveis com tamanha intensidade que esqueceu de registrá-los — justamente porque estava desfrutando-os? Imagino que todos tenham alguns amigos sem fotos atualizadas, porque o tempo fica suspenso quando se encontram — e nada mais importa do que viver aquela companhia no momento presente. Aí nem precisa mostrar para ninguém, porque o coração fica tão preenchido que nem necessita de curtidas.
Só bailarinas fora do palco e corredores experientes revelam ao mundo as bolhas nos pés.